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Fleischer, da UnB: Para Alckmin, é o momento do tudo ou nada

Sem Luciano Huck, tucano precisa se mostrar viável para não perder eleitores de centro para outro outsider ou um apadrinhado de Temer

DAVID FLEISCHER: a judicialização do processo de impeachment será inevitável (foto/Divulgação)

DAVID FLEISCHER: a judicialização do processo de impeachment será inevitável (foto/Divulgação)

Raphael Martins

Raphael Martins

Publicado em 29 de novembro de 2017 às 19h19.

Última atualização em 29 de novembro de 2017 às 19h27.

Descartado das eleições de 2018, o apresentador Luciano Huck deixa livres de 5% a 8% das intenções de voto, segundo a última pesquisa Ibope, de outubro. O movimento acompanha o enfraquecimento de outro dos outsiders, o prefeito João Doria (PSDB), que na mesma pesquisa tem 5%, mas perde força a cada sondagem. Em teoria, seriam pontos preciosos para uma coligação de centro, em que Geraldo Alckmin (PSDB) seria o nome mais forte hoje. A prática, contudo, é diferente.

Chamuscado pela falta de carisma e pelo rosto carimbado pelos anos de política, os pontos podem se esvair para o nulo ou buscar outro nome de fora do mainstream político. Nome este, indefinido por hora. “a próxima pesquisa Datafolha deve sair em dezembro. Será a hora de ver se Alckmin ganha corpo sem Huck e sem Doria”, diz o cientista político e professor da Universidade de Brasília David Fleischer. “Será a chance de ver se ele é viável para compor a aliança de centro ou morre na praia”.

Em entrevista a EXAME, o acadêmico explica os próximos passos da corrida eleitoral e as consequências do derretimento dos outsiders colocados para a campanha de 2018. Veja abaixo os melhores trechos da conversa.

A saída de Luciano Huck da disputa presidencial tira mais um outsider da eleição em um cenário teoricamente favorável aos que vem de fora do mainstream. Por que isso acontece?

Entre Doria e Huck são razões diferentes para se retirar. Huck ficou temeroso em desgastar sua imagem agora. Perder a globo é complicado, a emissora foi muito dura em ameaçar isolá-lo. O casal deve ter ponderado que seria muito arriscado. O salário dos dois é fantástico. Doria percebeu a força do Alckmin, principalmente dentro do partido. Alckmin se tornou salvador da pátria para o PSDB, que estava muito rachado. Doria ainda pensa em ser candidato a governador, mas há concorrentes fortes no partido, como José Serra. Mas pode pintar outro outsider que nem se cogita. A política é sempre cheia de surpresas. Se Lula for escanteado — e tudo indica que o TRF-4 vai manter a condenação —, a eleição fica de pernas para o ar. Nesse contexto, com uma leitura melhor, deve haver entradas de novos nomes. Bolsonaro é o único que está firme. Tanto que Alckmin sinalizou a criação do ministério da Segurança Pública, uma forma de tirar votos de Bolsonaro. Ainda tem alguns fatos no futuro próximo que vão desenhar melhor o que vai acontecer. É chato porque não dá para antecipar com os parâmetros que temos. Pode vir alguém novo, endinheirado, e que tem até março para escolher um partido. É o marco zero para um outsider. É um prazo mais curto, mas possível.

É possível formar uma liderança política com potência até março?

Sim, mas é complicado. Em 1989, faltando um mês para a eleição entrou o Silvio Santos. Foi um barulho enorme. Com todo o potencial midiático, com propaganda de TV muito melhor que o de Collor virou uma campanha assustadora. Subiu tanto nas pesquisas que superou o Collor. Acharam um jeitinho de tirar ele. Mas é o exemplo de um outsider que entrou com dinheiro e força de mídia. Silvio era uma personagem muito conhecida. Ainda é, mas era mais que hoje, então decolou muito rapidamente. Não sei se é possível repetir um Silvio Santos, mas conforme as condições e, principalmente, descrença que o eleitorado tem com a classe política tradicional, um outsider com rosto novo, com apoio midiático e dinheiro, poderia decolar da mesma forma. O próprio Enéas Carneiro, em 1994, foi terceiro lugar. Não chegou ao segundo turno, mas foi outro desempenho assustador. Bateu Quércia em São Paulo e Leonel Brizola no Rio, mesmo com pouquíssimo tempo de TV.

Mas há pontos em comum entre essas eleições e agora?

Em 1989 e 1994, a novidade era ter eleição. O ódio com a classe política é mais recente. O ponto é que caras novas, ficha limpa e endinheirados podem surpreender. É o caso do João Amoêdo, do Partido Novo.

A onda dos outsiders ainda é forte? No Chile, por exemplo, Piñera lidera. Angela Merkel segue firma. Trump e Macron não foram ponto fora da curva?

Não. O Chile pode ter uma virada no segundo turno. Merkel perdeu algum apoio, mas as alianças estão se refazendo em torno do poder — melhor governar junto que ficar de fora. Mas é um país com economia ajeitada. É outra realidade. Nosso eleitorado está cansado das velhas caras da política, assim como estava o eleitorado francês. A diferença é que, por enquanto, Macron preencheu muito bem esse espaço, com técnica estupenda de campanha. O eleitorado brasileiro está na mesma página, mas não há um nome de convergência.

A falta de nomes é por conta de um ambiente que se tornou tão corrosivo que não querem botar a cara?

Temos partidos muito fracos e sem programa. Então, ninguém se adianta em entrar na política pela forma de pensar, pelas ideias. Como a eleição tende a ser personalista, o cara que é interessado em entrar na política pode estar esperando para ver a melhor estratégia de entrada. É um momento de avaliação do custo-benefício, esperar para ver a tramitação da reforma da Previdência para entender como se posicionar nessa agenda, se terão ou não Lula como oponente, etc. É entender que país terá na mão. Quando esses episódios forem se resolvendo, será a hora de fazer o último filtro. É a mesma lógica de atuação dos investidores.

Com a rejeição à política, o que acontece se os nomes do mainstream forem os consolidados para 2018?

A questão chave é uma só: vai depender se alguém consegue costurar boa coligação de centro e apoio de políticos centristas. O novo programa do PSDB diz que a tendência é um perfil de centro-esquerda. O DEM tenta compor na centro-direita. A Marina e a Rede estão perdidos, não vejo alianças possíveis para ocupar o espaço. Ciro Gomes não sabe se vai com Lula ou não. Álvaro Dias não deve ter força, é uma boa aposentar. Se ninguém conseguir, favorecem os extremos, com Lula que caminha para a esquerda e Bolsonaro na direita.

Quando a eleição vai se tornar minimamente previsível?

Creio que o fiel da balança é a resolução do caso do tríplex de Lula. O processo no TRF-4 deve ser resolvido em abril ou maio, até antes. Deve ser o ponto de encruzilhada, em que se define quem disputa ou não e em que espectros políticos. Outro ponto de atenção que está mais próximo: a próxima pesquisa Datafolha deve sair em dezembro. Será a hora de ver se Alckmin ganha corpo sem Huck e sem Doria. Será a chance de ver se ele é viável para compor a aliança de centro ou morre na praia.

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