Os caminhões estão envolvidos em mais da metade das ocorrências com vítimas fatais nas rodovias federais. (Rodolfo Buhrer/Reuters)
Colaboradora
Publicado em 31 de outubro de 2025 às 15h46.
O Brasil perdeu 1,2 milhão de motoristas de caminhão habilitados entre 2015 e 2025, uma queda de 22% no período, segundo dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) analisados pela consultoria de logística ILOS.
Em 2015, o país contava com 5,6 milhões de condutores nas categorias C e E, número que caiu para 4,4 milhões em 2025. A redução é ainda mais chamativa quando se considera que, no mesmo período, a frota de caminhões cresceu 50%, passando de 5,3 milhões para 8 milhões de veículos.
Além da queda no número de habilitados, outro ponto importante traz alerta para a profissão. Mais da metade dos caminhoneiros (54%) pretende deixar a estrada, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Transporte Autônomo (CNTA) realizada em 2024.
A falta de reposição de profissionais se reflete diretamente no perfil etário da categoria. Segundo o levantamento, a idade média dos caminhoneiros subiu de 38 anos em 2014 para 46 anos atualmente, um aumento de oito anos em apenas uma década.
O perfil típico do caminhoneiro brasileiro revela os desafios da profissão:
Esse envelhecimento sem entrada de novos profissionais cria um risco de "apagão logístico" no país, já que não há mão de obra suficiente para repor os que estão saindo.
Um dos principais motivos para o desinteresse pela profissão está na remuneração. Os motoristas contratados via CLT têm uma mediana salarial de R$ 3.120, praticamente estagnada. Metade recebe entre R$ 2.562 e R$ 4.020, e apenas 10% ganha mais de R$ 5.136.
Os autônomos, por sua vez, recebem em média R$ 39,50 por hora, o que representa uma renda bruta mensal de cerca de R$ 10 mil. Entretanto, esse valor é reduzido após dedução de custos operacionais como combustível, pedágio e manutenção.
Além da questão salarial, as condições de trabalho são outro fator determinante. Muitos profissionais relatam ausência de pontos de descanso adequados e falta de segurança nas estradas, problemas agravados pela jornada excessiva de 12 horas diárias.
As dificuldades enfrentadas pelos caminhoneiros se agravam diante de uma infraestrutura estagnada. Os números revelam a contradição:
Nesse sentido, as condições precárias das estradas são pontos que se relacionam com os acidentes graves. Segundo os dados, os caminhões estão envolvidos em mais da metade das ocorrências com vítimas fatais nas rodovias federais.