O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: "essa corrupção não é uma senhora idosa, é uma mocinha, um bebê quase" (REUTERS/Paulo Whitaker)
Da Redação
Publicado em 23 de março de 2015 às 18h18.
São Paulo - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) questionou nesta segunda-feira, 23, declaração do ex-ministro da Controladoria-Geral da União (CGU) Jorge Hage, segundo a qual somente um "cego, surdo e mudo" pode acreditar que a corrupção no Brasil é uma novidade.
Dias antes, o tucano, em resposta à afirmação da presidente Dilma Rousseff (PT) de que a corrupção é uma "senhora idosa" no País - feita logo depois das manifestações de 15 de março contra o governo -, havia dito que o caso de corrupção na Petrobras traz algo novo em termos de corrupção.
"Essa corrupção não é uma senhora idosa, é uma mocinha, um bebê quase", disse o ex-presidente tucano.
"Quem afirmar que a corrupção é um bebê, certamente estava de olhos fechados ou fazendo papel de cego, surdo e mudo até agora. Porque até as pedras da rua sabem que a corrupção existe desde que existe a humanidade e, no Brasil, existe desde Pedro Álvares Cabral. Agora, se alguém fazia questão de até pouco tempo não enxergá-la, não investigá-la, não trazê-la para a superfície e mantê-la debaixo do tapete, aí realmente pode dizer que ela nasceu agora e é um bebê", disse ao jornal O Estado de S. Paulo o ex-ministro Jorge Hage, que entre 2006 e 2014 comandou a CGU, órgão do governo federal encarregado de investigar denúncias de corrupção.
Hage avaliou que não se pode afirmar que o escândalo de corrupção na Petrobras revelado pela Operação Lava Jato é o maior caso de desvios de dinheiro público da história do País mas é, certamente, o maior esquema já investigado e punido.
"Eu disse, referindo-me ao petrolão (esquema de corrupção na Petrobras sob investigação), ser uma forma de corrupção específica e recente, quase um bebê. Além de ser o maior escândalo já apurado, como disse o ex-ministro, trata-se da articulação de uma rede que incluiu diretores e funcionários da Petrobras, nomeados e sustentados pelo governo, vinculando empresas privadas e partidos, com fins de locupletação pessoal, mas também de financiamento a partidos políticos", afirmou FHC. Ainda segundo o ex-presidente, o caso na estatal petroleira "encontra antecedentes no mensalão, mas é bem distinto da forma usual de corrupção pessoal, que também merece repúdio".
"A ironia quanto a que qualquer cego vê que sempre houve corrupção no País, como pretende o ex-ministro, encobre a gravidade e a especificidade do petrolão, como se fosse um caso banal, o que provavelmente não é o propósito dele", criticou FHC.