Copom não pode carregar sozinho o peso do controle inflacionário, diz economista da FGV (Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 19 de janeiro de 2011 às 20h26.
São Paulo - Apesar de ajudar a conter o avanço da inflação, a decisão do Banco Central (BC) em elevar a Selic a 11,25% ao ano traz ao governo uma preocupação quase imediata. A rentabilidade que os juros no país oferecem atrai um grande volume de investimentos estrangeiros e pressiona a valorização do real.
"Este é o problema de deixar o controle da inflação apenas a cargo da autoridade monetária. A solução seria o governo fazer um ajuste fiscal forte, conter seus gastos, tirando o peso das costas do BC", diz o economista Rogério Mori, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Mori explica que a combinação entre uma política monetária de retração e uma situação fiscal frouxa trará riscos para o país. "Isto vem acontecendo desde 2003. O real tem ganhado valor e deve continuar assim, prejudicando a competitividade do país." Entretanto, apesar dos efeitos pouco desejados, segundo o economista, a alta era necessária, e certamente foi a primeira de uma série.
Para o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Oliveira, as próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) trarão novas altas de, no mínimo, 0,5 ponto percentual. "Quando o BC decide promover altas mais fortes dos juros, de até dois pontos percentuais, geralmente o faz em intervalos de meio em meio ponto", diz.
Efeitos
De acordo com Oliveira, o consumidor não vai sentir no bolso os efeitos da alta da Selic. "O efeito prático é pequeno e nem é certeza que seja repassado. Ele diz que a situação financeira saudável dos bancos, somada à queda na inadimplência do consumidor, contribui para que boa parte da alta dos juros seja absorvida pelas próprias instituições que concedem crédito.
"Além disso, por hora, o consumidor não vai parar de comprar. Ele geralmente considera se a prestação cabe no bolso, e não os juros que vai pagar. Logo, mesmo com o aumento da Selic, a situação não muda muito."