Brasil

Feminicídio: quatro mulheres são assassinadas por dia no Brasil

Em 2024, o Brasil registrou o maior número de feminicídios desde 2015, com um aumento de 19% nas tentativas de homicídios

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 24 de julho de 2025 às 10h01.

Em 2024, o Brasil registrou 1.492 vítimas de feminicídio, o que equivale a quatro mulheres assassinadas por dia devido à violência de gênero.

Este é o maior número desde 2015, quando a legislação que tipificou o crime entrou em vigor. Além disso, a taxa de feminicídios por 100 mil habitantes foi de 1,4, um aumento de 0,7% em relação ao ano anterior, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira, 24.

O feminicídio ocorre quando uma mulher é assassinada no contexto de violência doméstica e familiar ou em razão de discriminação à sua condição de mulher.

Desde a inclusão do feminicídio como forma qualificada de homicídio em 2015, a legislação tem procurado combater a violência de gênero, mas os números continuam alarmantes, com um aumento significativo também nas tentativas de feminicídio.

O aumento das tentativas de feminicídio

Em 2024, o Brasil registrou 3.870 tentativas de feminicídio, ou cerca de 10 por dia. Esse número representa um aumento de 19% em relação ao ano anterior.

As tentativas de homicídio doloso de mulheres também subiram, bem como o descumprimento de medidas protetivas de urgência, violência psicológica e perseguição.

Os dados indicam um agravamento da situação de violência contra a mulher no país, em um contexto no qual os crimes de gênero continuam a crescer, mesmo com esforços legais e sociais para combatê-los.

A rede de proteção falha na prevenção

Apesar do aumento das notificações de violência doméstica, a rede de proteção estatal se mostrou insuficiente para impedir esses crimes. Em 2023 e 2024, 121 mulheres com medidas protetivas ativas contra seus agressores foram mortas, destacando a falha na fiscalização e cumprimento dessas medidas. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública alerta para a ineficiência do sistema, que muitas vezes age de forma reativa, apenas após o crime ocorrer.

Samira Bueno, diretora executiva do Fórum, enfatiza que o Estado precisa melhorar a fiscalização das medidas protetivas. "A eficácia dessas medidas depende de uma atuação mais assertiva da polícia, incluindo patrulhas específicas, como a Patrulha Maria da Penha, para garantir que o agressor saiba que, se desrespeitar a medida, será preso", comenta Samira.

O perfil das vítimas de feminicídio

O perfil das vítimas de feminicídio no Brasil continua a ser majoritariamente de mulheres negras (63,6%) e jovens entre 18 e 44 anos, que representam 70,5% dos casos. As vítimas, em sua maioria, foram mortas dentro de casa (64,3%), e a principal arma usada foi a faca (48,4%), seguida por armas de fogo (23,6%).

A pandemia de Covid-19 teve um impacto significativo na violência doméstica, com o isolamento social contribuindo para o aumento de casos de feminicídio e agressões dentro das casas. Muitos serviços de proteção à mulher foram descontinuados ou passaram a operar de forma restrita, o que agravou ainda mais a situação.

O impacto das mudanças políticas e sociais

Outro fator que contribuiu para o aumento da violência contra a mulher foi a ascensão de movimentos ultraconservadores na política brasileira e no cenário mundial. O extremismo, tanto virtual quanto real, tem incentivado uma cultura de misoginia e violência. Samira Bueno aponta que a radicalização de discursos de ódio nas redes sociais, como em plataformas que disseminam ideologias extremistas, também contribui para a violência contra mulheres, tanto online quanto no mundo físico.

[Grifar] O aumento do feminicídio no Brasil reflete uma série de falhas na proteção das mulheres, agravadas por fatores sociais e políticos.

Acompanhe tudo sobre:FeminicídiosSegurança públicaBrasil

Mais de Brasil

Não é só Bolsonaro: 13,5% das prisões do Brasil são domiciliares com uso de tornozeleira eletrônica

Quais são as 10 cidades mais violentas do Brasil? Veja ranking

Quais são as 10 estados mais violentos do Brasil? Veja ranking

'Se ele estiver trucando, vai tomar um seis', diz Lula sobre tarifa de Trump