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'Faxina' de Dilma está longe de terminar

Incompleta, limpeza só ocorreu na cúpula do Ministério dos Transportes e no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes

A presidente Dilma Rousseff: faxina incompleta nos setores do governo envolvidos em corrupção, irregularidades diversas e mau uso do dinheiro público (Pedro Ladeira/AFP)

A presidente Dilma Rousseff: faxina incompleta nos setores do governo envolvidos em corrupção, irregularidades diversas e mau uso do dinheiro público (Pedro Ladeira/AFP)

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Da Redação

Publicado em 13 de setembro de 2012 às 18h44.

Brasília - Mesmo com o apoio da população, que chegou a ir às ruas para aplaudi-la no dia 7 de Setembro, em Brasília, e na semana passada, no Rio de Janeiro, a presidente Dilma Rousseff fez uma faxina incompleta nos setores do governo envolvidos em corrupção, irregularidades diversas e mau uso do dinheiro público. A limpeza só ocorreu na cúpula do Ministério dos Transportes e no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

Na Valec, a estatal responsável pela construção das grandes ferrovias previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como a Norte-Sul e a Oeste-Leste, foi afastado só o presidente José Francisco das Neves, o Juquinha. Ele saiu no rastro do escândalo que abalou o Ministério dos Transportes, no início de julho. Investigações aa Controladoria-Geral da União (CGU) indicaram desvios de R$ 279,7 milhões na Valec.

Juquinha foi substituído interinamente por Felipe Sanchez da Costa, diretor da Valec, mas segundo informações de dentro da estatal quem manda mesmo na empresa é Luiz Carlos Oliveira Machado, diretor de Engenharia, um protegido do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A Ferrovia Norte-Sul, uma das principais obras da Valec, foi iniciada no governo de Sarney (1985-1990) e nasceu envolvida em escândalos. Na época, descobriu-se que a licitação havia sido dirigida e os vencedores já eram conhecidos havia meses.

Acampado. Como se considera o pai da Ferrovia Norte-Sul, o presidente do Senado nunca desencarnou dela. Em 1989, ainda presidente da República, Sarney fez uma visita ao canteiro de obras da Norte-Sul de Açailândia (550 quilômetros ao sul de São Luís). Vivia um momento difícil e enfrentava uma Comissão Parlamentar de Inquérito que investigava corrupção em seu governo. Prometeu que nos governos subsequentes acamparia nos trilhos até que a ferrovia fosse concluída.

Sarney não precisou fazer nada disso. Mudou seu domicílio eleitoral para o Amapá e voltou ao Congresso. Em 2002 aliou-se ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, outrora um adversário da Norte-Sul, e defensor dela depois de assumir o mandato. Para não correr riscos, Sarney passou a influir na indicação dos diretores da Valec. A obra está atrasada, como ocorre com todas as de tamanha grandeza e valor - seus custos já estão em mais de R$ 5 bilhões. Mas deverá ser inaugurada integralmente durante o governo de Dilma Rousseff.

Na quinta-feira a Subcomissão das Obras do PAC da Câmara esteve em Palmas e Gurupi, no Tocantins, para visitar dois trechos da Ferrovia Norte-Sul, onde teria havido desvios de R$ 84 milhões, de acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU). "É uma coisa complicada, porque 85% dos serviços já foram feitos. Desmanchar não dá. Temos é de ver se conseguimos reduzir os preços", afirmou o presidente da subcomissão, deputado Carlos Brandão (PSDB-MA), que comandou a visita dos parlamentares.


Só promessas. Na limpeza prometida por Dilma um dos alvos foi a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Trata-se de um órgão com orçamento de investimentos anuais de R$ 2,9 bilhões, presente em todos os Estados brasileiros, fundamental para a formação de estoques reguladores de alimentos. É também uma das estatais mais loteadas pelos partidos da base. Foi dividida entre PTB, PMDB e PT. É lá também que deputados e senadores costumam pôr alguns de seus filhos e netos.

Mas a faxina na Conab ficou só na promessa da presidente. Do escândalo na Agricultura que derrubou o ministro Wagner Rossi e o secretário executivo Milton Ortolan até agora, saíram apenas dois dirigentes da Conab. Assim mesmo, um deles - Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) - por brigas internas e desentendimentos com o ex-ministro Rossi.

O único sacrificado de fato foi Rômulo Gonçalves, diretor jurídico, que deu lugar a Rui Magalhães Piscitelli, interventor buscado por Dilma na Advocacia-Geral da União (AGU). Piscitelli foi levado para a estatal ainda durante a gestão de Rossi. Como não houve a substituição de Jucá Neto, até hoje a Conab está sem diretor financeiro.

Desde abril a Conab tem como presidente Evangevaldo Moreira dos Santos, protegido do líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO). De acordo com informação de parlamentares da base governista, Jovair Arantes teria retirado a candidatura a ministro do TCU, e apoiado a deputada Ana Arraes (PSB-PE), defendida pelo governo, numa troca para manter seu apadrinhado na Conab.

Além de Evangevaldo, permanecem na estatal outros diretores que, pelas promessas da presidente da República, deveriam ter saído, como Marcelo Melo, diretor de Operações, indicado pelo PMDB; Rogério Abdala, diretor de Administração, do PMDB; e Sílvio Porto, diretor de Política Agrícola, nome do PT na Conab.

Também continuam por lá Rodrigo Calheiros, filho do senador Renan Calheiros (AL), líder do PMDB; Adriano Quércia, assessor de programas da Conab, neto do governador Orestes Quércia; Matheus Benevides, coordenador de acompanhamento de ações orçamentárias, neto do deputado Mauro Benevides (PMDB-CE); e Mônica Infante Azambuja, assessora da diretoria da Conab, ex-mulher do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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