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Favelas pacificadas vivem explosão imobiliária e comercial

Livres do tráfico, comunidades próximas às regiões nobres do Rio de Janeiro têm área valorizada

Os preços de compra, venda e de aluguéis já superam em muitos casos os preços de bairros tradicionais da cidade (Divulgação)

Os preços de compra, venda e de aluguéis já superam em muitos casos os preços de bairros tradicionais da cidade (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2012 às 20h29.

Rio de Janeiro - As comunidades próximas às regiões nobres do Rio de Janeiro vivem uma explosão imobiliária e comercial desde que as autoridades expulsaram os traficantes ou retiraram deles o controle dos bairros.

Rocinha e Vidigal, vizinhas de bairros como Leblon, Gávea e São Conrado, são o exemplo deste desenvolvimento, constatado por um estudo do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social publicado em março, que mostra como os comércios locais aumentaram suas vendas em 26% desde que a Polícia se instalou na região.

As pacificações destes bairros fez florescer o mercado imobiliário. Os preços de compra, venda e de aluguéis já superam em muitos casos os preços de bairros tradicionais da cidade.

Tudo começou no final de 2008, quando o Governo do estado começou uma campanha de 'reconquista' de territórios até então dominados por traficantes que aproveitaram o abandono do Estado durante décadas para operar livremente nessas áreas.

O arquiteto Hélio Pellegrino, por exemplo, comprou um terreno no Vidigal, que faz divisa com o Leblon, um dos bairros com o metro quadrado mais caro de toda a América do Sul, quando os traficantes ainda ostentavam o comando confortavelmente.

'Uma casa que antes custava R$ 50 mil agora custa mais de R$ 250 mil', disse Pellegrino à Agência Efe. Este arquiteto está construindo um pequeno hotel de 11 quartos que terão vista privilegiada para o mar e para a praia de Ipanema.

Vidigal é disseminada pela encosta de uma montanha, por isso que muitos de seus humildes habitantes têm uma vista que seria desejável até pelos que pagam aluguéis estratosféricos em qualquer outro ponto da cidade.

A redução da violência relacionada com o narcotráfico ajudou a aumentar o valor dos edifícios em toda a cidade em mais de 15%, segundo um estudo realizado pelo International Growth Centre.

'As favelas já são o único espaço para fazer um bairro sustentável, as casas destas comunidades são o organismo arquitetônico mais vivo que já vi', explica Pellegrino.

Tão vivos que as instalações elétricas das casas ainda são emaranhados de cabos indecifráveis até para o técnico mais esperto.


Maria Edilene, que administra uma pequena mercearia e serve sucos tropicais no balcão de sua própria casa, também sente a melhora na região desde que a UPP chegou ao Vidigal em janeiro, dois meses depois de policiais e militares ocuparem o território.

'Antes os turistas não vinham por medo, agora passam por aqui para subir o morro Dois Irmãos. Além disso, a Prefeitura fez obras que eram necessárias', afirmou à Efe.

Um casal de agentes da Polícia Militar que percorre o bairro afirmou à Efe que o Vidigal 'é a favela mais tranquila do Rio'. Desde que chegaram, não tiveram que intervir em nada mais que 'brigas matrimoniais e algumas discussões de bêbados', acrescentam.

A vida no Vidigal, assim como na vizinha Rocinha, é efervescente, com milhares de pessoas que sobem e descem suas estreitas e íngremes ruas cheias de pequenos comércios de roupas e comida.

Seus caminhos são tão estreitos que o transporte mais usado para subir para casa com as compras são os 'moto-táxis', que percorrem por menos de um dólar em um instante vielas que lembram os centros históricos das cidades medievais europeias.

Um exemplo do aumento de viajantes e turistas na região é o hotel 'Casa Alto Vidigal' que quando abriu, há um ano, quase não tinha hóspedes, segundo explicou Tomás, um austríaco encarregado da administração, que acrescenta que agora é difícil conseguir uma cama ou um quarto livres.

Muitos dos que chegam a este hotel atraídos pelo baixo preço e pelas vistas espetaculares são turistas europeus, como Raphael, um alemão que visita o Rio pela segunda vez e afirma que da comunidade é possível ver uma cidade 'muito diferente'. 

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