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"Falta de pulso" de Bolsonaro para conter filho e Olavo preocupa militares

Alvo mais recente é o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, xingado por Olavo nas redes sociais

Bolsonaro: militares já se mostram apreensivos com o que definem como "falta de pulso" do presidente (Adriano Machado/Reuters)

Bolsonaro: militares já se mostram apreensivos com o que definem como "falta de pulso" do presidente (Adriano Machado/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de maio de 2019 às 12h05.

Brasília — Ex-comandante do Exército e atual assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Eduardo Villas Bôas entrou nesta segunda-feira, 6, em campo para acalmar a tropa, incomodada com as críticas do escritor Olavo de Carvalho aos militares. O alvo mais recente é o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, xingado por Olavo nas redes sociais.

"Ele (Olavo) passou do ponto, agindo com total desrespeito aos militares e às Forças Armadas", disse Villas Bôas ao jornal O Estado de S. Paulo. "Às vezes, ele me dá a impressão de ser uma pessoa doente, que se arvora com mandato para querer tutelar o país.". Antes, nas redes sociais, o general chamou Olavo de "verdadeiro Trotski de direita", sob o argumento de que ele age para "acentuar as divergências nacionais".

Mensagens trocadas em grupos de WhatsApp formados por militares - principalmente generais - também expuseram, nos últimos dias, o inconformismo da caserna com os ataques do guru ideológico do presidente Jair Bolsonaro às Forças Armadas. Os principais alvos de Olavo são Santos Cruz e o vice-presidente, general Hamilton Mourão, classificado pelo escritor como "charlatão desprezível".

Em uma das conversas de WhatsApp a que o Estado teve acesso, militares dizem que o escritor tem "planos bem concretos" para uma mudança do cenário político. "Os ataques sistemáticos e coordenados sobre os militares do governo Bolsonaro vão ao encontro deste objetivo, que é dividir a direita para criar a extrema-direita. Desde o ano passado, Olavo vem se reunindo com Steve Bannon, que é considerado o mentor do plano", escreveu um oficial, em referência ao ex-estrategista do presidente Donald Trump e um dos responsáveis pela retórica nacionalista que fez o republicano chegar à Casa Branca.

Nos bastidores, militares com assento no primeiro escalão já se mostram apreensivos com o que definem como "falta de pulso" de Bolsonaro para enquadrar os filhos e seu amigo escritor, que vive nos Estados Unidos. A portas fechadas, muitos dizem que a situação chegou "no limite" e só não deixam o governo com receio do que pode acontecer no País.

A gota d'água para a reação de Villas Bôas ocorreu no domingo, depois que Bolsonaro publicou post no Twitter dizendo que, em seu governo, "a chama da democracia será mantida sem qualquer regulamentação da mídia, aí incluídas as sociais". A mensagem foi interpretada como uma estocada contra Santos Cruz, que prega cautela no uso das redes sociais, para evitar distorções, e a melhoria da lei que disciplina o tema.

"Controlar a internet, Santos Cruz? Controlar a sua boca, seu m...", escreveu Olavo. No mesmo domingo, à noite, o ministro foi conversar com Bolsonaro, no Palácio da Alvorada. A reportagem apurou que ele expressou ali sua indignação e obteve a garantia de que isso não continuará assim.

Villas Bôas disse nesta segunda, no Twitter, que "o senhor Olavo de Carvalho" tem um "vazio existencial" e demonstra total falta de respeito e modéstia. "A escolha dos militares como alvo é compreensível por sua impotência diante da solidez dessas instituições e a incapacidade de compreender os valores e princípios que as sustentam."

Olavo publicou, em seguida, pelo menos 13 suítes sobre o assunto. No Facebook, o escritor postou vídeo no qual Villas Bôas elogia a escolha de Aldo Rebelo (ex-PCdoB e hoje no Solidariedade) para ministro da Defesa do governo Dilma Rousseff, em 2015, insinuando que o general está alinhado ao comunismo.

A queda de braço com os militares também reflete a disputa pelos rumos do governo. A Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), subordinada a Santos Cruz, está sob o comando do empresário Fábio Wajngarten, que conta com a simpatia de Olavo e do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente.

Bolsonaro participará nesta terça-feira de reunião administrativa no QG do Exército com comandantes das Forças Armadas e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva. Na semana passada, o presidente condecorou Olavo e Mourão com a Ordem do Rio Branco no grau de Grã-Cruz. Trata-se da mais alta homenagem diplomática, destinada a reconhecer "serviços ou méritos excepcionais" prestados ao País.

"Um time só"

Bolsonaro tratou como "coisas pequenas" o embate dentro do seu governo entre militares e seguidores do escritor Olavo de Carvalho. Segundo o presidente, não existem dois times opostos na administração federal.

"De acordo com a origem do problema, a melhor resposta é ficar quieto. Temos coisas muito mais importantes para discutir no Brasil. Aqueles que porventura não têm tato político estão pagando o preço junto à mídia", afirmou ele nesta segunda após ser questionado sobre o troca de ataques entre Olavo, guru do bolsonarismo, e o ministro Santos Cruz durante o fim de semana. "Não existe grupo de militares e de Olavo aqui. Somos um time só", afirmou Bolsonaro.

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