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Fábrica de vacina dá autonomia e soberania ao Brasil, diz Fundação Lemann

Oito empresas e fundações anunciaram a doação de 100 milhões de reais para equipar e financiar uma fábrica nacional de vacinas contra a covid-19

Vacinas: hoje, o país tem capacidade e expertise científicas para diluir, envazar e distribuir vacinas, mas não tem tecnologia suficiente para produzir o chamado ingrediente farmacêutico ativo (Acácio Pinheiro/Agência Brasília/Agência Brasil)

Vacinas: hoje, o país tem capacidade e expertise científicas para diluir, envazar e distribuir vacinas, mas não tem tecnologia suficiente para produzir o chamado ingrediente farmacêutico ativo (Acácio Pinheiro/Agência Brasília/Agência Brasil)

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Clara Cerioni

Publicado em 7 de agosto de 2020 às 19h42.

Última atualização em 7 de agosto de 2020 às 20h08.

A doação de 100 milhões de reais para equipar e financiar uma fábrica nacional de vacinas contra a covid-19, anunciada nesta sexta-feira, 7, por um consórcio de empresas e fundações vai dar autonomia e soberania ao Brasil para imunizar seus mais de 210 milhões de habitantes.

A avaliação é de Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann, uma das parceiras da iniciativa. Além da organização criada pelo bilionário Jorge Paulo Lemann, também participam Ambev, Americanas, Itaú Unibanco, Stone, Instituto Votorantim, Fundação Brava e a Behring Family Foundation.

Em entrevista à EXAME, Mizne diz que o consórcio formado pelo setor privado vai ser parceiro do setor público para atacar o desafio da disputa que se criará no mundo pelas vacinas contra o novo coronavírus. Garantirá ainda uma inovação para posteridade, já que o Brasil poderá começar a produzir imunizações 100% nacionais.

Hoje, o país tem capacidade e expertise científicas para diluir, envazar e distribuir vacinas, mas não tem tecnologia suficiente para produzir o chamado ingrediente farmacêutico ativo (IFA), que é a matéria-prima para a produção da imunização.

"Ficar dependente de importar o IFA significa que o Brasil ficaria na fila e disputaria com o mundo o reagente. A Fiocruz começar a produzir o IFA no Brasil nos dará autonomia", diz. Ele explica que o negócio fechado com a Fiocruz consiste na compra da tecnologia para garantir a capacidade de produção e na ampliação do laboratório da Fiocruz Bio-Manguinhos, no Rio de Janeiro.

"Tudo será feito pelo setor privado e depois doado para a Fiocruz. Isso vai reduzir em um terço o tempo de demora para que o projeto fique pronto", afirma, acrescentando que os processos de licitação, compra e contratação pelo setor público demandariam maior tempo para a entrega. O valor de 100 milhões de reais é o total de custo do negócio e a produção deve ser de 30 milhões de doses por mês.

Mizne avalia que não há preocupação se a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford com o laboratório farmacêutico britânico AstraZeneca, que será produzida pela Fiocruz, não funcionar. A fórmula ainda está em fases de testes, mas é considerada pela Organização Mundial da Saúde como uma das mais avançadas do mundo. "Adapta e produz outra", diz categoricamente.

Além da vacina de Oxford, está em teste também no Brasil a vacina do laboratório chinês, Sinovac Biotech, que está sendo testada pelo Instituto Butantan, em São Paulo. O executivo lembra também que o Brasil tem várias outras doenças ainda sem vacina, como dengue e zika e, eventualmente, tudo isso poderá ser exportado para América Latina. 

"Pelo tamanho, importância mundial e expertise científica que tem o Brasil, não podemos depender de outros países para trazer a vacina da covid-19. O mundo, de certa forma, conta com o Brasil para ser um polo de vacinas e isso ajuda o país a ter um lugar de soberania na capacidade de proteger sua população", finaliza.

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