Brasileiros aguardam em fila para receber segunda parcela do auxilio emergencial do governo durante a pandemia do novo coronavírus. (Bruna Prado/Getty Images)
Fabiane Stefano
Publicado em 2 de junho de 2021 às 20h07.
Última atualização em 2 de junho de 2021 às 21h04.
Apesar do crescimento acima do esperado da atividade econômica do Brasil no primeiro trimestre de 2021, o desemprego crescente no período e a leve queda do consumo das famílias nos três primeiros meses do ano sinalizam que o auxílio emergencial será um fator importante e com ainda mais peso para a popularidade do presidente neste ano, avalia o economista e fundador da empresa de pesquisa IDEIA Big Data, Maurício Moura.
Ao podcast EXAME Política, o analista traça o cenário que os índices da economia apontam: "Esses dados mostram que, dada a situação de consumo e emprego, na equação de popularidade, o auxílio passa a ser muito relevante. Inclusive no meio político isso já está sendo ventilado", afirmou (ouça abaixo na íntegra).
O desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil teve resultado melhor do que o esperado no primeiro trimestre do ano, com crescimento de 1,2%. O consumo das famílias, no entanto, não acompanhou a alta e caiu 0,1% no período.
Ao mesmo tempo, o desemprego no primeiro trimestre chegou ao recorde da série histórica iniciada em 2012 e passou a atingir 14,7 milhões de brasileiros ao final de março.
Para Moura, o cenário coloca uma pressão adicional no governo pela extensão da validade e eventual aumento do valor do auxílio emergencial. O analista lembra que a maioria das pessoas no início de maio já tinha a expectativa de que o auxílio fosse pago até dezembro.
Na pesquisa EXAME/Ideia divulgada no início do mês passado, apenas 18% da população achava que o auxílio terminaria em julho, como é previsto atualmente pelo governo.
"A questão do consumo reflete a situação econômica e coloca um peso a mais na responsabilidade do governo de vir com um auxílio emergencial de maior volume e maior período", afirma o economista.
O mesmo levantamento mostrou que cerca de 71% das pessoas que recebiam o auxílio emergencial na ocasião utilizavam o dinheiro para comprar comida. Em abril, a primeira parcela do recurso renovado neste ano foi liberado para 45 milhões de pessoas. Durante os três primeiros meses do ano, o pagamento do auxílio havia sido interrompido antes da renovação em valor menor, de 300 reais do que o pago no ano passado, que era de 600 reais.
O auxílio pode ser um fator de importância nos índices de popularidade do presidente Jair Bolsonaro, que enfrenta a maior rejeição e a aprovação mais baixa de seu governo desde o início de seu mandato. A última pesquisa EXAME/Ideia, divulgada no dia 21 de maio, apontou que a avaliação do governo Bolsonaro é de apenas 24% e a rejeição ao presidente, de 50%.
O economista aponta também para uma correlação entre uma parcela da população que forma parte importante da base de apoio de Bolsonaro e os dados econômicos do início do ano, que mostraram que a atividade da agropecuária foi a que mais cresceu no país, do ponto de vista da produção, com uma alta de 5,7%.
"Bolsonaro tem um bolsão de aprovação no Centro Oeste e regiões do interior do Brasil ligadas ao agronegócio", lembra Moura. "Esse é mais um dado de como a agropecuária continua puxando a economia brasileira mesmo em tempos complexos como o de pandemia. E obviamente, isso garante ao presidente uma aprovação nesses locais", avalia.
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