Redação Exame
Publicado em 21 de junho de 2025 às 18h31.
Última atualização em 21 de junho de 2025 às 18h33.
O acidente com um balão de ar quente, ocorrido em Praia Grande, Santa Catarina, resultou na morte de 8 pessoas e deixou 13 feridos, reacendendo o debate sobre a segurança na atividade de balonismo no Brasil.
A tragédia aconteceu neste sábado, 21, quando o balão pegou fogo em pleno voo. Imagens mostram passageiros pulando da cesta para tentar sobreviver, em um cenário de desespero amplamente compartilhado nas redes sociais . A cidade, conhecida como “Capadócia brasileira”, é um polo turístico da modalidade e recebe centenas de visitantes interessados em voos panorâmicos .
A atividade de voar balões no país é regulamentada pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), por meio do Regulamento Brasileiro da Aviação Civil (RBAC) nº 103. Segundo a norma, voos com balões livres tripulados devem ocorrer em condições visuais, durante o dia, e com contato visual constante com o solo.
Operadores devem estar cadastrados como aerodesportistas, e os balões precisam ter identificação visível e portar documentos como cadastro e apólice de seguro a bordo. É proibido voar sobre áreas densamente povoadas e aglomerações humanas, exatamente como ocorre em muitas regiões turísticas.
Contudo, o cumprimento das regras é falho em diversas operações comerciais. Há relatos de balões com documentação irregular, sem autorização de voo ou atuando em condições meteorológicas inadequadas. O próprio Ministério do Turismo informou, após o acidente em SC, que vai reunir entidades para aprimorar a regulamentação.
Durante o período de festas juninas, é comum o aumento da prática de soltar balões — inclusive os não tripulados, proibidos por lei.
Já o turismo com balões tripulados, embora legal, é considerado uma atividade de alto risco, e a responsabilidade pela segurança recai sobre o operador ou desportista.
As condições climáticas também influenciam nos acidentes. Voos realizados em ventos fortes, com instabilidade do tempo, ou durante alertas de proibição, elevam significativamente os riscos. O uso de maçaricos para aquecer o ar no interior da aeronave pode gerar incêndios por falha técnica, erro humano ou uso de combustível inadequado.
Casos de superlotação, falta de manutenção adequada e uso de equipamentos vencidos também surgem nas investigações de acidentes recentes, segundo a Confederação Brasileira de Balonismo (CBB). Em alguns deles, o número de passageiros ultrapassava o limite seguro, comprometendo a estabilidade do balão durante manobras de emergência.
Apesar de ser considerado uma experiência turística única, o voo de balão traz riscos significativos.
Em entrevista ao g1, Gustavo Cunha Mello, especialista em análise de risco, afirmou que, mesmo com bom planejamento, o balão segue à mercê da direção e da força dos ventos, o que dificulta qualquer correção de rota em caso de emergência. “O voo de balão é arriscado porque o controle é limitado ao eixo vertical. Você só consegue subir ou descer. O resto é com o vento”, disse ele.
Para Mello, é essencial adotar medidas técnicas preventivas: “É fundamental operar em áreas desocupadas, manter separação entre balões e ter um estudo meteorológico detalhado. Uma colisão ou descida forçada pode ser fatal.”
Luiz Del Vigna, diretor da Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta), disse em entrevista ao G1 que "o uso do balonismo como atração turística escapa da regulamentação clara". "Embora a prática seja desportiva, quando comercializada como serviço turístico, ela deve seguir normas previstas na Lei Geral do Turismo e no Código de Defesa do Consumidor", disse ele.
De acordo com Del Vigna, nesse contexto, as empresas que oferecem o passeio deveriam ter um sistema de gestão de segurança, algo que nem sempre é implementado na prática.
Para ambos os especialistas, o balonismo só poderá ser considerado uma atividade minimamente segura quando houver fiscalização efetiva, capacitação obrigatória dos operadores e padronização das práticas de segurança.