Aeroporto de Ubatuba: apesar de ter 940 metros de extensão total, apenas 560 metros estavam disponíveis para pousos (Google Earth)
Redação Exame
Publicado em 11 de janeiro de 2025 às 09h18.
Um avião modelo Cessna Citation 525 explodiu ao tentar pousar no aeroporto de Ubatuba, litoral norte de São Paulo, na manhã da última quinta-feira, 9.
O acidente, que deixou uma vítima e cinco feridos, foi causado por uma combinação de fatores meteorológicos adversos, limitações estruturais da pista e possíveis dificuldades técnicas durante a aterrissagem.
O pouso aconteceu sob condições climáticas consideradas "degradadas", com nuvens baixas, chuva e fenômenos de cisalhamento de ventos, caracterizado pela variação rápida na direção e intensidade do vento.
O meteorologista Humberto Barbosa, do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), afirmou que o cenário no momento do acidente foi influenciado por uma área de baixa pressão e uma circulação marítima que agravaram o clima.
"A aeronave enfrentou ventos em diferentes direções e velocidades, algo que comprometeu a estabilidade do pouso. As nuvens estavam muito baixas, reduzindo significativamente a visibilidade do piloto", explicou Barbosa, ao analisar imagens de satélite e dados de radiossonda.
Além disso, o aeroporto de Ubatuba não possui controle de tráfego aéreo, dificultando ainda mais a manobra do piloto, Paulo Sérgio Seghetto, de 55 anos, que morreu na explosão.
URGENTE: Imagem chocante mostra aeronave atravessando uma avenida e logo em seguida explodindo na praia em Ubatuba (SP).Ainda não tem informação sobre os passageiros ou vítimas em terra. pic.twitter.com/JpBrC5gYMD
— Lázaro Rosa 🇧🇷 (@lazarorosa25) January 9, 2025
Outro fator crítico foi a limitação da pista do aeroporto. Apesar de ter 940 metros de extensão total, apenas 560 metros estavam disponíveis para pousos no sentido escolhido pela aeronave.
O relatório do Departamento de Controle do Espaço Aéreo da Força Aérea Brasileira aponta que a área restante é inutilizável para manobras. O avião necessitava de pelo menos 789 metros para aterrissar com segurança.
"Essa escolha de pouso foi feita pelo piloto, conforme indicado pelo aeroporto. No entanto, as condições da pista e a chuva criaram um cenário adverso", informou a administradora Rede VOA, responsável pelo local.
Após a colisão com o alambrado do aeroporto, a aeronave atravessou uma avenida e parou na Praia do Cruzeiro em chamas. Passageiros e pessoas próximas mobilizaram esforços para salvar as vítimas.
Mireylle Fries, uma das passageiras, foi apontada como “heroína” por testemunhas, pois teria priorizado o resgate dos filhos, de 4 e 6 anos, mesmo gravemente ferida. Ela passou por cirurgia em estado grave, mas os familiares apresentavam quadro estável até o último boletim médico.
Além disso, Rosana Maria Alves Vieira, uma pedestre atingida por destroços, relatou o impacto psicológico do ocorrido. "A sensação é de que nasci de novo. Na hora da explosão, pensei que fosse morrer", disse a professora, que sofreu fraturas no pé e passará por cirurgia.
As causas do acidente estão sendo apuradas pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea Brasileira, e pelo Ministério Público de São Paulo. Equipamentos da aeronave foram enviados para perícia em Brasília.
Informações preliminares indicam que o piloto havia sido alertado sobre as condições meteorológicas desfavoráveis antes do voo. A aeronave estava regularizada, com capacidade para sete passageiros e dois motores a jato.
O acidente expõe a necessidade de melhorias na infraestrutura de aeroportos regionais e destaca os desafios enfrentados por pilotos em condições climáticas extremas.
(Com Agência O Globo)