Araraquara: cidade do interior de São Paulo foi uma das primeiras a adotar o lockdown. (Divulgação/Prefeitura de Araraquara Saúde/Agência Brasil)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 12 de março de 2021 às 12h01.
Última atualização em 12 de março de 2021 às 12h19.
O Brasil está no pior momento da pandemia de covid-19. Nesta semana, ultrapassou, pela primeira vez, a marca de 2.000 mortes registradas em 24 horas. Além disso, o atendimento de saúde está em colapso na maior parte das capitais. Com o objetivo de conter e diminuir a rápida transmissão do coronavírus, governos estaduais e municipais adotam medidas de restrição de circulação. O lockdown é apoiado por 53% dos brasileiros, 22% são contrários, e 19% não são nem a favor nem contra.
É o que mostra a mais recente pesquisa EXAME/IDEIA, projeto que une Exame Invest Pro, braço de análise de investimentos da EXAME, e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. O levantamento ouviu 1.200 pessoas entre os dias 8 e 10 de março. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Clique aqui para ler o relatório completo.
“Essa aprovação ao lockdown é reflexo do delicado momento de saúde pública que o país atravessa. Na Europa, por exemplo, essa aprovação passa dos 66%. No Brasil, os segmentos mais favoráveis são os mais velhos [57% de quem tem mais de 45 anos], o Norte [63%], e faixas mais altas de renda [60% dos que ganham mais de 5 salários mínimos]”, explica Maurício Moura, fundador do IDEIA.
O lockdown, de fato, nunca foi adotado no Brasil. Ele é caracterizado pelo impedimento de circulação total das pessoas, sendo só permitido o deslocamento em alguns horários específicos e com justificativas plausíveis. Também para de funcionar qualquer tipo de atividade não considerada estritamente essencial. O modelo de confinamento foi amplamente adotado na Europa e na China durante os picos de casos, mortes e de internações.
O mais perto que o Brasil chegou disso é o que foi adotado por alguns estados, como Amazonas, e o Distrito Federal, e em cidades do interior de São Paulo, a exemplo de Araraquara. O estado de São Paulo entra em uma nova fase da quarentena a partir da próxima segunda-feira, 15. Além de só permitir a abertura de serviços essenciais, há um toque de recolher no período noturno, e o teletrabalho é obrigatório para serviços administrativos.
E é justamente por fechar setores da economia que muitas pessoas se preocupam com a determinação de lockdown. A pesquisa EXAME/IDEIA perguntou aos brasileiros como a medida afeta o trabalho.
Entre os entrevistados, 23% dizem que são autônomos e que o lockdown reduz a demanda pelos serviços ou produtos que oferecem. O risco de ser demitido é a principal consequência apontada por 13%, mesma parcela que diz que deve continua trabalhando, mas com redução salarial. A maior parte, 26%, acha que não há mudanças com a adoção de uma restrição mais rígida que afeta os negócios e a circulação.
O medo de ser demitido em consequência do lockdown é maior entre os jovens, de 18 a 24 anos: 16% deles relatam o temor . A percepção de que a medida restritiva não muda em nada o trabalho ou mesmo a renda é maior quanto mais alta a escolaridade. Entre os entrevistados com ensino superior, esta visão é preponderante para 37%.
Como consequências do lockdown, há perda de renda e de emprego. Para socorrer as pessoas mais impactadas economicamente pela pandemia, a Câmara dos Deputados aprovou, na quinta-feira, 11, o texto do projeto que cria uma nova rodada do auxílio emergencial. Pela proposta, será uma média de 250 reais pagos em quatro parcelas, sendo a primeira liberada ainda em março. Para 77% dos entrevistados na pesquisa EXAME/IDEIA, a expectativa é que o benefício seja pago novamente ainda neste mês.
Na última rodada da sondagem, feita há duas semanas, 64% dos brasileiros entendiam que a condição financeira em que se encontram é motivo para receber um novo auxílio emergencial, que terminou em dezembro de 2020.
Entre os mais pobres a necessidade é maior: 82% dos que ganham até um salário mínimo declaram esperar o benefício ainda em março. Conforme a renda aumenta, cai drasticamente a expectativa de recebimento, sendo de 38% para os que recebem entre três e cinco salários mínimos.