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Ex-traficantes e policiais unidos para conscientização

Iniciativa do grupo AfroReggae, o Ciclo de debates "Comandos" traz confissões de traficantes arrependidos e lembranças de policiais que atuam no combate às drogas

Músico do AfroReggae durante show em Copacabana (Studio Fernanda Calfat/Getty Images)

Músico do AfroReggae durante show em Copacabana (Studio Fernanda Calfat/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 27 de julho de 2012 às 20h10.

Rio de Janeiro - Confissões em primeira pessoa de traficantes arrependidos e lembranças terríveis de policiais que atuam no combate às drogas se misturaram no ciclo de debates "Comandos", iniciativa do AfroReggae que tem por objetivo conscientizar a população sobre a questão da violência e da criminalidade no Rio de Janeiro.

Carlos Alberto Santos, o "Fofo", ex-chefe do tráfico de Parada de Lucas, fazia a contabilidade do dinheiro arrecadado com a venda de drogas ao lado de vários membros de sua facção criminosa, o Terceiro Comando.

Enquanto ele verificava seus lucros, um mensageiro veio até o local e contou que voluntários do AfroReggae estavam facilitando a entrada de traficantes de uma facção inimiga na comunidade.

Sem pestanejar, "Fofo", acompanhado de uma dúzia de homens armados, foi para a sede da associação na favela e questionou: "Vocês sabem que estamos em guerra, não podem permitir que eles entrem!".

Começou então uma discussão tensa, com ameaças de morte e gritos, que só se acalmou quando o ex-traficante foi convencido de que a ONG não estava ajudando nenhuma facção na guerra em Parada de Lucas, que deixou na época nove pessoas mortas.


Oito anos após esse primeiro contato, Carlos Alberto Santos, que ficou preso durante um longo período, trabalha para o AfroReggae coordenando atividades em comunidades pobres do Rio.

"Os preconceitos na favela em relação à polícia, às ONGs ou à comunidade em frente são enormes", disse à Agência Efe o ex-traficante.

Santos participa atualmente, ao lado de outros ex-criminosos e de policiais, do projeto "Comandos", um ciclo de debates que está sendo realizado em comunidades da capital carioca e que tem como um dos objetivos apresentar a visão de mundos opostos sobre um mesmo problema e contribuir para a transformação social.

A iniciativa aproveita a atual política de segurança do estado, que desde 2008 começou a instalar Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas favelas da cidade controladas pelo tráfico.

A implementação das UPPs retirou o tráfico ostensivo das comunidades e aproximou policiais e moradores.


Para Sergio Dantas, policial do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) desde 1996 e que também participa da iniciativa do AfroReggae, a polícia sempre foi vista como um inimigo nas favelas, embora isso talvez esteja começando a mudar.

"Antes era matar ou morrer, no BOPE nos ensinam que nada é tão mau que não possa piorar, hoje temos mais técnicas para conscientizar e comunidade e avançar em questões sociais", refletiu Dantas.

Nesta terça-feira, em uma das favelas do Complexo do Alemão, comunidade ocupada no final de 2010, uma policial foi assassinada. Foi a primeira morte de uma agente mulher desde que as UPPs foram instaladas na cidade.

Para as autoridades, o crime demonstra que os grupos criminosos não desapareceram e lutam para resistir no Rio de Janeiro.

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