Brasil

Ex-presidente do Inpe critica visão de governo Bolsonaro sobre Amazônia

"Eu sabia que seria exonerado", disse o ex-presidente do Inpe, desligado após ter divulgado dados sobre o crescente desmatamento da Amazônia

Ricardo Galvão: ex-presidente do Inpe (Leandro Fonseca/Exame)

Ricardo Galvão: ex-presidente do Inpe (Leandro Fonseca/Exame)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 4 de setembro de 2019 às 18h44.

Última atualização em 4 de setembro de 2019 às 18h51.

Ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão acusou o governo de Jair Bolsonaro de ter uma mentalidade "obscurantista e autoritária". O físico foi homenageado na manhã desta quarta-feira, 04, na sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio, um mês depois de ter sido exonerado do cargo por ordem do presidente por conta da divulgação de dados sobre o crescente desmatamento da Amazônia.

Na ocasião, Bolsonaro chegou a dizer que Galvão era "mentiroso" e que estaria a serviço de ONGs internacionais. Os dados do Inpe constatam um aumento expressivo nos focos de desmatamento nos últimos meses. A tendência de aumento das queimadas foi confirmada também por dados da Agência Espacial Americana, a Nasa.

Galvão afirmou que as ofensas do presidente não foram um ataque apenas ao Inpe, mas à toda a ciência brasileira. Por isso, disse tinham que ser respondidas à altura. "Pensei muito no que ia dizer, nas palavras que ia usar, não reagi por conta da emoção", revelou. "Eu sabia que seria exonerado, mas tinha que enfrentar o bom combate."

O seminário Sistemas de Monitoramento de Cobertura e Usos da Terra, sobre o monitoramento do desmatamento da Amazônia, reuniu alguns dos maiores nomes da ciência brasileira, como o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Ildeu Moreira, o presidente da ABC, Luiz Davidovich, e o organizador do evento, o climatologista Carlos Nobre, um dos maiores especialistas em Amazônia, além do americano Matthew Hansen, que trabalha com dados da Agência Espacial Americana, a Nasa.

"A Amazônia é uma floresta úmida, ela não queima sozinha, é sempre uma ação criminosa", disse Galvão. "Não estou dizendo que o governo está promovendo ações criminosas, mas existe uma visão capitalista destruidora." Para o ex-presidente do Inpe, os ataques à ciência deixaram o governo numa posição vulnerável internacionalmente. "Eles são muito despreparados", disse Ricardo Galvão se referindo aos integrantes do governo. "Não contavam com o prestígio internacional do Inpe. Agora, todos os olhos do mundo estão voltados para lá."

O presidente da ABC elogiou a postura de Galvão e afirmou que já era tempo de alguém por um limite nas "fake news", na "arrogância", na "intolerância" e no "obscurantismo" do atual governo. "Já era tempo de colocar um limite nessa insanidade", disse. O cientista americano Matthew Hansen, que trabalha com dados da Nasa, confirmou a tendência de alta no desmatamento da Amazônia.

Para ele, o problema é de vontade política, não de tecnologia, como chegou a argumentar o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. "Nós gostamos de novas tecnologias, mas elas não são necessárias para o gerenciamento do uso da terra", afirmou. "Se tivéssemos tecnologia de dez anos atrás, poderíamos combater o desmatamento, que depende, basicamente, de vontade política."

Acompanhe tudo sobre:AmazôniaDesmatamentoGoverno BolsonaroIncêndiosInpe - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

Mais de Brasil

Dino determina que cemitérios cobrem valores anteriores à privatização

STF forma maioria para permitir símbolos religiosos em prédios públicos

Governadores do Sul e do Sudeste criticam PEC da Segurança Pública proposta por governo Lula

Leilão de concessão da Nova Raposo recebe quatro propostas