Petrobras: Ferraz revelou a Moro que no esquema de corrupção da Petrobras ele teve a ajuda de um banqueiro suíço para abrir uma offshore no final de 2011 (Germano Luders/Exame)
Da Redação
Publicado em 20 de julho de 2016 às 15h29.
São Paulo - Em seu primeiro depoimento ao juiz Sérgio Moro, realizado nesta terça-feira, 19, o ex-presidente da Sete Brasil João Carlos de Medeiroz Ferraz contou em detalhes como o esquema de corrupção na Petrobras foi replicado na empresa criada para a produção de sondas de exploração do pré-sal.
Ferraz fechou um acordo de colaboração com a Lava Jato e revelou a Moro que teve a ajuda de um banqueiro suíço para abrir uma offshore (empresa em paraíso fiscal) no final de 2011 e que foram utilizadas para ele receber cerca de US$ 1,7 milhão em propinas de um dos estaleiros contratados pela Sete Brasil no período em que ocupou a presidência da companhia, entre 2011 e 2014.
Ele depôs ao juiz da Lava Jato na ação penal em que o Ministério Público Federal aponta o pagamentos de propinas de R$ 185 milhões referentes ao contrato da Sete com a Keppel Fels (responsável pelo estaleiro BrasFels) para a produção de quatro sondas de exploração de pré-sal.
Ferraz responde, junto com outros oito réus pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
As contas da empresa, chamada Firaza, foram abertas pelo banco Kramer, e ficavam na instituição financeira no país europeu.
O processo de abertura, segundo revelou o executivo, ocorreu durante uma viagem de Ferraz e do ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco à Itália para ver o Grande Prêmio de Fórmula 1 no circuito de Monza, tudo a convite da Petrobras.
"Na oportunidade nós encontramos um banqueiro do banco Kramer. Esse banqueiro me explicou como era toda estrutura, como que seria feita a abertura da conta. A abertura dessa conta estava associada a criação de uma empresa offshore", contou.
"Uma seria em Luxemburgo e outra seria no Caribe, e essa estrutura, segundo o banqueiro, daria mais solidez, maior segurança", seguiu o executivo. De acordo com ele, foi o próprio banco que montou a estrutura para a lavagem de dinheiro de propina.
Um dos idealizadores do projeto da Sete Brasil - a principal aposta dos governos Lula e Dilma para incentivar a produção naval nacional e o pré-sal - junto com Barusco, João Ferraz veio de uma trajetória técnica na área de Finanças da Petrobras e disse que só teve contato com esquemas de corrupção ao chegar na Sete.
Foi o próprio Barusco, que também foi diretor na Sete Brasil e recebia propinas na Petrobras desde 1997, quem lhe revelou o esquema.
"Esse esquema foi implantado pelo próprio Barusco, e pelo que ele me informou, em conjunto com o João Vaccari (ex-tesoureiro do PT). Os dois negociaram com os estaleiros o pagamento de comissão de 0,9% sobre o valor total de cada contrato", contou.
Dessa percentagem, dois terços ficavam com o PT, por meio de João Vaccari Neto e o restante era dividido igualmente entre o ex-diretor da Petrobras Renato Duque e funcionários da Sete, incluindo Ferraz.
Ele disse ainda que nunca tratou destes acertos com os estaleiros. "Na verdade, nunca conversei com nenhuma pessoa jurídica ou física a respeito destes pagamentos (de propina), a única pessoa que conversei a respeito deste assunto foi com o Barusco, que se encarregou em fazer a centralização de tudo", disse.
Ao todo, a Sete Brasil chegou a firmar contratos com cinco estaleiros para a produção de 29 sondas. Além disso, a empresa fez sociedade com seis grandes companhias que iriam atuar como operadoras das sondas.
A Lava Jato aponta, com base nas delações premiadas e nas investigações dos contratos da Sete e das empresas de operadores de propina no exterior, que haveria um esquema de corrupção nos mesmos moldes do que foi instalado na Petrobras e que parte das comissões destinadas ao PT no esquema teriam abastecido contas do casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura - que atuaram nas campanhas eleitorais de Lula (2006) e Dilma (2010 e 2014).
Defesas
João Santana e Mônica Moura negam envolvimento nas irregularidades apontadas pelo MPF. O criminalista Luiz Flávio Borges DUrso, que defende Vaccari, afirmou que as acusações feitas contra seu cliente não procedem.
"O que tem acontecido ao longo da operação é que existem algumas palavras de delatores, mas essas não têm se confirmado. Não tem prova nenhuma disso", afirmou.