O ex-ministro da Justiça Sergio Moro (Ueslei Marcelino/Reuters)
Mariana Desidério
Publicado em 2 de maio de 2020 às 10h40.
Última atualização em 2 de maio de 2020 às 12h14.
O ex-ministro da Justiça Sérgio Moro presta depoimento neste sábado à Polícia Federal, em Curitiba, para falar sobre as acusações feitas por ele contra o presidente Jair Bolsonaro ao deixar o governo.
Moro anunciou sua saída do governo em um pronunciamento no dia 24 de abril, no qual fez um balanço de seu trabalho à frente da pasta e relembrou que, quando aceitou assumir o ministério, o presidente garantiu que ele teria carta-branca.
O estopim para a decisão de sua saída foi a confirmação da demissão do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo. “Avisei que seria uma interferência política e Bolsonaro disse que era mesmo”. Em sua fala, Moro revelou que diversas vezes Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal. Segundo Moro, o presidente pediu acesso a investigações sigilosas e tem “preocupação com inquéritos em curso no Supremo Tribunal Federal (STF)”.
Em entrevista à revista Veja, o ex-ministro afirmou que irá apresentar provas sobre o que disse à Justiça. Disse também que já via sinais de que o combate à corrupção não é prioridade do governo. Dentre os sinais, citou a transferência do Coaf para o Ministério da Economia.
Comentou ainda as mensagens divulgadas por ele ao Jornal Nacional, da TV Globo, pouco depois de seu pronunciamento. “Apresentei porque no pronunciamento do presidente ele afirmou falsamente que eu estava mentindo”, disse o ex-ministro.
Após o pronunciamento de Moro, o presidente Bolsonaro também fez um pronunciamento em que acusou Moro de ter negociado sua ida ao Supremo Tribunal Federal em troca da mudança na diretoria da Polícia Federal. Moro então divulgou mensagens trocadas.
Na imagem do diálogo, Bolsonaro envia a Moro o link de uma notícia do portal O Antagonista. “Mais um motivo para a troca”. Em seguida, Moro explica ao presidente que as diligências foram determinadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
Moro também exibiu uma conversa com a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), em que ela pede para que o ministro aceite uma vaga no STF em setembro, e também a troca na PF, pelo diretor da Abin. “Eu me comprometo a ajudar”, acrescentou. “A fazer JB prometer“, dizia Carla.
Moro respondeu: “prezada, não estrou à venda”. O ex-juiz foi padrinho de casamento da deputada.