Salles: A bancada ruralista, que pressiona para a instalação da CPI, ainda não fechou acordo sobre os nomes (Leandro Fonseca/Exame)
Agência de notícias
Publicado em 26 de abril de 2023 às 10h52.
Última atualização em 26 de abril de 2023 às 10h54.
Maior partido do Congresso, o PL deve ganhar um “prêmio de consolação” para ficar de fora do comando da CPMI dos Ataques Golpistas. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pretende emplacar um deputado de seu grupo no colegiado que vai investigar os atos de 8 de janeiro. Ao mesmo tempo, deve entregar à sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro a relatoria da CPI que mira nas atividades do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O mais cotado para o cargo é o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL-SP).
Já o deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), autor do requerimento de criação da CPI do MST, deve ficar na presidência. Os dois haviam apresentado pedidos para abertura da investigação e começaram a coletar assinaturas. Salles, contudo, decidiu desistir do seu requerimento para apoiar o de Zucco.
A bancada ruralista, que pressiona para a instalação da CPI, ainda não fechou acordo sobre os nomes, mas discute apoiar a indicação de Salles para a relatoria. O ex-ministro de Meio Ambiente de Bolsonaro integra essa frente parlamentar, uma das mais influentes do Congresso.
A oposição na Câmara já prepara estratégias para o avanço da CPI do MST, que tem potencial de incomodar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Os petistas são aliados históricos do movimento. O líder dos sem-terra João Pedro Stédile viajou com Lula à China no início do mês. Uma das primeiras ações no colegiado, por exemplo, deve ser pedir informações sobre o fluxo de recursos do MST e a quebra de sigilo bancário de suas lideranças.
A pressão dos ruralistas cresceu após novas ações do MST no Abril Vermelho, jornada anual de lutas do movimento em prol da reforma agrária. Em uma delas, no último dia 10, os sem-terra ocuparam a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Maceió. Os manifestantes pediam a exoneração de Wilson César de Lira Santos — primo do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira — do posto de superintendente regional do órgão.
Apesar de alguns ministros terem condenado as invasões, o governo atendeu a reivindicações do movimento ao trocar sete superintendentes regionais do Incra na semana passada.
Embora a bancada ruralista não tenha consenso sobre o nome de Salles, quem deverá bater o martelo é Lira, que prometeu ainda autorizar outras duas CPIs nesta semana — a que vai investigar as inconsistências bilionárias das Lojas Americanas e suspeitas de manipulação de resultados em partidas de futebol.
Lira tem trabalhado nos bastidores para que outra comissão, a CPMI dos Ataques Golpistas, tenha no seu comando um deputado do seu bloco partidário na presidência. O nome do deputado Arthur Maia (União-BA) é o mais cotado para assumir o posto, como revelou O GLOBO.
A escolha de um partido de centro, no entanto, não agrada ao PL. O autor do pedido de abertura da CPMI dos Ataques Golpistas, André Fernandes (CE), é da sigla e, por tradição, teria direito um dos cargos de comando do colegiado. Essa escolha, porém, não é regra e depende de acordo entre os partidos.
Pesa contra Fernandes o fato de ele ser um dos investigados do Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito sobre a autoria dos ataques. A oposição ameaça ir à Justiça para que ele seja considerado suspeito para participar do colegiado.