MEC: A ida de Izolda para o MEC, no entanto, fecharia as portas da Esplanada para Camilo Santana (Wilson Dias/Agência Brasil)
Agência O Globo
Publicado em 16 de dezembro de 2022 às 07h06.
Última atualização em 16 de dezembro de 2022 às 07h12.
O ex-governador do Ceará Camilo Santana (PT) passou a ser o favorito do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para comandar o Ministério da Educação. Aliados apontam que há grande chance de o petista ser anunciado como ministro já nos próximos dias. Camilo Santana disputa o posto com a atual governadora do Ceará, Izolda Cela (sem partido, ex-PDT), e o líder do PT na Câmara, o deputado Reginaldo Lopes (MG).
De acordo com pessoas próximos, Lula já disse a Camilo, em uma conversa, que gostaria de tê-lo em seu ministério. Os dois devem se encontrar nos próximos dias para sacramentar a escolha. Caso confirmada, a indicação é uma revisão da posição inicial de Lula de não nomear senadores para o ministério para não desfalcar a bancada na Casa. O senador Flávio Dino (PSB) já foi indicado para a Justiça.
Camilo Santana era um forte defensor do nome de Izolda para o MEC. Aliados afirmaram que ele teria preferência por assumir áreas como a do Desenvolvimento Regional e Cidades e deixar o comando da Educação com a aliada.
Izolda, que foi vice de Santana no governo do estado do Ceará, era a favorita para assumir o Ministério da Educação. Pesava ao seu favor o fato de ser mulher e nordestina, perfil que o ajudaria a levar diversidade ao novo governo. Além disso, teve papel importante para que o petista abrisse vantagem sobre rivais na disputa eleitoral no Ceará ao romper com o grupo de Ciro Gomes (PDT), isolando o ex-aliado no próprio estado.
Nesta segunda-feira, Izolda esteve com Lula na cerimônia de diplomação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Interlocutores, no entanto, afirmam que os dois sequer trataram do MEC. Um ponto de resistência apontado por aliados para Santana em assumir o MEC é evitar um desgaste por um cenário que aparente que ele tomou o lugar de Izolda no comando da pasta.
A ida de Izolda para o MEC, no entanto, fecharia as portas da Esplanada para Camilo Santana. Nas contas de aliados, pelo equilíbrio nacional, não haveria espaço para dois representantes do estado no primeiro escalão. Segundo interlocutores, o ex-governador considera que "se alguém do Ceará tem de ser ministro esse alguém é ele". O senador eleito ganhou cacife ao ajudar a eleger Elmano de Freitas (PT) como seu sucessor no governo do estado, derrotando o candidato de Ciro, o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT).
O nome de Izolda, no entanto, perdeu força nos últimos dias principalmente pela pressão do PT em manter o comando da pasta com a legenda, o que já teria a garantia de Lula. A tradição da legenda no tema, com militância histórica no setor, tem reforçado a visão de que a pasta deve ficar sob gestão de quadros do PT. Neste cenário, há a possibilidade de Izolda ocupar o comando de uma secretaria em uma eventual gestão Santana no MEC. Entre as hipóteses está a da Secretaria de Educação Básica, área de atuação de Izolda, e a Secretaria Executiva.
Em paralelo, o petista que tenta se cacifar para comandar a pasta é o líder do partido na Câmara, deputado Reginaldo Lopes (MG). Ele busca respaldo na corrente majoritária petista CNB, a mesma de Lula, e no próprio setorial de educação do partido. Sua nomeação, no entanto, não é colocada como algo provável. Além disso, há uma avaliação de que Camilo Santana não abriria mão do MEC para entregá-lo a Reginaldo.
A bancada do PT no Congresso Nacional chegou a aprovar o nome de Reginaldo Lopes como indicação para o MEC. A decisão foi levada ao diretório nacional do partido. Um argumento usado para dar força à candidatura de Lopes é o de que o deputado abriu mão de sua candidatura ao Senado em Minas Gerais para permitir que o PT apoiasse Alexandre Silveira (PSD-MG), mantendo a aliança com o partido no estado.
No meio de todos esses impasses, Lula precisa ainda arrumar espaço na Esplanada para acomodar todos os partidos aliados e até mesmo o Centrão. Há ainda a necessidade de aprovar a PEC da Transição o quanto antes na Câmara dos Deputados para liberar o orçamento que tonará o início do governo Lula viável. O cronograma para isso está apertado. De um lado, parlamentares não querem destravar a tramitação do texto sem ter garantia dos ministérios. De outro, Lula evita anunciar novos nomes para não correr o risco de desagradar os partidos políticos.
Com isso, o espaço do PT na Esplanada pode ser mais apertado do que o inicialmente calculado, deixando Reginaldo Lopes com poucas chances além do MEC. Interlocutores já consideram que Reginaldo assumiria o MEC apenas com a eventual desistência de Camilo Santana e que o nome de Izolda não está mais na mesa de negociações.
Há ainda a defesa de que o MEC seja comandado por um nome político pela sua posição estratégica em negociações. Há uma avaliação de que haveria um desequilíbrio ao colocar nomes técnicos na Educação e da Saúde, onde a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, é a favorita para ministra. De todos os ministros a serem escolhidos, o nome de Nísia seria o mais certo na cabeça de Lula.
Nesta quinta-feira, Izolda afirmou que o MEC “não é um desejo pessoal” e que “não antecipa questões relacionadas” a disputa por cargos. Afirmou, ainda, que espera que as “definições sejam as melhores possíveis”.
— Eu, normalmente, não antecipo questões relacionadas a isso, especialmente quando é ocupação de algum lugar, de algum cargo — afirmou, completando: — Estou torcendo para que as definições sejam as melhores possíveis, sabendo que o nosso querido governador Camilo Santana, senador eleito, tem um papel muito importante na composição nacional. Eu fico por aqui, deixa vir o fluxo das coisas.