Sede da Odebrecht, em São Paulo: O executivo, que deixou a Odebrecht após ser preso na 14ª fase da Lava Jato, em junho deste ano, contou que começou a manter contatos com Janene por volta de 2003 (REUTERS/Rodrigo Paiva/Reuters)
Da Redação
Publicado em 30 de outubro de 2015 às 13h15.
São Paulo - O ex-vice-presidente institucional da Braskem e ex-diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar confirmou em depoimento ao juiz Sérgio Moro nesta quinta-feira, 29, que mantinha reuniões "institucionais" com o ex-deputado José Janene (ex-PP, morto em 2010), o ex-diretor Paulo da Petrobras Roberto Costa e até com o doleiro Alberto Youssef para tratar de negócios da Braskem com a estatal e também tratar de "cenário político".
As reuniões com o ex-deputado e o ex-diretor para tratar de negócios do setor Petroquímico na Petrobras começaram em 2005, segundo o executivo.
A partir daí, revelou ao juiz, acabou se desenvolvendo um relacionamento político entre Alexandrino, o ex-parlamentar e o doleiro Alberto Youssef, para tratar de doações das empresas do grupo Odebrecht a políticos e também de "cenários político", segundo afirmou ao juiz da Lava Jato.
O executivo, que deixou a Odebrecht após ser preso na 14ª fase da Lava Jato, em junho deste ano, contou que começou a manter contatos com Janene, apontado como mentor do esquema de loteamento político na Petrobras, por volta de 2003.
Na época vice-presidente da petroquímica Braskem, Alexandrino explicou que o contato com o parlamentar, então presidente da comissão de Minas e Energia da Câmara, era para pedir apoio dos parlamentares" na estruturação e no próprio entendimento da Câmara sobre a empresa", disse.
Na época, a Braskem tinha acabado de ser criada, em 2002, a partir da união de várias petroquímicas e sob o controle da Odebrecht.
Além de conscientizar os parlamentares sobre a importância do mercado petroquímico, Alexandrino buscou apoio de Janene para negociar os preços da nafta, derivado do petróleo usado na indústria petroquímica, comercializada pela Petrobras, que monopoliza o mercado do produto.
A partir deste contato, segundo Alexandrino, Janene se "sensibiliza" e marca uma reunião com o então diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa para discutir sobre os preços da nafta.
Os contratos de fornecimento de nafta para a Braskem são uma das frentes de acusação da Lava Jato contra a Odebrecht.
Segundo o Ministério Público, teria havido pagamento de propina a Paulo Roberto Costa para reduzir os preços do produto. Em seu depoimento, Alexandrino negou qualquer envolvimento com propinas
Político
A partir de 2007, Alexandrino deixa a Braskem e vai atuar na Odebrecht como diretor institucional e, segundo ele, mantém o contato político com Janene, na época assessorado pelo doleiro Alberto Youssef e por João Cláudio Genú.
Questionado pelo juiz sobre como seriam estes contatos, o executivo responde. "Ligados a doações de campanhas e ao próprio relacionamento político, de ver a estrutura do partido progressista do qual ele era (Janene) líder", relata Alexandrino.
Youssef e João Cláudio Genú, segundo Alexandrino, também participavam dos encontros como "assessores" de Janene e, após a morte dele, em 2010, Alexandrino disse que manteve contato com o doleiro para discutir sobre "cenários políticos, uma coisa que fazia com o próprio Janene.
Ele (Youssef) tinha também uma locadora de veículos e uma agência de turismo e ele queria oferecer esses serviços para a Odebrecht, mas nunca conseguiu", disse.
Réu na Lava Jato, Alexandrino deixou a prisão em outubro deste ano após conseguir um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal.