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Ex-diretor do BC diz que não dá mais para negligenciar a inflação

Segundo Luiz Fernando Figueiredo, países emergentes adiaram combate à inflação com medo de recessão mundial

"É muito saudável o BC mesclar juros com outros medidas", diz Luiz Fernando Figueiredo (Divulgação/Banco Central)

"É muito saudável o BC mesclar juros com outros medidas", diz Luiz Fernando Figueiredo (Divulgação/Banco Central)

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Da Redação

Publicado em 16 de fevereiro de 2011 às 10h52.

São Paulo – O ex-diretor do Banco Central e sócio-diretor da Mauá Sekular Investimentos acredita que o medo de que os países desenvolvidos sofressem um duplo mergulho na crise levou os emergentes a adiar medidas de combate à alta dos preços.

“A gente chegou a um ponto que não dá mais pra negligenciar inflação no mundo inteiro”, diz Figueiredo, que conversou com o editor do canal Seu Dinheiro de EXAME.com, João Sandrini.

O economista afirma que uma pisada no freio é urgente. “O que acontece nos países emergentes, em particular, é que eles estão crescendo mais do que podem. Essas economias estão sobreaquecidas. Já o mundo desenvolvido está crescendo menos do que pode – talvez a exceção sejam os Estados Unidos. Por isso, a inflação apareceu mais fortemente nos emergentes. Como tem essa heterogeneidade, os países emergentes acabaram sendo lenientes com a inflação com receio de que o mundo tivesse um segundo mergulho de recessão. Então, todos os países esperam o quanto podem para ter mais confiança de que eles podem apertar (combate à inflação) sem a surpresa de uma recessão mundial que joga todo o crescimento por terra.”

Figueiredo lembra que poucos países têm juro real positivo. “A maioria dos países, inclusive os emergentes, tem uma inflação mais alta e juro real negativo. Pouquíssimos países, incluindo o Brasil, têm juro real positivo. Mesmo assim – e esse também é o caso do Brasil –, muita gente tá correndo atrás do prejuízo porque a inflação encontra-se num nível bastante alto.” O Brasil, segundo ele, é um dos menos atrasados nessa tarefa. “A China vem num processo anterior ao nosso, mas num passo muito gradual.”

O especialista diz que o aperto fiscal anunciado pelo governo brasileiro ainda é visto com ceticismo. “Muita gente tem muito receio de que a execução dos R$ 50 bilhões de fato não aconteça.” A eventual aprovação do salário mínimo de R$ 545,00 seria um sinal importante de que a direção do corte de gastos está correta. “O governo perdeu credibilidade nos últimos anos por causa do excesso de gastos e das contas que inflaram o resultado primário.”

O sócio-diretor da Mauá Sekular Investimentos considera “muito saudável” a decisão do Banco Central de mesclar alta de juros com medidas macroprudenciais. “Isso tem sido mais comum no resto do mundo. O Banco Central chegou à conclusão de que a taxa de juros ainda é o principal instrumento, mas não o único. No aperto monetário de 2008, ele estava subindo os juros, mas o crédito continuava bombando. Então, a taxa de juros acabou se tornando um instrumento mais indireto para o crédito, portanto, com menos eficácia.”

A vantagem de o Banco Central não utilizar apenas a taxa de juros para controlar a inflação é reduzir as distorções no mercado, incluindo o câmbio. “Vamos dizer que o Banco Central precisasse subir a Selic em 3 pontos percentuais. O que na prática está acontecendo é que o ajuste fiscal e as medidas macroprudenciais podem fazer com que os juros só subam 1, 1,5 ou 2 pontos”, explica Figueiredo.

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