Brasil

Ex-diretor da Caixa denuncia propinas do setor de energia

Roberto Madoglio entregou cópias dos recibos de contas mantidas no exterior que foram usadas para receber propina

. (Caixa Econômica/Divulgação)

. (Caixa Econômica/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 3 de junho de 2018 às 10h41.

O ex-superintendente de Fundos de Investimento Especiais da Caixa Roberto Madoglio confessou ter recebido propina para favorecer empresas do setor elétrico interessadas em obter aportes do fundo de investimento do FGTS. Madoglio assinou acordo de delação dentro das operações Sépsis e Cui Bono, que investigam desvios no banco estatal. Assumiu ter recebido propina do Grupo Rede, da J. Malucelli Energia e da Hidrotérmica. Juntas, as três empresas receberam R$ 1,2 bilhão do FI-FGTS, fundo formado com parte do dinheiro depositado na conta dos trabalhadores.

O ex-superintendente entregou cópias dos recibos de contas mantidas no exterior que foram usadas para receber propina. Madoglio se comprometeu a devolver R$ 39,2 milhões que recebeu de forma irregular na Suíça e no Uruguai. No caso dessas três empresas do setor elétrico, a propina teria somado R$ 10 milhões.

Um dos casos citados por Madoglio envolve a Hidrotérmica S/A, do Grupo Bolognesi. Em 2010, segundo o FI-FGTS, a empresa tinha projetos de hidrelétricas no Rio Grande do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso. O fundo gerido pela Caixa injetou R$ 360 milhões na empresa.

Na versão do delator, a propina foi oferecida por Paulo Rutzen, ex-executivo da Hidrotérmica. Rutzen é apontado por Madoglio como braço direito de Ronaldo Bolognesi, principal acionista do Grupo Bolognesi. O valor estimado de R$ 1,5 milhão, diz o delator, foi depositado no exterior - o número da conta foi repassado a Rutzen na sede do grupo, em Porto Alegre.

Em 9 de novembro de 2017, Madoglio contou aos investigadores ter recebido "vantagem indevida" relacionada ao aporte, em 2010, de R$ 600 milhões do FI-FGTS no Grupo Rede. Segundo o delator, o pagamento de R$ 8 milhões foi oferecido por Maurício Quadrado, da Planner Corretora. Ele disse acreditar que os valores pagos pela Planner se referem ao grupo Rede e entregou os comprovantes dos depósitos.

Dono de distribuidoras de energia como Enersul (MS), Companhia Força e Luz do Oeste (PR), Caiuá (SP), Cemat (MT) e Celtins (TO), o Grupo Rede quebrou em 2013. Com 25% de participação, o FI-FGTS conseguiu evitar prejuízo ao acionar cláusulas contratuais que garantiram condições privilegiadas na recuperação judicial.

Em depoimento, Madoglio também admitiu propina da J. Malucelli Energia, oferta que teria partido do empresário Alexandre Malucelli, que considerava o pagamento prática "normal". Para ajudar a garantir aporte de R$ 300 milhões do FI-FGTS, a J. Malucelli teria pago R$ 500 mil ao ex-diretor da Caixa. Conforme o balanço do FI-FGTS, o fundo virou dono de 40,8% da empresa.

A Caixa, em nota, disse que os fatos da delação são alvo de apurações internas. A Hidrotérmica disse desconhecer o teor das declarações da Madoglio e afirmou que Ruyzen não é mais funcionário e está sendo processado pela companhia. A Energisa, atual dona do Grupo Rede, informou desconhecer os fatos, anteriores à atual gestão. A J. Malucelli não respondeu. A assessoria de imprensa da Planner não conseguiu contato com os executivos da corretora. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:Caixa

Mais de Brasil

PF: Plano para matar Moraes foi cancelado após recusa do exército em apoiar golpe

Gilmar Mendes autoriza retomada de escolas cívico-militares em São Paulo

Lula foi monitorado por dois meses pelos 'kids pretos', diz PF