Lula: petista é réu pelo recebimento de R$ 3,7 milhões em propinas da OAS, no caso do apartamento tríplex do Guarujá (SP)
Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de novembro de 2016 às 12h07.
Última atualização em 24 de novembro de 2016 às 13h31.
Curitiba e São Paulo - O ex-deputado federal Pedro Corrêa confirmou ao juiz federal Sérgio Moro, nesta quarta-feira, 23, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva "sabia" do esquema de arrecadação de recursos na Petrobras por partidos da base aliada, em especial o PT, PMDB e o PP.
Corrêa foi ouvido em audiência tomada por discussões entre a defesa de Lula e Moro, no processo em que o petista é réu pelo recebimento de R$ 3,7 milhões em propinas da OAS, no caso do apartamento tríplex do Guarujá (SP).
"Em 2006 eu fui procurar o presidente Lula para tratar de assunto financeiro, de dinheiro, de ajuda de campanha. E ele disse que nós não precisávamos de dinheiro porque estávamos muito bem atendidos financeiramente pelo senhor Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da Petrobras), que ele sabia, porque o Paulinho dizia isso a ele. Ele foi muito claro, nessa posição", afirmou Corrêa.
A audiência não pode ser concluída integralmente em decorrência de "inúmeros incidentes levantados pela defesa", conforme registrou o juiz federal Sérgio Moro.
Das quatro testemunhas de acusação inscritas pela força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba, contra Lula, para serem ouvidos nesta quarta-feira, foram ouvidos ainda o ex-diretor Paulo Roberto Costa e o ex-gerente de Engenharia Pedro Barusco - ambos, delatores. O quarto interrogado, será ouvido nesta sexta-feira, 25.
"Em vista dos inúmeros incidentes levantados pela Defesa de Luiz Inácio e Marisa Letícia que impediram normal colheita do depoimento da testemunha Pedro Corrêa, não foi possível encerrar as oitivas na presente data", registrou Moto, no termo de audiência.
Na mesma linha da primeira audiência do processo contra Lula, em Curitiba, marcada por 29 embates entre defesa, juiz e procuradores, as oitivas desta quarta foram tomadas por interrupções dos depoimentos. Em pelo menos dois momentos, Moro determinou a interrupção da audiência.
"É inapropriado esse comportamento processual da defesa, é inadequado. Eu peço que voltem às questões a serem colocadas à testemunha, e parem de tumultuar a audiência", afirmou Moro.
O depoimento de Corrêa foi o primeiro, mais longo e mais tumultuado do dia. Em processo de delação premiada, o ex-deputado - preso desde 10 de abril de 2015, em Curitiba - acusa Lula de envolvimento no esquema de divisão de cargos na Petrobras entre partidos da base aliada para arrecadação de propinas.
Os advogados de Lula, Cristiano Zanin Martins, José Roberto Batochio e José Cirino dos Santos, interromperam o interrogatório da testemunha e bateram boca com o juiz. A audiência de Corrêa chegou a ser interrompida por duas vezes por Moro, na mais tensa oitiva de testemunhas da Lava Jatonesses 2 anos e 8 meses de investigações.
Eles questionaram a validade das declarações de Pedro Corrêa, que foi chamado de "meia testemunha" pela defesa de Lula.
O ex-deputado está preso em Curitiba, desde que foi capturado na 11ª etapa da Lava Jato denominada "A Origem". Ele foi condenado por Moro em outro processo pelo recebimento de propina de R$ 11,7 milhões, 72 crimes de corrupção passiva, e 328 operações de lavagem de dinheiro.
"Eu sou bi preso, fui preso no mensalão e na Lava Jato", afirmou Corrêa. Desde o final de 2015, ele negocia um acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato, que ainda não foi homologado pelo ministro Teori Zavascki que relata os processos no Supremo Tribunal Federal (STF).