Janaína: Professora de Direito Penal da USP disse que tem o "sentimento de ter cumprido uma missão" (Divulgação/Agência Senado)
Estadão Conteúdo
Publicado em 31 de agosto de 2017 às 14h02.
Última atualização em 31 de agosto de 2017 às 15h00.
São Paulo - A advogada Janaina Conceição Paschoal, autora do pedido de impeachment de Dilma Rousseff ao lado dos juristas Miguel Reale Jr. e Hélio Bicudo, disse que hoje se sente "mais madura, mais velha e mais tolerante". Segundo ela, o Brasil saiu "maior" do processo de cassação da petista.
Professora de Direito Penal da USP, Janaina disse que tem o "sentimento de ter cumprido uma missão". A rotina, apesar do assédio e das polêmicas nas redes sociais, é a mesma: aulas, bancas, concursos. Para ela, Temer perdeu a "oportunidade" de ser um "estadista". Leia trechos da entrevista:
O que mudou na sua vida nesse último ano?
Vida normal. Eu me sinto uma pessoa mais madura, mais velha em todos os sentidos, mas a vida segue normal. Dou aulas normalmente, nada mudou. Você fica mais tolerante depois de passar por tudo aquilo. Eu já era tolerante, e fiquei ainda mais tolerante.
Como avalia sua responsabilidade nesse processo?
Sobre o crime dos outros, eu não tenho responsabilidade nenhuma. Sinto um alívio muito grande, um sentimento de ter cumprido uma missão. Não me omiti, esse é o sentimento. Responsabilidade é forte demais. Trabalhei para que um comportamento ilícito tivesse consequência. O meu sentimento é de tranquilidade porque ter feito o que precisava.
Qual o balanço a senhora faz dos rumos do governo Temer nesse período?
É importante deixar bem claro que, quando eu pedi o impeachment da presidente, não foi com o objetivo de colocar Temer no poder. Pedi o impeachment por força dos crimes que foram cometidos. E o PT tinha convidado Michel Temer (para ser vice). O problema que eu vejo é que Temer poderia ter aproveitado essa oportunidade histórica para ser um estadista. Os fatos mostram que não foi assim.
O que faltou para Temer se tornar um estadista?
O problema foi a mala (entregue por um executivo da JBS ao ex-assessor do presidente Rodrigo Rocha Loures). Aconteceu algo na vida dele que dá a oportunidade de ele dar uma virada. E o sujeito pega esta oportunidade e joga no lixo. É muito grave. Nada do que ele faça na economia, em qualquer campo, nada vai apagar a mala.
Como vê o trabalho do STF, do MPF e da PF contra a corrupção?
Tenho algumas divergências pontuais, mas elas não impedem de reconhecer o mérito do trabalho do Ministério Público, da Polícia Federal, dos juízes. Com relação ao STF, tenho grandes preocupações.
Quais preocupações?
O discurso de alguns ministros é um discurso que vai no sentido de anular tudo.
Quais ministros?
As decisões do ministro (Ricardo) Lewandowski, do ministro (Dias) Toffoli, algumas libertações que eu acho que as pessoas não seriam libertadas se não fossem importantes. Agora, o discurso mais assustador é o do ministro Gilmar Mendes. É muito assustador.
E em relação à PF e ao MP que terá uma nova chefe?
Nunca soube de nada que desabonasse a doutora Raquel (Dodge). Em relação à polícia, as mudanças (na Lava Jato) não são algo assim tão incomum. No Supremo, o risco é total. O Supremo hoje é o maior perigo que o País corre nesse processo.
Passado um ano, como o Brasil saiu desse processo?
O Brasil saiu maior, porque mostrou que a gente tem a capacidade de enfrentar a nossa triste realidade.
Se a senhora for chamada ou sentir que algo precisa mudar entraria novamente numa briga tão grande quanto foi aquela?
Eu acho que sim. Mas tem de ser uma coisa que eu entenda que seja determinante para o País, como eu entendi que era naquele momento. No caso do Temer, a OAB já tomou a frente. Eu acredito que, a depender do rumo, eu entro de novo, sim.
Pretende entrar na política?
Na vida político-partidária, não tenho pretensão, mas na vida política, sim. Sou engajada há muito tempo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.