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‘Estão endeusando os gays’, diz vereador que criou Dia do Orgulho Hétero

Vereador evangélico Carlos Apolinário diz que não é contra os homossexuais, e sim, contra ‘alguns excessos e privilégios’ concedidos a eles

Apolinário diz que a Parada Gay na Avenida Paulista é um dos privilégios concedidos a homossexuis (Rogério Lacanna/Capricho)

Apolinário diz que a Parada Gay na Avenida Paulista é um dos privilégios concedidos a homossexuis (Rogério Lacanna/Capricho)

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Da Redação

Publicado em 3 de agosto de 2011 às 15h16.

São Paulo – A Câmara de São Paulo aprovou, na terça-feira (2), o projeto do vereador Carlos Apolinário (DEM) que cria o Dia do Orgulho Heterossexual, no terceiro domingo de dezembro. Na votação, dos 50 vereadores registrados, 19 foram contra. Para que a data entre no calendário oficial da cidade, é preciso a sanção do prefeito Gilberto Kassab.

Segundo o vereador, que é evangélico, a sugestão de criar a data não é uma reação contra os homossexuais. “Vou continuar amando e respeitando a figura humana dos gays. O problema são os excessos”, diz Apolinário. Quando fala em excessos, ele refere-se, por exemplo, ao fato da Parada Gay ser na Avenida Paulista, mas outras manifestações, como a Marcha para Jesus, serem proibidas no local.

Apolinário diz que, hoje em dia, há um “endeusamento dos gays”, e por isso, “eles acham que podem fazer qualquer coisa”. Mas, para provar que não tem nada contra os homossexuais, o político avisa: “meu cabeleireiro é gay. O maquiador que trabalhou comigo durante minha candidatura, era gay. E já tive dois funcionários gays que trabalhavam no telemarketing.”

Veja abaixo entrevista com o vereador Carlos Apolinário.

EXAME.com - Por que o senhor apresentou a proposta que cria o Dia do Orgulho Heterossexual?

Em primeiro lugar, quero dizer que respeito a figura humana do gay, e respeito também o livre arbítrio. O que combato são os privilégios e excessos cometidos pelos homossexuais. Por exemplo, a prefeitura de São Paulo e o Ministério Público fizeram um acordo para que na Avenida Paulista não haja grandes manifestações por causa dos hospitais. Tiraram a passeata da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Marcha para Jesus, mas mantiveram a Parada Gay. Por quê?

Criei o Dia do Orgulho Heterossexual para que as pessoas tenham oportunidade de falar e de pensar. Para mim, a data em si não tem uma grande importância. Não vou propor passeata contra os gays. A data é para fazer reflexão, porque hoje ninguém tem coragem de falar contra os excessos.


EXAME.com - O que são estes excessos e privilégios dos quais o senhor fala?

Na Câmara dos Deputados, na Assembleia Legislativa, há muitas leis em defendendo não a figura humana dos gays, mas os excessos que eles querem cometer. Outro dia a imprensa publicou que um casal gay estava em um bar e começaram a se beijar de forma excessiva. O dono chamou a atenção deles. No dia seguinte, vários homossexuais foram ao bar fazer um ‘beijaço gay’. Se eu, que sou evangélico, sofrer preconceito em um bar, não vou levar pessoas lá no dia seguinte para fazer um culto.

Hoje em dia você pode ir à televisão falar que o casamento hétero é uma aberração, uma instituição falida, mas se falar que o casamento gay é errado, você é homofóbico, nazista, não presta. Hoje em dia há um endeusamento dos gays. Parece que porque alguém é gay, tem algo a mais. Se for humano, é uma coisa, mas se for gay, é melhor.

EXAME.com - O senhor concorda com a união homoafetiva?

Não concordo pessoalmente, mas este é um direito dos homossexuais, assim como a adoção. Não posso e não vou fazer nada a este respeito. O que não acho certo são os excessos. Sou casado há 38 anos e não me acho no direito de ficar beijando minha esposa em público de forma extravagante. Eu chamaria a atenção de um casal heterossexual que fizesse isso. Por que com um casal homossexual é homofobia?

EXAME.com - O que o senhor acha de declarações mais polêmicas sobre este tema, como as do deputado Jair Bolsonaro?

Como cristão, não concordo com nenhuma agressão, nem física, nem verbal. Temos que aprender a respeitar as pessoas independente de quem elas sejam. Nunca quis agredir ninguém. Nenhuma das minhas declarações é agressiva, não ataco a figura humana dos gays. Ser gay é um direito. Mas não pode ser visto como um privilégio.


EXAME.com - Supondo que a data seja criada, o senhor não teme que estimule manifestações violentas contras os gays? Principalmente em pontos da cidade em que já foram registrados diversos ataques, como a região da Avenida Paulista.

Acho que não. O problema é que nos mesmos lugares de São Paulo onde foram agredidos gays, foram agredidos nordestinos, mas quem fala sobre isso? Parece que nordestino não é gente. Pode matar? Agora, se é gay, dá repercussão nacional. Qualquer agressão tem que ser repreendida. Os agressores deveriam ser presos, pegar prisão perpétua.

EXAME.com - O senhor tem recebido críticas por causa do projeto?

Sim, chegam e-mails aos montes. As pessoas me xingam, falam, esculhambam. Eu vou continuar amando a figura do gay, vou continuar respeitando, mas também vou continuar sendo contra os privilégios e excessos. Não posso deixar de emitir minha opinião e falar sobre o que creio ser correto só porque não vão gostar.

EXAME.com - E os comentários dos colegas políticos?

Os políticos ficam preocupados com votos e são demagogos. Falam uma coisa em público, mas acreditam em outras. Há muitos deputados, vereadores, que me dão razão, mas ninguém quer usar tribuna nem dar entrevista. Mas a prova de que eles concordam comigo é que o projeto foi aprovado. Mas se forem questionados, muitos vão dizer que não viram que se tratava desta proposta, ou que estavam no banheiro na hora da votação.

EXAME.com - O senhor acha que o Dia do Orgulho Heterossexual tem chances de ser realmente criado?

Não quero constranger o prefeito, forçando a barra para ele aprovar. Se fizer isto, vou deixa-lo constrangido, em uma situação complicada. Vou deixar por conta dele. 

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