Fernando Haddad: a rejeição ao petista entre evangélicos deriva de fatores concretos, como a corrupção do partido e a crise econômica (Paulo Whitaker/Reuters)
Da Redação
Publicado em 17 de outubro de 2018 às 05h35.
Última atualização em 17 de outubro de 2018 às 10h06.
Enquanto a esperada versão 2018 da Carta ao Povo Brasileiro não vem, o PT segue nesta quarta-feira em sua tentativa de atrair apoios pontuais para tirar, no varejinho, a enorme diferença de Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno.
Nesta quarta-feira o candidato petista, Fernando Haddad, deve divulgar uma carta aos evangélicos em que, segundo a Folha, se comprometerá com os valores da vida e da família. Segundo o Datafolha, Bolsonaro tem 40 pontos de vantagem entre os evangélicos. Também nesta quarta o petista se reúne com lideranças evangélicas em São Paulo.
A rejeição ao petista entre evangélicos deriva de fatores concretos, como a corrupção do partido e a crise econômica, mas também de uma enxurrada de notícias falsas sobre seu apoio a práticas como incesto e educação homossexual de crianças. Os evangélicos são cortejados há tempos pelos partidos e compõem uma das mais amplas bancadas do Congresso. Estima-se que devem chegar a 180 o número de parlamentares em 2019.
Após os evangélicos, Haddad deve encontrar-se com juristas, na quinta-feira, com reitores e cientistas, na sexta, e com artistas na próxima terça-feira. Ontem, o petista recebeu apoio de José Carlos Dias, ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso, e do ator Wagner Moura, que viveu o Capitão Nascimento, um dos ídolos dos bolsonaristas.
A grande pergunta é: de apoio em apoio Haddad chegará a algum lugar nos 11 dias que faltam até os brasileiros irem às urnas? Segundo Sérgio Praça, cientista político da FGV e colunista de EXAME, não. “Haddad só chegará perto de Bolsonaro se encontrar um vídeo do ex-capitão ensinando colegas a entrar em conluio com outros funcionários para aumentar seu salário, lesando os cofres públicos”, afirma Praça, citando o material que caiu no colo de Eduardo Paes (DEM), contra o ex-juiz federal Wilson Witzel (PSC), seu adversário ao governo do Rio.
Para o cientista político Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria, “a virada do PT só vai acontecer se a legenda adotar um discurso mais conservador, tratando de questões como ‘kit gay’ e criminalização do aborto”, afirma. Ou seja, precisaria de um tiro de canhão, que fale com os evangélicos, que representam 24% da população brasileira, mas também com católicos, que respondem por 60% dos brasileiros e que também dão vantagem a Bolsonaro nas urnas (48% a 42%).