São Paulo - Apenas uma das sete obras de emergência previstas pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para "atravessar o deserto de 2015" sem decretar rodízio oficial no abastecimento de água na região metropolitana já foi iniciada, segundo o presidente da estatal, Jerson Kelman.
"Hoje está sendo feita apenas uma (obra), que é a ligação do (Rio) Guaió com a (Represa) Taiaçupeba. Brevemente, começará outra, que são duas adutoras que levarão água do (Sistema) Rio Grande para Taiaçupeba (Sistema Alto Tietê)", disse Kelman, em debate sobre a crise hídrica promovido anteontem pelo jornal Folha de S.Paulo.
A ligação do Rio Grande, que é um braço da Represa Billings, com a Taiaçupeba é considerada a obra mais urgente.
O objetivo é levar 4 mil litros por segundo para o Alto Tietê, cuja estação de tratamento está subaproveitada porque o manancial está com 22,7% da capacidade. Com isso, a Sabesp prevê levar mais água desse sistema para socorrer a área do Cantareira.
Ao anunciar a ligação das duas represas, no fim de janeiro, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que a obra começaria em fevereiro e seria concluída em maio.
Agora, a previsão de entrega é julho, segundo a Sabesp.
O custo estimado é de R$ 130 milhões, e os contratos para execução das obras físicas e aquáticas, no valor de R$ 46,6 milhões, foram assinados sem licitação no dia 27.
Além desse projeto e da obra já iniciada que prevê levar 1 mil litros por segundo do Rio Guaió para a Taiaçupeba, o pacote de intervenções emergenciais inclui a ligação do Rio Itatinga ao Sistema Alto Tietê e dos Rios Capivari e Juquiá ao Guarapiranga.
Além disso, a Sabesp pretende ampliar de 4 mil para 5 mil l/s a transferência de água da Billings para a represa da zona sul da capital e, com isso, ampliar a capacidade do Sistema Guarapiranga de 15 mil para 16 mil l/s.
Neste caso, um contrato de R$ 41,6 milhões, sem licitação, já foi assinado.
Condições
Para Kelman, a conclusão das obras emergenciais sem atrasos é umas das condições necessárias para não adotar o rodízio.
As outras duas são a continuidade da economia de água pela população e que o Cantareira receba até 80% da água que entrou no manancial em 2014, pior ano da história.
"Nós fizemos um elenco de possíveis obras, que serão defasadas no tempo, na medida que forem sendo necessárias", afirmou Kelman, sobre o ritmo de execução das obras.
Ele disse que a ideia das intervenções surgiu durante um sobrevoo que fez na região em seu terceiro dia à frente da Sabesp para detectar novas fontes de recursos de abastecimento.
À época, o Cantareira caminhava para esgotar o segundo volume morto.
A recuperação parcial aconteceu com as chuvas de fevereiro e março, que ficaram acima da média.
Ontem, porém, no primeiro dia da estação seca, que vai até setembro, não caiu nenhum milímetro nos seis mananciais da região.
O único que não registrou queda foi o Cantareira (que subiu 0,1 ponto, para 19,1%), reflexo ainda da precipitação de segunda. Apesar disso, Kelman acha que o rodízio não será necessário.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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1. Uma história de ataques e danos
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São Paulo - A relação das cidades com as
águas é um negócio curioso. Os homens sempre procuraram se fixar ao longo dos grandes rios para ter água e vias de transporte próximas. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento urbano acarretou a deterioração desses recursos hídricos, comprometendo sua quantidade e qualidade. No maior estado do Brasil, não foi diferente. A história de São Paulo com seus rios é marcada por ataques e danos, que se repetem até hoje e nos ajudam a entender a crise hídrica que assombra a região de um jeito diferente
— mais integrado. Veja nas fotos 10 números que mostram o descaso do Estado paulista com este bem tão precioso.
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2. Passe livre para poluir
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Tão importante quanto ter água em quantidade é ter água de boa qualidade. São Paulo deixa de tratar quase 57% dos esgotos gerados, segundo dados do Sistema Nacional de Informações de Saneamento Básico do Ministério das Cidades. Toda essa água suja ameaça as reservas limpas e encarece os custos de tratamento no futuro.
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3. Zero tratamento
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Entre os 645 municípios do Estado, pelo menos 60 não possuem tratamento algum de esgoto. Sem rede adequada, todo o esgoto gerado vai parar nos rios próximos. Em todos eles, a coleta de esgoto não passa de 40% dos domicílios.
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4. Ainda tem gente sem acesso à coleta de esgoto
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Quase 25% da população do Estado de São Paulo ainda não conta com serviços de coleta de esgoto. Quem mora nessas situações, precisa recorrer a métodos de risco para a saúde, como o uso de fossa negra.
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5. Desperdício
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De cada 100 litros de água coletada e tratada, apenas 66 litros chegam são e salvos na casa dos paulistas. Os outros 34 litros ficam pelo caminho. Ligações clandestinas, vazamentos, obras mal executadas ou medições incorretas no consumo de água são as principais causas das perdas. Um quadro imperdoável para um recurso tão precioso e cada vez mais escasso.
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6. Despejo ilegal
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No entanto, nem toda a água que sai das indústrias em forma de esgoto retorna limpa para o meio ambiente, como deveria acontecer. A cada hora, as indústrias paulistas descartam cerca de dez milhões de efluentes cheios de resíduos tóxicos e sem tratamento algum nos rios e lagos dos municípios de São Paulo. Por dia, o descarte ilegal de esgoto industrial daria para encher dois lagos do Parque Ibirapuera, segundo estudo feito pela Grupo de Economia da Infraestrutura e Soluções Ambientais, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
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7. Descaso com as áreas verdes piora a crise
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Nos últimos 50 anos, a região da Cantareira teve quase 80% de sua vegetação nativa desmatada, segundo um
levantamento feito pela Fundação SOS Mata Atlântica. Atualmente, restam apenas 21,5% da cobertura original nas bacias hidrográficas e nos 2.270 quilômetros quadrados do conjunto de seis represas que compõem o Sistema Cantareira. Os impactos do
desmatamento em áreas de manancial são significativos. A floresta tem papel essencial na prevenção de secas, pois reabastece os lençóis freáticos e impede a erosão do solo e o assoreamento de rios.
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8. "Joga no rio que o rio resolve"
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A política do laissez-faire com relação ao manejo do lixo resulta em situações como a que deixou atônita a população da região de Salto, em Sorocaba, em julho do ano passado. Por conta da estiagem severa, o Rio Tietê, que corta o centro da cidade, transformou-se num fio de água e expôs toneladas de lixo acumulado ao longo de décadas.
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9. Clandestinidade impera
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Na grande maioria dos casos é dos poços artesianos que os caminhões pipa retiram água. A cidade de São Paulo tem cerca de 2000 poços outorgados pelo DAEE, mas especialistas do setor estimam em mais de 8 mil o número de clandestinos, que incluem tantos poços operantes, como paralisados.
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10. Rodízio "vetado"
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O rodízio de água era a primeira opção apresentada pela Sabesp para contornar os níveis decadentes do sistema Cantareira. O plano foi formalmente entregue em janeiro de 2014 ao Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE), mas foi descartado pelo governo Alckmin. Na ocasião, o rodízio proposto era de 48 horas com água e 24 horas sem para as localidades atendidas pelo Cantareira. Se tivesse sido implementada há um ano, a medida poderia ter resultado em uma economia de 120 bilhões de litros em 2014.
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11. Tietê na UTI
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O mais importante rio do estado de São Paulo também é o mais poluído do Brasil, segundo o levantamento “Indicadores de Desenvolvimento Sustentável”, do IBGE.
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12. Água no ralo
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