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Espiões russos no Brasil: como o governo age para identificá-los e neutralizá-los

Corpos diplomáticos, comitivas estrangeiras e viagens de funcionários ao exterior entram no radar da Abin

Inteligência adversa: atuação de espiões russos revela preocupação com segurança da informação no Brasil (Antonio Cruz/Agência Brasil)

Inteligência adversa: atuação de espiões russos revela preocupação com segurança da informação no Brasil (Antonio Cruz/Agência Brasil)

Agência o Globo
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Publicado em 2 de junho de 2025 às 06h54.

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A descoberta da atuação de pelo menos nove agentes russos no Brasil, relatada no mês passado pelo The New York Times, soou como algo corriqueiro entre profissionais de contrainteligência do governo brasileiro. Essa divisão da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) se dedica exatamente a tentar identificá-los e detê-los — em um trabalho em que a atenção é voltada tanto para diplomatas estrangeiros quanto para funcionários do governo brasileiro menos precavidos em relação ao sigilo de informações.

Quem acompanha este trabalho avalia que a estratégia de manter espiões pelo mundo não é uma exclusividade russa, embora o país seja comandado por um ex-oficial da KGB, Vladimir Putin. Pesa ainda para o Brasil atrair espiões, analisam, o destaque obtido este ano. O país assumiu a presidência do Brics, bloco de nações em desenvolvimento, e se tornou sede da próxima edição da Conferência do Clima, a COP30, em Belém.

Espionagem e inteligência adversa

Enquanto a Polícia Federal investiga crimes cometidos por parte desses estrangeiros, a Abin se concentra em detectar, prevenir e neutralizar ações de sabotagem e espionagem contra o Estado brasileiro, chamadas de inteligência adversa. Um dos alvos que passa pelo crivo da agência é o corpo diplomático das embaixadas. Em 2023, a Abin identificou um espião da Rússia chamado Serguei Chumilov, que se passava por integrante da representação do país, em Brasília. Chumilov tentava cooptar informantes entre brasileiros. Ele deixou o país após o seu disfarce ser revelado.

É comum integrantes da agência se reunirem com servidores do governo, secretários, ministros e o próprio presidente da República, antes de viajarem ao exterior ou receberem comitivas estrangeiras. O objetivo é alertá-los sobre pessoas que já trabalharam no serviço de inteligência de seus respectivos países e apontar as estruturas mais vulneráveis dos seus órgãos.

Uma das especialidades desses agentes é conhecer as técnicas, culturas e legislações relacionadas aos serviços secretos de outros países. Há diversos métodos de espionagem, como a obtenção de identidades falsas. É o caso de Sergey Cherkasov, que se passava pelo estudante carioca Victor Müller Ferreira e é o único dos nove espiões russos que está preso no Brasil desde 2022. Cherkasov foi detido após ser admitido para um estágio no Tribunal Penal Internacional, em Haia. Detalhes da trajetória dele no Brasil foram revelados pelo GLOBO.

Softwares invasivos e risco digital

Outros países preferem trabalhar com o recrutamento de fontes em troca de dinheiro para o fornecimento de informações sensíveis. E há os serviços de inteligência que usam hackers e softwares invasivos, como o israelense Pegasus, para monitorar possíveis alvos e estruturas de governo. No Brasil, o uso desse tipo de ferramenta é proibido.

Nos últimos anos, cresceu a preocupação entre os agentes sobre o uso de ferramentas para a extração de dados sensíveis de sistemas de controle brasileiros, que não possuem barreiras adequadas para evitar invasões. Dentro da Abin, há ainda um grupo específico, focado em fazer uma verificação interna para prevenir o intuito maior de todo órgão de inteligência: a infiltração em uma agência de outro país.

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