Rua Augusta: na década de 1960, a Augusta foi o espaço escolhido para a abertura de bares que recebiam pessoas de diferentes idades, mas com a chegada dos grandes shoppings as lojas se mudaram e a rua entrou em um período de decadência. (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 6 de abril de 2013 às 09h56.
São Paulo - Dotada de grande magnetismo, cenário de manifestações artísticas alternativas e espaço de lazer noturno para todos os gostos, a Rua Augusta se apaga sob a ameaça da especulação imobiliária que avança no coração de São Paulo.
A Augusta, como é mais conhecida, nasce no centro da cidade mais populosa do Brasil e ao longo do seu traçado a paisagem muda de acordo com as vitrines, o tamanho das calçadas e a renda de seus transeuntes.
Em seu trajeto até a Avenida Paulista, o centro financeiro de São Paulo, a Augusta se transforma na máxima representante da polifonia sociocultural da cidade.
Testemunha da pujança econômica que viveu o estado desde meados do século XIX, o desenvolvimento da capital paulista se caracterizava por derrubar o velho para construir o novo.
"A Augusta se preservou desse fenômeno", disse à Agência Efe o diretor de cinema Francisco César Filho, realizador do filme "Augustas", protagonizado por um jornalista que vive na emblemática rua.
Desta vez, porém, a Augusta pode não sobreviver às mudanças, a julgar pela efervescência construtora, que fez com que onde antes havia uma boate agora seja fácil encontrar um terreno pronto para abrigar mais um edifício.
Para o cineasta, a origem do "espírito especial" da via nasceu na década de 1960, quando começaram a ser estabelecidas lojas refinadas e também espaços vanguardistas.
Além disso, a Augusta foi o espaço escolhido para a abertura de bares que recebiam pessoas de diferentes idades, mas com a chegada dos grandes shoppings as lojas se mudaram e a rua entrou em um período de decadência.
Pouco depois, na década dos 1980, proliferaram os bordéis e a prostituição popular, o que não impediu a presença de jovens alternativos e a inauguração de discotecas e bares noturnos que até hoje satisfazem todos os gostos musicais.
Na opinião do cineasta, a partir de 2000 a rua passou a viver um momento de plenitude, se transformou em um importante polo de lazer noturno, onde os prostíbulos convivem em total harmonia com bares, teatros, cinemas e restaurantes.
A Augusta se transformou então na praça pública onde se encontram pessoas de idades, classes sociais e tribos urbanas distintas.
No entanto, sua alma começa a perigar ao ritmo das construções, que começaram a estender suas ramificações pela rua da boemia, atraídas por sua localização privilegiada.
Para Francisco César, se a economia brasileira continuar como está agora, "com dinheiro fácil para a construção civil", a Augusta sucumbirá plenamente.
"O único momento no qual não consigo passear por essa rua é agora. É muito doloroso", acrescentou com nostalgia.