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Especialistas veem riscos em reabertura em SP; mortes sobem 18% em 7 dias

Na capital, a taxa de ocupação das UTIs era de 92% nesta quarta-feira; prefeitura alega que é possível alugar leitos da rede privada

São Paulo: estado registra 3.844 mortes por coronavírus (Miguel Schincariol/Getty Images)

São Paulo: estado registra 3.844 mortes por coronavírus (Miguel Schincariol/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 28 de maio de 2020 às 10h00.

Última atualização em 28 de maio de 2020 às 10h23.

A proposta de iniciar a reabertura no Estado de São Paulo, sem a clareza de que estamos em uma curva descendente de infecções, é arriscada, segundo especialistas ouvidos pelo Estadão. Além disso, pode desperdiçar resultados do isolamento social na quarentena.

Na capital, por exemplo, a taxa de ocupação das UTIs era de 92% nesta quarta-feira. A Prefeitura argumenta, porém, que é possível ampliar a rede disponível, uma vez que pode alugar leitos da rede privada. Na última semana, o número de mortes na cidade aumentou 18,2%, passando de 3.252 para 3.844 registros.

"Como a rede hospitalar já está bem ocupada, o provável é que o governo tenha de segurar ou mesmo rever essa reabertura em algumas semanas. Porque a tendência é aumentar o Rt (índice de transmissão) e consequentemente mais caso", opinou Daniel Dourado, médico e advogado sanitarista, pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Direito Sanitário da USP. "O que precisa fazer agora é cobrar do governo estadual para mostrar essa avaliação entre Rt e casos esperados diante da capacidade da rede."

Professora do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciência Médicas da Santa Casa de São Paulo, a epidemiologista Maria Amélia Veras diz ter recebido a notícia da reabertura com "preocupação". Ela alerta que, para o plano dar certo, o monitoramento da pandemia não pode falhar -- hipótese pouco provável diante do cenário de subnotificação de casos, da ausência de dados conclusivos sobre prevalência (a chamada "imunidade de rebanho") e até da possível pressão política em alguns municípios.

"É racional adotar medidas diferenciadas de acordo com a transmissão de cada região, mas tenho certa dúvida sobre o calibre dos dados existentes que podem fundamentar essa decisão" afirma Maria Amélia. "Para revisar toda semana, precisa haver um monitoramento muito fino que permita intervenção rápida. Se o diagnóstico falhar ou as informações disponíveis não forem suficientes, pode acontecer um desastre."

Professor de administração pública da FGV, Nelson Marconi, lembrou que Coreia do Sul, China e Vietnã só começaram a flexibilizar o isolamento após queda no nível de contágio. Em comum, também haviam testado a população em massa e usar a tecnologia para monitorar as pessoas em locais públicos.

"Somos atualmente o epicentro da doença do mundo. Entendo a reabertura como risco e me parece que foi tomada sob pressão do setor do comércio. O momento, na minha opinião, era de pressionar o governo federal para que colocasse à disposição um programa de renda mais amplo e linhas de créditos mais fáceis para o pequeno empresário. A reabertura pode gerar uma segunda onda e piorar o sistema público de saúde." 

Setores querem maior flexibilização em SP

Os setores econômicos aprovaram a flexibilização da quarentena, mas fizeram cobranças para a retomada das atividades. Segundo os representantes ouvidos pelo Estadão, há detalhes que não foram esclarecidos.

O presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping, Nabil Sahyon, reclama da restrição de quatro horas para o funcionamento dos estabelecimentos. Em outros Estados que liberaram a abertura dos shoppings, são oito horas.

"Entendemos que é importante voltar a abertura para começarmos a respirar um pouco, porque os lojistas já estão muito prejudicados. Mas gostaríamos que mudasse a restrição do horário. É muito complicado abrir a loja e chamar o funcionário para atender por apenas quatro horas. Quanto mais tempo, menos aglomeração", disse Sahyon, que calcula prejuízo de R$ 26 bilhões nos 577 shoppings espalhados pelo Brasil.

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo cobrava uma posição do governo para dar "um horizonte" aos empresários, de acordo com o assessor econômico da entidade, Altamiro Carvalho. "O prejuízo foi contundente em atividades varejistas e consequentemente em todo o setor econômico", afirmou Carvalho, que falou em perdas de R$ 45 bilhões.

A FecomercioSP conversa com o governo para haver medidas de amparos, como o processo burocrático rápido para a retomada e a postergação das obrigações tributárias. "É preciso dar fôlego aos comerciantes. Os que não quebraram vão estar muito fragilizados para retomar. Esperamos que haja sensibilidade", reforçou Carvalho.

O presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias, Luiz França, comemorou o fato de os stands de vendas de apartamentos poderem voltar a funcionar. Ele diz que o setor manteve 94% das obras em funcionamento na quarentena, com "normas sanitárias bastante rígidas". "Achamos que vai aparecer uma nova classe de comprador, que quer um conforto maior por passar mais tempo em casa."

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