Brasil

Especialistas sobre imposto de armas: "Menos arrecadação e mais gastos"

Presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta quarta-feira que governo zerou taxa de importação, que era de 20%

Imposto de importação de armas: Sem a taxa de importação vigente, o número de armas em circulação no país tende a crescer (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Imposto de importação de armas: Sem a taxa de importação vigente, o número de armas em circulação no país tende a crescer (Fernando Frazão/Agência Brasil)

AO

Agência O Globo

Publicado em 9 de dezembro de 2020 às 16h34.

Última atualização em 9 de dezembro de 2020 às 18h35.

Enquanto o país bate recordes de importação de armas de fogo, o governo federal anunciou nesta quarta-feira que zerou o imposto de importação de revólveres e pistolas. Especialistas em Segurança Pública ouvidos pelo GLOBO afirmam que a medida incentiva o acesso às armas pela sociedade, em meio a uma flexibilização e esvaziamento dos mecanismo de controle e fiscalização.

A extinção da taxa de importação, que era de 20% até então, foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) e citada pelo presidente Jair Bolsonaro em rede social. A medida atende a uma das principais bandeiras de Bolsonaro, de ampliar o acesso às armas de fogo para a população.

De acordo com a pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Isabel Figueiredo, essa é mais uma medida tomada sem a apresentação de estudos de impacto social e econômico. Para ela, zerar os impostos de importação faz com que aumente a circulação de armas de fogo no país e, consequentemente, o acesso de criminosos aos artefatos.

"Temos, desde o início do ano passado, medidas que vão flexibilizando o acesso às armas, casadas com discursos que incentivam as pessoas a buscarem armas. Um ingrediente dessa mistura é a ausência de política de Segurança Pública. O resultado estamos começando a ver. Desde o fim do ano passado, o índice de violência voltou a crescer" diz Isabel, que alerta ainda para a falta de mecanismos de controle:

"Teremos, cada vez mais, armas de altos calibres circulando pela sociedade. É diferente quando pensamos na isenção para a compra de armas pelas polícias. Seria justificável. Como estamos falando para o cidade comum, é apenas uma irresponsabilidade. Tivemos em abril a revogação da portaria que prevê, minimamente, um sistema de rastreamento de armas e munições. Não existe um limite entre a arma legal e a arma ilegal. A arma legal migra para o crime. Ela vai se envolver em um homicídio na ponta. Essa arma é perdida, furtada, negociada e muito rapidamente vai entrar no mercado do crime".

Sem a taxa de importação vigente, o número de armas em circulação no país tende a crescer. A medida, além de retirar uma fonte de arrecadação do Estado, poderá onerar outros setores da economia, como Saúde, Segurança e o sistema penitenciário, uma vez que com mais armas, a incidência de casos de violência aumenta, como explica Felippe Angeli, gerente de advocacy do Instituto Sou da Paz.

"O país vive uma crise financeira, sanitária, social, e uma crise federativa que se avizinha pela briga por vacina contra a Covid-19. O presidente, no momento em que o país tem problemas consideráveis do ponto de vista fiscal, mostra que esse é um tema pessoal. Um dos fatores que implica na decisão de mudança tributária é o impacto social e econômico. Os danos que esses produtos geram na sociedade. Mais armas em circulação, mais gastos com saúde, segurança e com o sistema penitenciária. É necessario que o Estado taxe esses produtos parar arcar, inclusive com esses gastos".

A medida entra em vigor em 1º de janeiro do ano que vem. A redução no imposto não incide em espingardas e carabinas, armas de caça, armas de fogo carregáveis exclusivamente pela boca, pistolas lança-foguetes e outros aparelhos concebidos apenas para lançar foguetes de sinalização, pistolas e revólveres para tiro de festim, pistolas de êmbolo cativo para abater animais e canhões lança-amarras.

 

Acompanhe tudo sobre:ArmasGoverno BolsonaroIndústria de armasSegurança pública

Mais de Brasil

Banco Central comunica vazamento de dados de 150 chaves Pix cadastradas na Shopee

Poluição do ar em Brasília cresceu 350 vezes durante incêndio

Bruno Reis tem 63,3% e Geraldo Júnior, 10,7%, em Salvador, aponta pesquisa Futura

Em meio a concessões e de olho em receita, CPTM vai oferecer serviços para empresas