Em dezembro, o índice de evolução da produção foi de 42,5 pontos. O segundo mês consecutivo em que o indicador fica abaixo dos 50 pontos (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter
Publicado em 24 de janeiro de 2025 às 19h24.
Última atualização em 24 de janeiro de 2025 às 19h49.
A Sondagem Industrial, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), nesta sexta-feira, 24, aponta que os empresários industriais têm expectativas positivas para 2025, apesar de o desempenho do setor ter caído no último mês de 2024.
Em dezembro, o índice de evolução da produção foi de 42,5 pontos. Pela metodologia da pesquisa, valores abaixo de 50 pontos sinalizam queda da produção frente ao mês anterior, que também foi negativo, com 48,4 pontos. O resultado, segundo a CNI, indica que os agentes do setor notaram recuo da atividade industrial.
Ainda assim, os indicadores de expectativa de demanda, quantidade exportada, compras de matérias-primas e número de empregados, que já se encontravam acima dos 50 pontos no último mês de 2025, avançaram em janeiro e confirmaram o otimismo que já era esperado para este ano.
O índice de expectativa de demanda, por exemplo, ficou em 53,8 pontos em neste primeiro mês. Um avanço de 1,3 ponto frente a dezembro. Nesse caso, os indicadores variam de zero a 100 e valores acima de 50 indicam expectativa de crescimento e, abaixo, queda. Quanto mais distante dos 50 pontos, maior e mais disseminada também é a variação.
A expectativa de crescimento da demanda, por exemplo, se tornou mais intensa e disseminada na indústria para o primeiro semestre de 2025, segundo a CNI, que destaca ainda o ânimo como comum às indústrias de todos os portes.
A expectativa de compras de matérias-primas também registrou um avanço de 1,2 ponto pelo segundo mês consecutivo, ao marcar 52,7 pontos em janeiro. "O índice do mês revela que a expectativa de aumento da compra de matérias-primas se tornou mais intensa e disseminada em janeiro. Todos os indicadores para indústrias de diferentes portes avançaram no mês", mostra a sondagem.
No caso da expectativa de quantidade exportada, o crescimento foi de 0,6, indicando 52,1 pontos neste mês. O resultado também foi mais intenso e disseminado no primeiro período do ano e puxado pelo crescimento nos índices para empresas de médio e grande porte.
Já o índice de expectativa de número de empregados ficou em 51,1 pontos em janeiro de 2025. O indicador avançou 0,5 ponto frente a dezembro de 2024, quando ficou em 50,6 pontos. A confederação diz que o indicador revela uma expectativa de aumento do número de empregados para o primeiro semestre de 2025 de forma mais intensa e disseminada.
O avanço também é associado ao crescimento dos indicadores para empresas de pequeno e grande porte.
Mas, apesar do ânimo do setor, há uma certa cautela principalmente devido aos problemas enfrentados no quarto trimestre do ano passado.
Pelo menos 30,6% dos industriais listaram a "elevada carga tributária" como o principal obstáculo enfrentado pelo setor. O resultado repete a primeira posição do ranking de principais problemas em todos os trimestres do ano.
Na sequência aparece a taxa de câmbio, assinalada por 29,3% dos industriais, um salto sobre os 14% que a apontavam como o principal problema no terceiro trimestre de 2024.
"Como boa parte dos insumos usados pela indústria brasileira é importada, a desvalorização do real afeta diretamente os custos das empresas. Não à toa, isso fez a preocupação com o câmbio subir de oitavo para segundo lugar na lista dos principais problemas", diz Marcelo Azevedo, gerente de análise econômica da CNI.
As taxas de juro elevadas foram a terceira preocupação mais citada por 25% dos empresários.
A sondagem foi feita entre os dias 7 e 17 de janeiro de 2025, com 1.519 empresas. Desse total, 610 são pequenas, 540 médias e 369 grandes.
O resultado da pesquisa é semelhante ao que vem sendo apontado por investidores em outros estudos. A 12ª edição do Barômetro da Infraestrutura, divulgada no último dia 15, mostrou que a confiança persiste, mas o cenário macroecônomico do país e do exterior acende sinal amarelo.
Dentre os obstáculos mencionados está ciclo de juros elevados, que persiste nas economias mundiais, e a intensificação dos conflitos geopolíticos, que potencializa as incertezas, e até medidas protecionistas.
Considerados os principais braços de financiamento da Nova Indústria Brasil (NIB), o BNDES e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) acompanham os desafios nacionais e internacionais, mas dizem não acreditar que eles prejudicarão a indústria nacional.
"O possível contexto global ruim, que ainda não está claro se será isso mesmo, talvez provocará uma redução de expansão [dos indicadores positivos da indústria], mas não não vai ser um quadro de recessão. Ele vai atingir o Brasil de uma forma ou de outra, não sei qual, mas com certeza não será tão forte na indústria, temos instrumentos e projetos andando para garantir a situação do PIB industrial", afirmou Celso Pansera, presidente da Finep à EXAME.
José Luiz Gordon, diretor de desenvolvimento produtivo, inovação e comércio exterior do BNDES, também destaca que a linha Mais Inovação, que faz parte do Plano mais Produção, de financiamento da nova política industrial, seguirá sendo mais acessível às empresas por ser remunerado pela Taxa Referencial (TR) e não pela Selic.
A TR é calculada pelo Banco Central e serve de indexador para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a caderneta de poupança e títulos de capitalização. Nos últimos 12 meses, a TR acumulada era de 0,8%.
"A maioria dos grandes países mais desenvolvidos até usa recursos não reembolsáveis para isso, nós estamos com a TR, que é uma taxa mais barata, pró-ativa e tem muita coisa interessante acontecendo por causa dela e esperamos poder apoiar mais projetos ao longo desse ano", disse Gordon.
O executivo acrescenta que o setor industrial segue demandando o banco de fomento.
"Há um grande processo de investimento no setor industrial. Claro que nós vamos acompanhar, com a subida de juros, tudo, mas nós entendemos que tem um ambiente favorável, vamos observar aos pouquinhos o que está acontecendo. Mas acabo de vir da diretoria agora aprovando projetos."