Brasil

Em um mês, Centro-Oeste tem quatro vezes mais mortes por covid-19

O total de casos de coronavírus foi de 15.550 para 85.103 em um mês. Mato Grosso foi o estado no qual a doença mais avançou

Hospital sendo desinfetado em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)

Hospital sendo desinfetado em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 30 de junho de 2020 às 13h53.

Última atualização em 15 de julho de 2020 às 21h01.

As mortes pelo novo coronavírus mais do que quadruplicaram em um mês na região Centro-Oeste brasileira. Já o número de casos aumentou cinco vezes e meia. Do dia 29 de maio até esta segunda-feira, 29, os óbitos cresceram de 363 para 1.618 na região. Enquanto isso, o total de casos positivos pulou de 15.550 para 85.103. Os dados incluem o Distrito Federal. O avanço maior aconteceu em Mato Grosso, onde o número de mortes passou de 56 para 536 - dez vezes mais - e o de casos, de 2.103 para 14.687 - quase sete vezes. Em Goiás, os óbitos mais que triplicaram, de 119 para 435, enquanto os casos avançaram quase sete vezes, de 3.319 para 21.984.

O governador goiano Ronaldo Caiado (DEM) anunciou em videoconferência um lockdown (isolamento completo) intermitente, com 14 dias de paralisação total nas atividades econômicas e outros 14 de reabertura. A medida entra em vigor nesta terça-feira, 30, mas depende da adesão dos prefeitos. O Estado registrou 20 mortes nas últimas 24 horas.

"Estamos extrapolando mil casos novos por dia, com a capacidade de leitos próxima do limite e com falta de equipes médicas. Também há falta de medicamentos para sedar os pacientes, por isso cancelamos todas as cirurgias eletivas no Estado de Goiás", disse Caiado.

O fechamento intermitente foi decidido após estudo da Universidade Federal de Goiás (UFG) apontar que o número de pessoas infectadas pelo vírus triplicou em 20 dias, saindo de uma taxa de 0,7%, em 30 de maio, para um índice de 2,1% em 20 de junho. De acordo com o pesquisador Thiago Rangel, do Instituto de Ciências Biológicas, a continuar essa evolução, a cidade chegará ao fim de julho precisando de dois mil leitos de UTI, ante os atuais 437. "A demanda de leitos vai duplicar em 15 dias e pode haver colapso ainda na primeira quinzena de julho", alertou.

O estudo considerou que, diante da inviabilidade de fechar tudo até setembro, o fechamento alternado a cada 14 dias pode causar uma redução de 61,5% nos óbitos até setembro, equivalente a poupar 10.500 vidas. O secretário estadual da Saúde, Ismael Alexandrino, reconheceu que a situação é grave. "Temos uma média de ocupação de leitos de 86,6%, que é considerada crítica, pois deveríamos ficar abaixo de 8%. O problema é que o número de internações está superando o de altas e nosso estoque de medicamentos dá para apenas seis dias."

Em Goiânia, são 6.367 registros positivos e 154 óbitos. Na semana passada, o prefeito Iris Rezende (MDB) assinou decreto autorizando a reabertura de comércio e serviços na Região da 44, segundo maior polo de confecção e moda do País, com 120 empreendimentos, entre shoppings, galeria e hotéis. A reabertura gradual está prevista para esta terça, 30. Após participar da videoconferência com o governador, Rezende disse que discutiria as medidas propostas por Caiado com sua assessoria.

Em Mato Grosso, após confirmar 534 novos casos em 24 horas, a taxa de ocupação de leitos de UTI atingiu 94,1% na segunda-feira com 224 pessoas internadas com coronavírus. "As equipes de regulação encontram grande dificuldade para a transferência dos pacientes aos leitos de terapia intensiva, pois as unidades referenciadas já chegaram à lotação, contando apenas com leitos de retaguarda", informou a secretaria da Saúde.

No domingo, 28, um jovem de 23, diagnosticado com a covid-19, morreu em casa, no bairro Bosque da Saúde em Cuiabá, à espera de ambulância para ser encaminhado à UTI.

O governo estadual emitiu orientação às prefeituras para adotar medidas mais severas de distanciamento social, com base em boletins de classificação de risco emitidos duas vezes por semana pela pasta estadual da saúde. "O aumento nos casos é decorrência do baixíssimo isolamento social", informou em nota. A classificação envolve os 141 municípios do Estado. Os mais afetados são a capital, Cuiabá (3.570 casos), Várzea Grande (1.165) e Rondonópolis (1.117). A Justiça determinou que a capital e Várzea Grande adotem o lockdown pelo período de 15 dias. A prefeitura de Cuiabá entrou com recurso.

Na quinta-feira, 25, o Tribunal de Justiça do Mato Grosso manteve a decisão de primeira instância por entender que "de acordo com a Organização Mundial de Saúde, o Ministério da Saúde e toda comunidade científica mundial, a prevenção, pelo isolamento social, hoje é a única medida a ser adotada" para conter a covid-19. O prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) disse que a decisão judicial está sendo cumprida. Ele voltou a suspender o atendimento presencial em todos os serviços da prefeitura. Já a prefeitura de Várzea Grande fechou o comércio e proibiu a venda de bebidas alcoólicas geladas em todo o município.

Em Mato Grosso do Sul, foram registrados 49 casos e três óbitos nas últimas 24 horas. O número de mortes era de 18 há um mês e passou para 75 - ao menos quatro vezes mais. Já o de casos aumentou mais de cinco vezes, de 1.356 para 7.676. Já são 171 pessoas internadas.

Na segunda-feira, o governo estadual lançou um programa de segurança para orientar os municípios a endurecer as medidas de isolamento.

As cidades com mais casos, proporcionalmente à população, têm de fechar as atividades comerciais. Em Rochedo, no interior, um frigorífico deu 15 dias de férias a todos os funcionários e fechou para desinfecção, após registrar casos da doença.

Acompanhe tudo sobre:Centro-OesteCoronavírusdistrito-federalMato Grosso

Mais de Brasil

Inmet prevê chuvas intensas em 12 estados e emite alerta amerelo para "perigo potencial" nesta sexta

'Tentativa de qualquer atentado contra Estado de Direito já é crime consumado', diz Gilmar Mendes

Entenda o que é indiciamento, como o feito contra Bolsonaro e aliados

Moraes decide manter delação de Mauro Cid após depoimento no STF