Lenine: o cantor conclui seu pensamento com uma frase do poeta paranaense Paulo Leminski: "O poder é o sexo dos velhos" (YouTube/Reprodução)
Da Redação
Publicado em 19 de janeiro de 2017 às 15h44.
A entrevista concedida pelo cantor Lenine ao programa Morning Show, da rádio Jovem Pan, produziu uma das melhores sínteses sobre o cenário político do Brasil.
O músico pernambucano foi questionado pelo âncora Edgard Piccoli, na última sexta-feira (13), sobre as utopias coletivas e os erros da esquerda brasileira no processo político.
Em tom de desabafo, ele revelou desapontamento com a esquerda no poder — representada pelo governo do PT de 2003 a 2016:
"Com a direita, eu não me senti traído... Eu sabia qual era a regra do jogo. Na hora em que uma esquerda sobe ao poder, sob a égide 'vamos mudar', e faz a mesma coisa, entra nessa equação um sentimento de traição imperdoável... Imperdoável."
O cantor esclareceu que é "imperdoável" a esquerda ter perdido a oportunidade de "realmente pender a balança pra um lado mais humanista". Constatou em suas visitas a Brasília que as velhas práticas da política, impregnadas de corrupção, atingem a esmagadora maioria dos políticos brasileiros.
"É deprimente o nível daquilo ali", disse, em referência aos deputados e senadores que já conheceu.
Em relação ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e ao governo de Michel Temer, ele fez uma clara análise das turbulências da realidade atual:
"Não tem outro jeito. Tem que ter uma fratura exposta mesmo. A gente passou por um terremoto, mas tá vindo um tsunami, meu irmão. E esse tsunami não vai acabar nem tão cedo. Não reconheço este governo que está aí, mas também não reconheço o que estava. A coisa [corrupção] é muito mais generalizada."
Aqui o trecho das declarações mais impactantes:
Lenine conclui seu pensamento com uma frase do poeta paranaense Paulo Leminski: "O poder é o sexo dos velhos".
Uma das pérolas do cantor na entrevista foi uma crítica ao próprio nome, inspirado no comunista Lênin, um dos ídolos do pai dele.
"Eu, pra te ser sincero, se eu tivesse escolhido meu nome, não seria Lenine, não. Estou mais pra Bakunine que qualquer coisa."
Mikhail Bakunin foi fundador do anarquismo na Rússia.
Assista à íntegra da entrevista no vídeo a seguir, a partir do minuto 33: