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Em que ambientes o racismo é mais frequente no Brasil, segundo pesquisa

Shoppings, estabelecimentos comerciais e parques estão entre os locais mais citados no levantamento

Racismo é mais percebido em shopping, estabelecimentos comerciais e no trabalho

Racismo é mais percebido em shopping, estabelecimentos comerciais e no trabalho

Yasmim Faria
Yasmim Faria

Colaboradora

Publicado em 20 de novembro de 2025 às 17h01.

Uma nova pesquisa divulgada nesta quinta-feira, 20, pelo Instituto Cidades Sustentáveis, em parceria com a Ipsos-Ipec, aponta que shoppings, estabelecimentos comerciais, trabalho e espaços públicos de convivência são os locais em que o racismo é mais evidente para a população.

O levantamento "Viver nas Cidades: Relações Raciais" ouviu 3.500 pessoas em dez capitais - Belém, Belo Horizonte, Fortaleza, Goiânia, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo - por meio de painel online.

O objetivo foi descobrir a percepção da população sobre discriminação racial em diferentes espaços sociais, políticas de enfrentamento ao racismo e o papel da população branca na transformação desse cenário.

Onde o racismo é mais evidente?

Oito em cada dez entrevistados afirmam perceber tratamento desigual entre pessoas brancas e negras em diversos serviços. Aqueles em que a discriminação aparece de forma mais clara são:

  • 57%: shoppings e estabelecimentos comerciais (lojas, cinemas, restaurantes, bares, mercados e supermercados, farmácias);
  • 44%: trabalho (no processo de seleção, no dia a dia, na promoção profissional);
  • 31%: rua e espaços públicos de convivência como parques, praças, etc.;
  • 29%: escolas/faculdades e universidades;
  • 16%: transporte público;
  • 15%: hospitais e postos de saúde;
  • 14%: ambiente esportivo (quadras, estádios, clubes, etc.);
  • 9%: local onde morava (vila, condomínio, etc.);
  • 6%: igreja e locais de cultos religiosos;
  • 5%: ambiente familiar.

Apenas 10% dos entrevistados acredita que não existe diferença entre o tratamento, enquanto 12% não soube responder a pergunta.

Também vale ressaltar que Salvador e Belém registram o maior patamar de menções ao tratamento desigual em shoppings e comércios.

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Diferença de renda

A desigualdade também aparece quando se observa o perfil socioeconômico da amostra. Entre os brancos, 52% têm ensino superior, enquanto pretos e pardos se concentram no ensino médio (58%).

A disparidade se repete na renda: brancos são maioria nas classes A e B (40%) e nas faixas de renda mais altas (29% ganha mais de 2 a 5 salários mínimos e 24% recebe mais de 5 salários mínimos), enquanto pretos e pardos têm maior presença na classe D e E (21%) e nas famílias que ganham até dois salários mínimos (52%).

A distribuição etária também reflete diferenças estruturais: a população branca é mais envelhecida (20% com 60 anos ou mais), enquanto pretos e pardos são um pouco mais jovens (26% de 25 a 34 anos).

Consenso sobre a existência do racismo

Embora haja consenso sobre a existência do racismo, a população negra, alvo da discriminação, tem uma visão mais crítica sobre as raízes estruturais do problema e defende com mais firmeza as medidas de combate ao preconceito, como políticas afirmativas e o reconhecimento de privilégios.

Entre as ações mais citadas, destacam-se:

  • 42%: aumento da punição aos atos de injúria racial;
  • 34%: debater o tema em escolas ou incluir no currículo escolar;
  • 33%: punições mais severas para policiais que cometerem abusos contra pessoas negras;
  • 25%: ações das empresas para combater o racismo entre os funcionários e clientes;
  • 22%: maior conscientização nas contratações e na promoção de pessoas negras nos diversos setores;
  • 15%: marcas e empresas se posicionarem em campanhas sobre o racismo;
  • 14%: eliminar as cotas raciais nas universidades e em outras instituições;
  • 11%: criar as cotas raciais em cargos de poder de decisão (diretores, juízes, políticos, médicos, etc.)
  • 8%: ampliar as cotas raciais nas universidades públicas.

A maior divergência - ainda que pequena - aparece quando o tema envolve políticas afirmativas, especialmente cotas em universidades e em cargos de liderança. Brancos acreditam mais do que negros e pardos que eliminar as cotas estudantis é uma saída.

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Percepções gerais sobre desigualdade racial

  • 52% concordam que a maior presença de pessoas negras e indígenas nas universidades é positiva para a sociedade;
  • 48% consentem que a violência policial atinge principalmente a população negra;
  • 44% apoiam que o racismo deve ser tratado como problema central das cidades, com políticas públicas específicas;
  • 41% concordam que ampliar a representatividade negra na política ajuda a reduzir desigualdades estruturais.

Racismo ambiental em pauta

A pesquisa também mostra que grande parte dos entrevistados reconhece que a população negra sofre mais com problemas ambientais urbanos:

  • 50% dizem que negros têm mais dificuldade de acesso à água potável, coleta e tratamento de esgoto;
  • 48% afirmam que são mais afetados por deslizamento de encostas e desabamento de residências;
  • 48% apontam maior impacto sobre negros em casos de inundações e alagamentos.

Qual deve ser o papel das pessoas brancas?

Entre as responsabilidades atribuídas à população branca no combate ao racismo, estão:

  • 49%: se informar mais e se educar sobre o assunto;
  • 32%: se reconhecer como parte do problema, identificando ações racistas nas pequenas atitudes como gírias, piadas, etc.;
  • 31%: intervir em situações de tratamento diferente entre pessoas negras e brancas;
  • 29%: reconhecer os próprios privilégios (e o racismo estrutural);
  • 17%: participar de protestos (físicos ou online) em apoio às reivindicações das pessoas negras;
  • 8%: votar em pessoas negras nas eleições.
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