Farmacêutico abre janelinha para atender cliente em Cachoeira do Itapemirim, Espírito Santo, em meio a onda de violência (Paulo Whitaker/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 8 de fevereiro de 2017 às 08h51.
Última atualização em 8 de fevereiro de 2017 às 09h42.
Vitória - No quarto dia de greve, a sensação de insegurança ainda domina a população: ônibus circularam parcialmente, empresas liberaram funcionários, poucos se arriscaram a sair de casa, e apenas parte do comércio abriu.
A Federação do Comércio avalia o prejuízo em pelo menos R$ 110 milhões (R$ 20 milhões de saques e R$ 90 milhões em vendas perdidas). Ao todo 270 lojas foram roubadas.
Moradores continuaram a compartilhar nas redes sociais imagens de assaltos à luz do dia. À noite, os terminais de ônibus fecharam. Só na segunda-feira, 6, 200 carros foram roubados no Estado, ante a média diária de 20.
E a situação pode piorar: a Polícia Civil decide na quinta-feira se adere à greve. E o Sindicato dos Rodoviários anunciou que os ônibus não circularão hoje.
Segundo Edson Barros, presidente do sindicato, um motorista foi obrigado, na mira de revólver, a usar o ônibus para invadir uma loja.
O reforço da Força Nacional e dos militares do Exército e da Marinha só foi sentido no fim do dia. Pela manhã, com as tropas ainda em deslocamento, a reportagem do Estado circulou pelo Centro e não viu policiamento.
Nesta terça-feira, apenas 500 policiais militares foram às ruas em todo o Estado. Em circunstâncias normais, o efetivo seria pelo menos quatro vezes maior apenas na Grande Vitória.
A reportagem circulou por quatro bairros de Vitória (Praia de Camburi, Praia do Canto, Jardim da Penha e Maruípe) durante a noite e constatou que praticamente não havia movimento de pessoas nem veículos.
Nenhum agente nem viatura foi visto pelo Estado, mas caminhões do Exército ainda circulavam nas imediações do Quartel Central da PM.
Segundo o secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, André Garcia, "a situação está se normalizando" e deve regularizar-se hoje.
O novo comandante-geral da Polícia Militar, coronel Nylton Rodrigues, determinou que todos os agentes se apresentem diretamente no local onde farão o policiamento. A alternativa, contudo, não resolve totalmente o problema, já que os PMs terão de fazer o patrulhamento a pé.
O Ministério Público Estadual constituiu nesta terça-feira um comitê de gestão de crise para garantir o cumprimento voluntário da decisão judicial sobre a greve. A Justiça capixaba já considerou a paralisação ilegal.
Ainda nesta terça-feira, um grupo de pessoas reclamou da paralisação na frente do Quartel Central. A maioria se disse sensível à causa dos PMs, mas todos relataram que o caos na segurança pública, que se instalou desde sábado, afetou o trabalho e, consequentemente, as finanças da casa.
"Desde sábado não vejo uma única moeda", contou o serralheiro autônomo Ronaldo Baldan Ferreira, de 46 anos. "Faz três dias que não trabalho. Tenho medo de sair para a rua e não voltar. Como vou ter certeza de que não vai aparecer um bandido?"
Ele proibiu a família de ir para a rua. "Eles (PMs) estão no direito de protestar. Só não pode acontecer isso que está acontecendo aqui."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.