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Em posse, Sônia Guajajara cita crise humanitária no país com críticas a Bolsonaro

"Precisamos voltar a pensar as políticas de educação para os indígenas, valorizando as identidades plurais, formando professores indígenas, ampliando o acesso e a permanência no ensino superior", declarou a ministra

Sônia Guajajara: nunca mais se vai "permitir outro golpe no país" (Leandro Fonseca/Exame)

Sônia Guajajara: nunca mais se vai "permitir outro golpe no país" (Leandro Fonseca/Exame)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 11 de janeiro de 2023 às 19h05.

Última atualização em 11 de janeiro de 2023 às 19h21.

A ministra empossada dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, destacou que muitos povos indígenas vivem uma "verdadeira crise humanitária" no País. Ao citar os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, Sônia disse que esse "estado institucional" se agravou nos últimos anos, reiterando críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

"Precisamos voltar a pensar as políticas de educação para os indígenas, valorizando as identidades plurais, formando professores indígenas, ampliando o acesso e a permanência no ensino superior", declarou a ministra, em discurso de posse na tarde desta quarta-feira, 11.

Durante a fala, a ministra citou nomes de parentes que morreram pela "bala do fascismo que imperou no Brasil nos últimos quatro anos, derramando, sem pudor, muito sangue indígena". Sônia destacou também a força de Bruno e Dom e, em memória deles, saudou os defensores do meio ambiente dos direitos humanos.

"Nós não somos os únicos que necessitam aqui viver. Nós apenas coabitamos a mãe Terra junto com milhões de outras espécies. O desprezo por essas outras formas de vida, as práticas de desmatamento intenso feitas sempre em nome da economia de curto prazo, têm efeitos devastadores para o futuro de todos nós", afirmou a ministra.

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"Nunca mais vamos permitir outro golpe no país"

Sônia criticou os atos golpistas ocorridos no Distrito Federal no domingo, 8, e disse que nunca mais se vai "permitir outro golpe no país".

Em discurso feito durante cerimônia de posse, Guajajara destacou a resistência dos povos originários e exaltou a força da mulher, a quem atribuiu a "resistência" que não vai admitir o retrocesso no País. Ela ainda defendeu que não pode haver anistia aos terroristas que depredaram as sedes dos Três Poderes na capital federal.

"[Povos indígenas resistem há] Mais de 500 anos de ataques cruéis. Nós não iremos nos render. Estamos aqui hoje nesse ato de coragem, para mostrar que destruir essa estrutura do Palácio do Planalto não vai destruir a nossa democracia. Todas as mulheres do Brasil, para dizermos juntos que nunca mais vamos permitir um outro golpe no nosso país", disse durante o ato de posse.

Ao falar sobre a força feminina, a ministra destacou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que participa do evento.

A ministra destacou a importância dos indígenas na preservação das florestas e na luta contra as mudanças climáticas e afirmou que os povos originários irão construir o "Brasil do futuro". "O futuro do planeta é ancestral. A invisibilidade ancestral é fruto do racismo, da desigualdade. São séculos de violência. Não é mais tolerável aceitar políticas públicas que nos tiram uso da terra", declarou.

"Não são mais toleráveis políticas inadequadas"

Sônia Guajajara criticou a invisibilidade dada pelo Estado aos povos indígenas, fruto, segundo ela, do racismo."São séculos de violências e violações e não é mais tolerável aceitar políticas públicas inadequadas aos corpos, às cosmologias e às compreensões indígenas sobre o uso da terra", defendeu Guajajara durante sua cerimônia de posse, realizada há pouco no Palácio do Planalto com presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A ministra relembrou que a pandemia afetou os povos indígenas em virtude do que classificou de "negacionismo científico e criminoso do governo anterior". "As dificuldades no acesso aos serviços de saúde, de saneamento e as falsas informações propagadas, potencializaram literalmente um plano de genocídio. Tudo isso levou a um estado de emergência, que através das organizações indígenas mobilizou a criação de barreiras sanitárias, diversas campanhas de arrecadação e distribuição de alimentos, os advogados indígenas conquistaram grandes vitórias judiciais, promovemos também redes de afetos, solidariedade e somas que permitiram evitar que mais vidas indígenas fossem perdidas", afirmou a ministra.

Sônia citou também uma série de "problemas estruturais", que, segundo ela, devem ser encarados como prioridades.

"São graves os casos de intoxicações provocados por mercúrio dos garimpos, pelos agrotóxicos nas grandes lavouras do agronegócio; as invasões em nossos territórios; as condições degradantes de saúde e saneamento; o aumento da insegurança alimentar que resultou, inclusive, na morte de inúmeras crianças e idosos indígenas e a desproteção dos territórios onde vivem povos indígenas isolados", observou Guajajara, lembrando que há 114 povos isolados na Amazônia. "Que se encontram em estado de alta vulnerabilidade, devido ao desmatamento, garimpo ilegal e a grilagem de terras", apontou.

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