Brasil

Em posse, Marina estipula meta de recuperar 12 milhões de hectares de áreas degradadas

Nova ministra do Meio Ambiente comemorou o retorno da Agência Nacional de Águas à pasta

 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

(Marcelo Camargo/Agência Brasil)

AA

Alessandra Azevedo

Publicado em 4 de janeiro de 2023 às 18h57.

A deputada federal Marina Silva (Rede-AP) assumiu nesta quarta-feira, 4, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática. O evento de transmissão de cargo, realizado no Palácio do Planalto, contou com a presença de políticos, ambientalistas, lideranças indígenas e servidores da pasta.

LEIA TAMBÉM: Marina cancela ato de Salles que tirava poder de fiscais sobre multas ambientais

Marina disse voltar ao ministério, que comandou entre 2003 e 2008, com um “misto de sentimentos”. De um lado, a “alegria de retornar ao governo pela vitória da democracia”. De outro, “a preocupação, o estarrecimento e a tristeza” por constatar que o Palácio do Planalto foi palco de “atos contra a democracia, a ciência, a saúde e a vida” nos últimos quatro anos.

“O que vivemos nesses anos que se passaram foi um completo desrespeito pelo patrimônio socioambiental brasileiro”, afirmou a ministra. Ela citou invasões a terras indígenas, autorizadas pelo “mais alto escalão do governo”, e a “boiada” que passou “no lugar onde deveria passar apenas políticas de proteção ambiental”.

Reestruturação do ministério

Marina destacou medidas que já foram tomadas pela pasta desde o início desta semana, como a mudança de nome para Ministério do Meio Ambiente e da Mudança Climática, mantida a sigla MMA. O acréscimo foi feito não por razões retóricas, mas pela urgência com que o tema precisa ser tratado. 

“Queremos destacar a devida prioridade daquele que é, talvez, o maior desafio global vivido presentemente pela humanidade”, explicou Marina. “O governo brasileiro, que sempre foi protagonista nessa discussão, não se furtará de exercer esse papel de liderança nacional e internacional”, garantiu. 

Outra medida que já foi tomada pelo governo é a recriação da Secretaria Nacional de Mudança Climática, que havia sido extinta. Marina disse que incluiu um departamento para tratar especificamente de políticas para oceano e gestão costeira no MMA. 

Até março deste ano, será formalizada a criação da Autoridade Nacional de Segurança Climática, vinculada ao ministério, que será comandada pelo presidente Lula, com a participação de todas as pastas da Esplanada, da sociedade civil, dos estados e dos municípios. Marina afirmou que a questão ambiental será debatida de forma transversal, com participação do setor produtivo às populações tradicionais.

A ministra propôs o redesenho do Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima, responsável por centralizar as decisões do conselho, formado por diferentes ministérios, e transformá-las em políticas públicas. O desenho da autarquia será submetido ao Congresso até o final de abril. 

A volta da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e do Serviço Florestal Brasileiro para o MMA são outros avanços citados por Marina. O ministério também voltará a fazer a gestão compartilhada de recursos pesqueiros, da política nacional de recursos hídricos e inaugurou um departamento de proteção e defesa dos direitos dos animais.

A ministra também falou sobre a criação da Secretaria de Bioeconomia, com o objetivo de gerar renda, emprego e divisas de forma sustentável. “Temos muita expectativa com essa nova unidade do MMA para que a gente possa fazer jus ao nosso compromisso de ajudar a tirar o Brasil do mapa da fome”, disse.

Desmatamento

Dentro dos ministérios, agora há a Secretaria Extraordinário do Controle do Desmatamento e Ordenamento Territorial e Fundiário. “O governo do presidente Lula, com o decreto da nova estrutura do MMA, põe fim à usurpação dessas funções, que tinha objetivo de enfraquecer a gestão pública na área ambiental”, disse Marina. 

Será uma forma de retomada do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), tocado durante os governos petistas, que resultou na queda de 83% do desmatamento na Amazônia. “Continua na Casa Civil, com suporte executivo do MMA, mas antes eram 13 ministérios e agora serão mais ou menos 17”, disse Marina. 

Marina afirmou que o governo tem como meta recuperar 12 milhões de hectares de áreas degradadas, o que teria potencial de gerar 60 mil empregos. “Com possibilidades como essas que vamos ajudar para que o garimpo ilegal possa cessar e ter outras oportunidades dignas. Em vez de destruir e contaminar, reflorestar e recuperar áreas que foram degradadas”, disse.

'Esvaziamento' de órgãos ambientais

Segundo Marina, além da transferência de funções do MMA para outras estruturas do governo, houve um “profundo processo de esvaziamento e enfraquecimento dos órgãos ambientais” no último governo. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) foram “totalmente fragilizados”.

Territórios indígenas e unidades de conservação ficaram “à mercê do crime ambiental”, apontou Marina. A ministra lembrou do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, em junho de 2022, na região amazônica do Vale do Javari, segunda maior terra indígena do país.

O grupo de trabalho do Meio Ambiente durante a transição de governo chegou a conclusões que a deixaram “ainda mais preocupada”, disse a ministra. Para ela, “o estrago só não foi maior porque as organizações da sociedade, servidores públicos e parlamentares se colocaram à frente desse processo de desmonte”. 

Os servidores foram “perseguidos, maltratados e desautorizados” durante operações de fiscalização. A ministra garantiu que os funcionários de órgãos ambientais serão valorizados. “Basta de perseguição, basta de assédio institucional. Vocês merecem e serão respeitados”, disse.

Do ponto de vista das relações exteriores, o Brasil se tornou “um pária ambiental”, devido ao esvaziamento das políticas relativas à mudança climática, disse Marina. A ministra se comprometeu a honrar os compromissos assumidos no Acordo de Paris.

Acompanhe tudo sobre:Governo LulaMarina SilvaMinistério do Meio Ambiente

Mais de Brasil

Banco Central comunica vazamento de dados de 150 chaves Pix cadastradas na Shopee

Poluição do ar em Brasília cresceu 350 vezes durante incêndio

Bruno Reis tem 63,3% e Geraldo Júnior, 10,7%, em Salvador, aponta pesquisa Futura

Em meio a concessões e de olho em receita, CPTM vai oferecer serviços para empresas