Brasil

Em meio ao julgamento do STF, Senado debate descriminalização do porte de drogas

A sessão acontece após o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, criticar o julgamento do STF sobre o tema

Senado: sessão foi marcada após criticas de Pacheco sobre julgamento do STF (Ana Volpe/Agência Senado)

Senado: sessão foi marcada após criticas de Pacheco sobre julgamento do STF (Ana Volpe/Agência Senado)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 17 de agosto de 2023 às 06h00.

O Senado vai promover uma sessão nesta quinta-feira, 17, às 10h, para debater a descriminalização do porte de drogas para consumo pessoal. O requerimento para a sessão é de autoria do senador Efraim Filho (União-PB) e foi aprovado no último dia 8 de agosto.

Efraim argumentou que o debate sobre drogas tem ganhado espaço nas tribunas do Senado e disse que o tema precisa ser debatido pelo Parlamento com profundidade, pois atinge políticas públicas da saúde e da segurança.

A sessão acontece no mesmo dia que o Supremo Tribunal Federal (STF) retoma o julgamento da ação que discute se o porte de drogas para consumo próprio é crime. O placar está 4 a 0 para a descriminalização da maconha, e foi alvo de criticas do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que afirmou que é um “equívoco grave” a possibilidade de descriminalização do porte de drogas para consumo pessoal por decisão do STF.

Para ele, cabe ao Congresso Nacional discutir a questão, e uma decisão do STF não pode ser contrária à lei vigente. "Houve, a partir da concepção da Lei Antidrogas, também uma opção política de se prever o crime de tráfico de drogas com a pena a ele cominada, e de prever também a criminalização do porte para uso de drogas" afirmou. 

Segundo o presidente, é preciso um debate amplo, com representantes da saúde, da área jurídica e de comunidades terapêuticas.

Pacheco argumenta que não é a quantidade que deve ser relevante na diferenciação entre usuário e traficante, mas sim a intenção. Ele disse temer, com a argumentação sobre a liberação do porte, uma possível descriminalização do traficante de pequenas quantidades de droga.

Quem vai participar do debate no Senado sobre porte de drogas?

Para a sessão, foram convidados os ministros da Saúde, Nísia Trindade, e da Justiça, Flávio Dino. Também foi convidado o advogado Luiz Roberto Beggiora, ex-secretário Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos, e o deputado Osmar Terra, autor de projetos de combate às drogas.

Ainda foram convidados o juiz federal William Douglas dos Santos e o frei Hans Stapel, um dos fundadores da comunidade terapêutica Fazenda da Esperança. Também constam da lista de debatedores a coordenadora da comunidade Desafio Jovem, Célia Moraes, e o promotor de Justiça do Distrito Federal (DF) José Theodoro de Carvalho. O debate vai contar ainda com a presença de médicos especialistas em dependência química e com um representante da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas.

O que está sendo discutido no STF sobre a lei de drogas?

O Supremo analisa a constitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas, que prevê penas por porte que variam entre "advertência sobre os efeitos das drogas", "prestação de serviços à comunidade" e "medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo". A decisão do STF não trata da venda de drogas, que continuará ilegal independentemente do resultado do julgamento.

Se a descriminalização for aprovada, a maconha será liberada no Brasil?

Um dos principais pontos em discussão pelos ministros é sobre parâmetros para diferenciar o usuário do traficante. Hoje, a lei não tem uma definição clara para realizar essa diferenciação. Quando alguém é detido com maconha, um delegado de polícia -- e posteriormente um membro do Ministério Público -- define se o portador responderá por tráfico ou consumo. Com isso, pessoas com pequenas quantidades de drogas são enquadradas como traficantes e condenadas a prisão.

A sugestão do relator do caso, Gilmar Mendes, é que se uma pessoa for flagrada com drogas, ela deveria ser levada a um juiz, que decidiria o que deve ser feito com o acusado.

Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), se o limite proposto por Barroso e por Moraes for adotado, 31% dos processos por tráfico de drogas em que houve apreensão de maconha poderiam em tese ser reclassificados como porte pessoal no País. Outros 27% dos condenados nesses mesmos termos poderiam ter os julgamentos revistos por estarem dentro do parâmetro.

O Brasil ocupa a terceira posição no ranking de países que mais encarceram no mundo, com cerca de 900 mil pessoas presas, segundo dados do CNJ. Uma em cada três foi presa por delitos relacionados à atual Lei de Drogas.

Como está a votação da descriminalização da maconha?

Até o momento, quatro ministros – Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes – votaram a favor de algum tipo de descriminalização da posse de drogas.

Acompanhe tudo sobre:Supremo Tribunal Federal (STF)MaconhaDrogas

Mais de Brasil

Acidente com ônibus escolar deixa 17 mortos em Alagoas

Dino determina que Prefeitura de SP cobre serviço funerário com valores de antes da privatização

Incêndio atinge trem da Linha 9-Esmeralda neste domingo; veja vídeo

Ações isoladas ganham gravidade em contexto de plano de golpe, afirma professor da USP