Suzana Kahn: “Para as próximas décadas, 71% da energia do país virá de combustíveis ligados ao petróleo, algo que vai na contramão dos investimentos das grandes potências e países em desenvolvimento” (Raphael Martins/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 17 de novembro de 2015 às 14h55.
Última atualização em 2 de agosto de 2017 às 12h22.
São Paulo – Um dos principais entraves climáticos, a emissão de gases estufa deve ser um dos principais assuntos da COP 21, principal encontro entre líderes mundiais para debates sobre clima, marcado para o final desse mês na cidade de Paris, na França.
Para discutir a questão por aqui, o EXAME Fórum Sustentabilidade 2015 promoveu uma roda de conversa nesta terça-feira (17) sobre maneiras de manter a busca pelo desenvolvimento gerando uma pegada de carbono cada vez menor e o papel do Brasil neste missão.
A mesa contou com Luíz Pinguelli, secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, e Suzana Kahn, professora especialista em meio ambiente e ex-representante da ONU em mudança climática.
O principal fator em discussão foi uma mudança de discurso dos governantes sobre o assunto na última década. Se há 10 anos havia chefes de estado que refutavam quaisquer efeitos da ação do homem no clima, hoje não há mais como negar. Significa um avanço de mentalidade.
No Brasil, a presidente Dilma Rousseff anunciou em setembro que as metas brasileiras para reduzir a emissão de gases de efeito estufa são de 37% até 2025 e de 43% até 2030. Entretanto, o plano de utilização das fontes de energia ainda é majoritariamente fóssil, contrariando a tendência internacional.
“Para as próximas décadas, 71% da energia do país virá de combustíveis ligados ao petróleo, algo que vai na contramão dos investimentos das grandes potências e países em desenvolvimento”, diz Suzana Kahn.
“Os custos de energia fotovoltaica caíram pela metade nos últimos cinco anos, então há um movimento de preços para novas fontes de energia e novas tecnologias”, afirma Suzana. “Aumentando a participação de fontes mais limpas, os investimentos em fontes emissoras de carbono ficará reduzido.”
Suzana analisa ainda as propostas do Brasil para a COP 21, mostrando que o prognóstico mudou pouco desde a edição da convenção de 2009.
“Não dá para ter mudanças tão radicais nesse meio tempo, mas o importante é que há a intenção dos países de reduzir as emissões”, diz. “Essa vontade é fundamental, pois acertar um tratado ou acordo com metas mexe com a soberania nacional de grandes potências sem garantir as capacidades nacionais de desenvolvimento. Ninguém ia querer entrar nisso.”
As formas de conciliar esse desenvolvimento no país com a redução das emissões de gases foram tema de estudo de Pinguelli. Em “Implicações Econômicas e Sociais da Mitigação de Gases”, o estudioso montou uma equipe com representantes de governo, universidades, empresários e ONGs para montar três cenários de ações e investimentos para diminuir a carga de poluentes emitidas pelo país.
“São cenários otimistas, sim, mas a ideia era mostrar que mesmo estes são possíveis de realizar”, afirma Pinguelli. As principais ações seguem tendências internacionais e seguem o princípio de substituição de combustíveis fósseis por energias alternativas, como a eólica e solar.
“Não adianta querer fazer uma usina concentrada de energia solar, ela tem por caráter ser disseminada. Se comparar custos de megawatt/hora de uma Belo Monte, a energia solar fica inviável. Mas se disseminar essa fonte e cada residência, edificício, shopping e outros empreendimentos tiverem uma produção individualizada, torna-se possível”, diz. “O problema é o investimento que ainda é caro.”
Para os pesquisadores, o país ainda tem um longo caminho a seguir, mas com demonstrações de que o investimento em políticas verdes não será em vão, é possível mobilizar o mercado nesse sentido. Basta que haja regras mais claras de incentivo.
“O que não pode é acontecer de novo o que aconteceu com o setor de combustíveis”, diz Pinguelli. “Com uma política, o governo prejudicou a Petrobras, que tinha que comprar caro e vender barato, e o produtor de álcool, que perdeu competitividade de seu produto.”