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Em diário, atirador de Campinas cita perseguição e outras chacinas

Agentes também encontraram referências ao massacre de Realengo, ocorrido em 2011, no Rio

Crime em igreja em Campinas (Amanda Perobelli/Reuters)

Crime em igreja em Campinas (Amanda Perobelli/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 12 de dezembro de 2018 às 21h56.

Responsável pelo ataque que terminou com cinco fiéis mortos na Catedral Metropolitana de Campinas, no interior, Euler Fernando Grandolpho, de 49 anos, vivia recluso, tinha as despesas pagas pelo pai, reclamava de vizinhos e teria mania de perseguição, segundo investigações da Polícia Civil. Em anotações pessoais do atirador, os agentes também encontraram referências ao massacre de Realengo, ocorrido em 2011, no Rio, e à chacina em Fortaleza, neste ano.

Grandolpho morava com um pai em um condomínio de alto padrão em Valinhos, cidade vizinha à Campinas. O Estado esteve no local na tarde desta quarta-feira, 12, mas um segurança informou que os parentes haviam deixado o local desde a noite anterior, após a repercussão do caso.

No dia do crime, policiais fizeram apreensões na casa e conversaram informalmente com o pai e uma irmã de Grandolpho - os depoimentos devem ser colhidos nesta quinta-feira, 13, na delegacia. Entre os materiais, investigadores recolheram o celular, um notebook e um bloquinho de anotações do atirador.

Em um dos papeis, escreveu: "Passei com meu cão em frente uma construção ao lado da casa que os moradores têm uma veterinária e uma delas gritou com 'as paredes': 'E aí Ceará', sobre o massacre ocorrido dias atrás. Hj, 31/01/18, passei por lá e falei alto com o celular desligado na orelha: E aí Realengo'."

Em outra folha, Grandolpho diz que "os viados" estariam "ouvindo minha casa" e o perseguindo há mais de dez anos. "No começo cometiam crimes com a maior naturalidade. Agora estão em pânico, espalharam pela cidade o q está está preste a acontecer, etc. Meu Deus!", registrou sem data.

Segundo o delegado José Henrique Ventura, titular da Deinter de Campinas, os escritos vão passar por análise. "Uma primeira avaliação indica que as anotações são desconexas. Por enquanto, não há nada que possa indicar o motivo do ataque", disse.

No celular do atirador, policiais só encontraram ligações para números locais mas nenhuma para o exterior - o que serviria para descartar a participação de algum grupo extremista no ataque. A maioria das discagens, no entanto, era para o 190, da Polícia Militar. "Ele ligava para reclamar de barulho dos vizinhos", disse o delegado Hamilton Caviola, do 1° DP de Campinas, responsável pelo inquérito.

Segundo a polícia, as informações coletadas indicam que Grandolpho seria "solitário", "introspectivo" e teria mania de perseguição. Desde 2008, ele registrou uma série de boletins de ocorrência. Em alguns casos, dizia ter sido seguido por automóveis e anotava a placa dos carros. Em outro, disse que uma pessoa desconhecida havia tentado derrubá-lo da bicicleta atirando contra ele uma garrafa pet.

"Ele teve uma vida um tanto reclusa. Ficava muito tempo recolhido, saía pouco, e não tinha muitas relações com amigos ou namorada", afirmou Ventura. Em seu perfil no Facebook, havia apenas oito amigos adicionados. Todas as testemunha do ataque ouvidas pela polícia afirmarma nunca terem visto Grandolpho antes.

Os parentes eram impedidos de entrar no quarto dele, segundo as investigações. Sem emprego desde 2014, quando pediu exoneração do Ministério Público, em que trabalhava como auxiliar de promotoria na comarca de Carapicuíba, Grandolpho vivia com o dinheiro do pai. "O dinheiro fica na conta do pai, que ia abastacendo o filho conforme a necessidade", disse o delegado do Deinter.

A Polícia investiga, ainda, se Grandolpho cometeu o atentado após alguma crise psicótica. Para investigadores, familiares teriam a afirmar que Grandolpho apresentaria quadro de depressão e já teria passado por CAPs. "Não sabemos ainda se foi para uma consulta ou para tratamento."

Velório. O corpo de Grandolpho foi sepultado às pressas na tarde desta quarta, no Cemitério Flamboyant, de alto padrão. Na portaria, segurançaas impediam a entrada de curiosos. Uma viatura da guarda municipal também ficou na porta para evitar tumultos.

Entre velório e enterro, a cerimônia durou cerca de 20 minutos e familiares mais próximos saíram sem falar. "Todos foram pegos de surpresa", disse uma tia, que preferiu não se identificar.

Segundo afirma, Grandolpho seria um "menino bom", mas ficou mais retraído depois da morte de familiares próximos. Em abril, um irmão foi vítima de leucemia. Antes, ele também perdeu a mãe: o aniversário de morte é no próximo sábado dia 15, de acordo com parentes.

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