Agência de notícias
Publicado em 9 de junho de 2025 às 18h42.
Última atualização em 9 de junho de 2025 às 18h43.
O tenente-coronel Mauro Cid afirmou nesta segunda-feira, em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), que o ex-presidente Jair Bolsonaro e o general Braga Netto tinham "expectativa" de que fosse detectada uma fraude nas urnas eletrônicas para que "alguma coisa" acontecesse.
Segundo ele, a identificação de um eventual problema no sistema eletrônico poderia "convencer" as Forças Armadas a intervirem no processo de transição de governo, no fim de 2022 - o que não aconteceu porque nenhuma vulnerabilidade foi encontrada.
— A expectativa é que fosse encontrada uma fraude nas urnas. O que nós vimos era uma busca por uma fraude nas urnas. Com a fraude nas urnas, poderia convencer as Forças Armadas a fazer alguma coisa — disse Cid, em resposta ao procurador-geral da República, Paulo Gonet. — Bolsonaro sempre buscou fraude nas urnas — complementou Cid, que era ajudante de ordens do ex-mandatário.
Depois, em resposta à defesa de Bolsonaro, o militar afirmou que "o presidente [Bolsonaro] nunca expressou a ideia de 'temos que achar uma fraude para assinar um decreto'".
Um pouco antes, o tenente-coronel afirmou que o governo Bolsonaro não detectou nenhuma fraude nas urnas, apesar da pressão exercida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em cima do Ministério da Defesa, então comandada pelo general Paulo Sérgio. A pasta criou um grupo para verificar o processo eleitoral, mas não detectou nenhuma fraude.
Cid também confirmou ao Supremo que Bolsonaro queria uma ação "mais contundente" e um "documento duro" por parte do Ministério da Defesa.
— Essa pressão realmente existia. Ele [Paulo Sérgio] tinha uma conclusão nesse documento voltada para um lado mais técnico, e se tinha a tendência de fazer algo voltado mais político. E no final se chegou a um meio termo que foi o documento produzido e assinado — disse o militar, referindo-se ao relatório produzida pelas Forças Armadas sobre o Sistema Eletrônico de Votação após as eleições de 2022.
No início do depoimento, Moraes ainda perguntou a Cid se algum assessor ou técnico da administração gederal chegou a detectar algum indício de fraude nas eleições daquele ano.
— Não conseguiu se provar nada — respondeu Cid.
O STF iniciou nesta segunda-feira a etapa de interrogatórios dos réus da trama golpista. Os depoimentos são conduzidos pelo relator da ação penal, ministro Alexandre de Moraes. O primeiro a falar é Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro. Além de Moraes, o ministro Luiz Fux, integrante da Primeira Turma, também está presente e fará perguntas.
Os interrogatórios ocorrem na sala da Primeira Turma do STF, e todos os réus participam presencialmente, com exceção do ex-ministro Walter Braga Netto, que está preso preventivamente, no Rio de Janeiro, e por isso acompanha por videoconferência.
Durante a sessão, Moraes ocupa a cadeira da presidência da Primeira Turma. Os réus estão lado a lado, acompanhados dos advogados. Quando um interrogado é chamado, o acusado senta em uma mesa localizada à frente dos demais.
Serão interrogados os oitos réus do primeiro núcleo da trama golpista. Além de Cid e Braga Netto, fazem parte do grupo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), os ex-ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Anderson Torres (Justiça) e Paulo Sério Nogueira (Defesa), o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) e o tenente-coronel Mauro Cid.