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Em debate sobre intervenção, juristas defendem mandados coletivos

Instrumento permitiria a busca por bens e suspeitos não apenas em um local específico, mas em áreas maiores

Intervenção no Rio: Mandado coletivo auxiliaria autoridades policiais a fazer buscas em comunidades não mapeadas (Ricardo Moraes/Reuters)

Intervenção no Rio: Mandado coletivo auxiliaria autoridades policiais a fazer buscas em comunidades não mapeadas (Ricardo Moraes/Reuters)

AB

Agência Brasil

Publicado em 12 de abril de 2018 às 21h41.

Última atualização em 12 de abril de 2018 às 21h41.

A Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, no Rio de Janeiro, recebeu hoje (12) diversas autoridades jurídicas para debater questões do mundo do direito vinculadas à intervenção federal na segurança pública. Um dos temas abordados foi o uso de mandados de busca e apreensão coletivos. A validade do instrumento foi defendida pelo presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), desembargador Milton Fernandes de Souza, e pelo procurador de Justiça Militar Luciano Moreira Gorrilhas.

O mandado coletivo permitiria a busca por bens e suspeitos não apenas em um local específico, como um imóvel, mas em uma área maior, como um quarteirão, uma rua ou um bairro. Este tipo de medida não é prevista na legislação brasileira, o que leva algumas entidades como a Defensoria Pública do Rio de Janeiro e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) a considerarem o instrumento ilegal.

Diante da polêmica, o Gabinete de Intervenção Federal e o interventor, general Walter Braga Netto, vem evitando até o momento pedir à Justiça a expedição de mandados coletivos. Para o desembargador Milton Fernandes de Souza, uma decisão nesse sentido não seria novidade.

"Já foi pedido e já foi expedido em outras ocasiões. Não é de hoje que isso acontece. Veja bem: são mandados por área delimitada. São áreas pequenas e delimitadas. Se não for assim, quando não há condições de se identificar ruas e casas em lugares não urbanizados, a operação não ocorre. E aí não se combate o ato ilícito penal", avaliou o presidente do TJRJ.

O procurador de Justiça Militar Luciano Moreira Gorrilhas lembrou que tanto o Código Penal como o Código do Processo Penal são dos anos 1940, época em que a discussão sobre mandado coletivo não estava colocada. "Foi a partir de 1980 que houve um grande crescimento populacional desordenado e, em muitos lugares, a maioria das casas não tem numeração. Precisamos levar em consideração as características das comunidades onde não há mapeamento. Nem mesmo os Correios conseguem entregar correspondências. Quem já visitou comunidades sabe. Muitas vezes é tudo entregue na associação de moradores".

Luciano mencionou ainda a garantia da inviolabilidade de domicílio que, para ele, não pode se sobrepor ao direito à segurança pública e à vida. Ele ponderou, porém, que para se autorizar um mandado coletivo é preciso avaliar se é o meio adequado e se é insubstituível.

"É apropriado? O direito fundamental da inviolabilidade de domicílio é absoluto? Não existe direito absoluto, todos são relativos. E quando há colisão de direitos fundamentais, como se resolve? Aí vem o princípio da proporcionalidade". O procurador citou exemplos em que o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou legal a apreensão e violação de correspondências em favor da segurança pública.

Emendas constitucionais

Durante o debate, também houve divergências. Uma delas no que diz respeito ao Artigo 60 da Constituição Federal de 1988. O dispositivo estabelece que "a Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio". Em fevereiro, quando a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro foi decretada pelo presidente Michel Temer, interlocutores do governo chegaram a ventilar a possibilidade de suspender o decreto por um ou dois dias para votar a Reforma da Previdência.

"Não há previsão constitucional para isso, e assim não podemos fazer", disse o presidente do TJRJ, desembargador Milton Fernandes de Souza. Os juristas presentes que opinaram sobre o assunto concordaram. No entanto, houve discordância se uma emenda constitucional pode tramitar ou não. Para o presidente do TJRJ, ela pode até ser votada, mas não pode ser promulgada. "Por medida de cautela, o processo legislativo poderia seguir, votar, e depois se resolveria a promulgação".

A visão dos juristas se choca com a opinião que vem sendo apresentada por Rodrigo Maia (DEM), presidente da Câmara dos Deputados. Para ele, a tramitação é lícita, mas não pode ocorrer votação. Por outro lado, Fernando Barbalho Martins, subprocurador-geral do estado do Rio de Janeiro (PGE-RJ), não concorda com nenhum deles. "Parece a mim que não é possível sequer discutir a emenda constitucional durante o período de intervenção. A ideia é não submeter o Congresso a uma discussão da relevância de uma emenda sem que o país esteja na sua normalidade. O processo de intervenção é um processo anômalo".

Na opinião do subprocurador-geral, esse seria inclusive um dos motivos para que a intervenção federal não tivesse sido decretada em anos anteriores. "Acho até que demorou a ocorrer. O que me parece é que a intervenção não vinha justamente pela necessidade dos sucessivos governos promoverem reformas constitucionais. E isso foi adiando o problema".

O subprocurador-geral também explicou as competências das diversas esferas de Justiça e as atribuições do interventor. Ele avaliou que, estando Braga Netto no mesmo nível do governador Luiz Fernando Pezão, será ele o responsável por sancionar e vetar leis aprovadas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) que dizem respeito à segurança pública.

Também participaram do debate o procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, José Eduardo Gussem, e consultores jurídicos da União. O secretário de segurança pública do estado, general Richard Nunes, esteve presente como ouvinte, mas não deu declarações.

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