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Em debate com ex-Inpe, Salles admite que desmatamento cresce desde 2012

Ministro disse ainda nunca ter dito que os números recentes sobre o desmatamento na Amazônia foram manipulados

Salles: ministro participou de debate com ex-diretor do Inpe (Jales Valquer/Folhapress)

Salles: ministro participou de debate com ex-diretor do Inpe (Jales Valquer/Folhapress)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 11 de agosto de 2019 às 16h31.

Última atualização em 11 de agosto de 2019 às 16h39.

São Paulo — O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, admitiu em debate com o ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Ricardo Galvão, no Programa Painel Globonews, que foi ao ar no sábado (10), que o desmatamento no Brasil vem crescendo desde 2012.

O ministro disse ainda nunca ter dito que os números recentes sobre o desmatamento na Amazônia, que geraram a polêmica que levou à demissão do presidente do Inpe, foram manipulados.

O que foi manipulado, de acordo com Salles, foi a forma com que os dados foram divulgados e o "sensacionalismo" em torno desta forma de divulgação.

"Eu não tenho dito que os dados estão sendo manipulados. O que está sendo manipulada é a forma de se apresentar os números e o sensacionalismo criado em torno desta forma. Por que digo isso? Porque está dito textualmente no site do Inpe que o Deter não serve para medir desmatamento. Portanto, se você não pode medir, você não pode comparar. Não mede antes, não mede depois, então não tem como comparar", disse Salles.

O Deter é um levantamento rápido de alertas de evidências de alteração da cobertura florestal da Amazônia feita pelo Inpe. Segundo o ministro, o Deter tem uma série de questões a serem consideradas. Por exemplo, o sistema não vai direto ao mesmo lugar novamente, a recorrência das imagens não é a mesma e o lapso temporal de comparação também não é o mesmo.

"Então não é uma crítica aos dados, propriamente ditos, ou à produção dos dados. Ao contrário do que se disse por aí, que estamos discutindo o termômetro, não estamos discutindo o termômetro e sim o sensacionalismo em torno da leitura dos dados. Quando nós mostramos que os dados não servem para isso, veio o argumento, que deveria ter sido feito por quem apresentou os dados lá atrás, de que era uma tendência", disse o ministro, reiterando que o que foi contestado pelo governo foi a interpretação e não os dados.

O ex-presidente do Inpe Ricardo Galvão, por sua vez, deu razão ao ministro ao afirmar que não está correto comparar os números de meses deste ano com números de meses do ano passado, mas disse que não foi o Inpe que divulgou os números.

"Não foi apresentado [número]. O sistema Deter foi implantado em 2003 e o ministro está completamente correto ao dizer que utilizar os dados para comparar áreas desmatadas deste ano com mesmos meses do ano passado não está correto. Agora, isso nunca foi dito pelo Inpe. O Deter oferece as áreas nos seus alertas para priorizar ações do Ibama", disse Galvão.

No entanto, segundo o ex-presidente do Inpe, o governo reagiu "erradamente, muito fortemente, porque esse sistema Deter foi desenvolvido como serviço para o Ibama. Quem tem acesso sem nós passarmos nada é o Ibama dia-a-dia. É só acessar o nosso sistema".

"Se o presidente Bolsonaro reclamou de que nós não avisamos antes, isso é responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente. Eles têm os dados, eles têm os dados do Ibama. Não cabe ao Inpe divulgar nada. As informações estão disponíveis e essa acusação não está correta", disse Galvão ao ministro.

Galvão fez questão de frisar que os mesmos números, objeto da polêmica entre governo e Inpe, serviram para reduzir substancialmente o desmatamento na Amazônia entre 2004 e 2012, desde os ministros Marina Silva, Carlos Minc e Isabela Teixeira, os três nos governos petistas.

"Será que o ministério, antes, com os outros ministros, tinha maior capacidade de usar os mesmos números de dados?", questionou o ex-diretor do Inpe.

A questão, segundo Salles, é que os números que foram usados para o que ele chama de "sensacionalismo" chegaram antes para a imprensa do que para o Ibama. "Quando o Ibama foi se debruçar sobre os dados, eles já estavam na imprensa. Essa foi a razão pela qual dissemos que os números, os documentos, os estudos estão sendo disponibilizados para quem os quer interpretar de forma sensacionalista - jamais dissemos que foi o Inpe que fez esta interpretação sensacionalista. Mas de alguma forma a imprensa teve acesso aos dados antes do Ibama", afirmou o ministro.

Salles disse que o Grupo Centro Nacional de Monitoramento e Informações Ambientais (Cenima) do Ibama foi surpreendido três vezes no mês de junho por informações que desconhecia. "Um repórter especial sabia antes do que o grupo governamental", queixou-se o ministro do Meio Ambiente.

O ex-diretor do Inpe disse também não ver viés político nas críticas do atual governo aos dados do órgão porque elas também foram feitas pelo governo Sarney e, depois, pelo ministro Blairo Maggi, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Não há nada de ideologia, ministro", disse Galvão. Para ele, um programa de desenvolvimento sustentável tem que ser articulado entre a academia, empresas e governo.

"O que nós usamos são publicações científicas, ministro. Não balela como vocês usam. Não coisa de jornalzinho e Twitter. Eu admiro quem usa Twitter, mas eu não uso. Uma coisa que qualquer dirigente de um país precisa entender é que quando se trata de questões científicas, não existe autoridade acima da soberania da Ciência. Nem militar, nem política e nem religiosa", disse o ex-diretor do Inpe.

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