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Em Davos, Doria tenta vender oportunidades em SP e vê "pré-otimismo"

Novo governador de São Paulo lista projetos de concessão e investimento, evita críticas ao antecessor e diz que falta cultura democrática no PT e esquerda

João Doria Júnir no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça (Governo de São Paulo/Divulgação)

João Doria Júnir no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça (Governo de São Paulo/Divulgação)

CC

Clara Cerioni

Publicado em 22 de janeiro de 2019 às 15h56.

Última atualização em 22 de janeiro de 2019 às 16h12.

Davos, Suíça — O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), viajou a Davos, na Suíça, com dois objetivos: "atrair investimentos e promover São Paulo e o Brasil”.

Em meio a grandes investidores, reunidos no Fórum Econômico Mundial, o tucano quer apresentar ao mundo o potencial de infraestrutura do país, principalmente do estado de SP, além de demonstrar o interesse nacional na captação de investidores estrangeiros.

Para isso, Doria preparou um vídeo de quase quatro minutos, narrado em inglês, destacando as riquezas do estado "líder global de produção de açúcar, etanol e suco de laranja". [Clique aqui para assistir]

No final da apresentação, ele propõem aos investidores estrangeiros seis possibilidades de parcerias: tornar Instituto Butantã o maior produtor de vacinas do mundo; investir em 20 aeroportos regionais; 270 milhões de dólares para explorar direitos de transporte e geração de energia nos rios; 260 km de linhas de trem intercidades e metrô; 650 mil m² para criar o Vale do Silício brasileiro (na região do Ceagesp); e novas concessões para expandir a rede estadual de estradas.

Rômulo Corrêa, gerente sênior para a América Latina do Fórum, destaca que o governador mostrou saber "todos os projetos de desenvolvimento e concessões em detalhes".

Em entrevista a EXAME, feita antes do discurso do presidente Jair Bolsonaro, o governador aborda as principais medidas adotadas para transformar o estado uma referência econômica, além de comentar sobre as expectativas dos investidores estrangeiros e o clima político do país:

EXAME: Qual o seu objetivo em Davos?

João Doria: O posicionamento de São Paulo, como um Estado-Nação, que tem estrutura e capacidade para receber novos investimentos, sobretudo agora que temos uma economia liberal e uma visão no plano federal que coincide com a estadual, é o de investir em marcos jurídicos claros, previsibilidade, interesse na captação de investidores internacionais e um amplo programa de desestatização.

Atuaremos em áreas importantes, de forte investimento, entre as quais destaco rodovias, ferrovias, aeroportos, porto de São Sebastião, todos os parques estaduais, todos os terminais de Metrô e também da CPTM, e o fundo imobiliário. Queremos vender mais de mil imóveis do Estado que não têm nenhuma finalidade e serão leiloados na Bolsa de Valores.

Além disso, vamos estimular investidores para setores estratégicos da economia de São Paulo, como agronegócio, indústria de transformação, setor de tecnologia, economia criativa e turismo.

E como está a expectativa dos investidores aqui?

Está boa. O sentimento que esperam ouvir do novo presidente do Brasil são palavras claras de defesa da economia liberal, posicionamento pró-mercado e uma visão das reformas, especialmente a da Previdência.

Então é otimismo?

Eu diria um pré-otimismo.

Já tem algum contato concretizado de interesse em investir em São Paulo?

Os contatos estão sendo feitos a partir de hoje, e as reuniões "face to face" começam à tarde. Mas o posicionamento a partir de um vídeo que temos compartilhado com os investidores mostra claramente uma vontade política do Estado de estar aberto a esses investimentos e de forma mais ostensiva.

Queremos ser mais rápidos e amplos nesse processo. Quando você incluir, por exemplo, ferrovias e hidrovias, e amplia o escopo para além das rodovias de São Paulo, que já se tem um histórico positivo, os investidores entendem claramente a nossa intenção.

Na sua opinião, faltou um pouco disso no passado?

Acho que tudo ao seu tempo. O que foi feito na gestão de Alckmin foi feito dentro do tempo que era possível fazer. Não há nenhuma crítica ao passado, apenas um registro inclusive de reconhecimento de que o passado vai ajudar o presente a ser mais ágil.

Se o Alckmin não tivesse feito os programas de PPP (Parcerias Público-Privado) seguramente teríamos mais dificuldade de fazer isso agora. Tem um crédito bom naquilo que foi feito, se estabeleceu normas e processos com o Tribunal de Contas do Estado, também com o Tribunal de Justiça, a Promotoria Pública e, principalmente, com a opinião pública de forma geral.

Hoje, 18 das 20 melhores estradas do Brasil estão em São Paulo. Foram processos em sua maioria bem sucedidos.

Os investidores geralmente pedem também redução de impostos e desburocratização. Tem algum programa especifico para São Paulo?

Temos, a desburocratização está sendo feito de maneira acelerada, primeiro para simplificar regras, e segundo para digitalização e automação de processos.

Precisamos acabar com papel, como fizemos na prefeitura de São Paulo. Em 15 meses de gestão, agora dois anos considerando o período remanescente com Bruno Covas, São Paulo é a capital mais digitalizada do Brasil.

O estado vai avançar na mesma linha, digitalizando seus processos, desburocratizando fortemente, criando facilidades e eliminando dificuldades, o que também envolve a questão ambiental. Ter um olhar sempre de proteção ao meio ambiente mas de agilização dos processos e das liberações para o campo e para os centros metropolitanos.

E carga tributária?

Sim, tem a visão de que gradualmente e pontualmente podemos analisar programas que possam reduzir impostos e em contrapartida, de aumento de investimentos, geração de empregos, e monitoramento mensal nesses casos.

Desoneração fiscal poderá existir, é factível dentro do nosso programa de governo, desde que os setores garantam crescimento do investimento nessas respectivas áreas e geração de emprego.

Mas para as contas de São Paulo tem espaço?

Serão mantidas sempre com muito cuidado. O rigor fiscal, que é uma marca do PSDB e foi uma marca geral do Alckmin, do Serra e também do Covas, será mantido.

Human Rights Watch colocou o Brasil como um país autoritário. O senhor vê isso como exagero?

Vejo a Human Rights Watch como precipitada. Não se pode fazer uma análise em 15 dias e defini-la como algo consistente. Uma coisa é você ter um governo com autoridade e outra é ter um governo com autoritarismo.

Você também não pode acusar, pelo fato de ter um governo com militares, que necessariamente será um governo autoritário. Isso é um erro de juízo de valores. O Brasil de hoje não é o Brasil de 1964 ou 1968. É um outro Brasil.

As instituições estão consolidadas, a democracia está fortalecida, a voz da imprensa é ouvida. Não há nenhum risco para a democracia brasileira, nenhum, zero. Não acredito que governos de autoridades possam ser interpretados governo autoritário.

Depois das eleições extremamente polarizadas, o senhor acha que o clima está voltando a normalidade ou ainda estamos vivendo uma guerra civil ideológica?

Não, tende a se normalizar pelo menos até as próximas eleições, até 2020. Teremos um período de 1 ano e meio um pouco mais pacificado e depois pode haver um acirramento de ânimos mais uma vez.

Isso faz parte um pouco da cultura latina: Brasil, Itália, Espanha, Portugal vão viver constantemente essa atmosfera. 

A esquerda brasileira rejeitou a legitimidade do presidente Bolsonaro, o que é inédito. Como o senhor vê esse comportamento?

Vindo do PT é compreensível, porque é um partido com ideologias de confronto que não admite nenhuma contestação. Só é bom aquilo que eles pensam, falam e praticam.

E quando um governo eleito democraticamente se posiciona, eles preferem marcar posição contrária, inclusive com gestos deseducados, como não ir à posse.

Então o senhor acredita que falta certa cultura democrática no PT?

No PT falta, na esquerda falta. É uma cultura absolutamente autoritária, que foi exercitada por 13 anos de poder no Brasil, onde o Lula foi um rei. Só que nesse momento, ele é um rei preso.

Voltando ao assunto do Fórum, o Brasil está enfrentando um desafio com a desindustrialização. O que São Paulo deverá fazer para reverter esse quadro?

Primeiro investir em tecnologia, educação, saúde e segurança pública, sobretudo na ação preventiva de inteligência da polícia e nos processos . Quero fazer com que o padrão do Governo de São Paulo seja o Poupatempo, que eu sempre me lembro que é um programa governamental bem sucedido, rápido, eficiente e bem avaliado pela população. O objetivo é deixar o estado mais digital e menos democrático.

O senhor tem projeto para reduzir o gasto da máquina pública política tanto da Alesp quanto do governo no geral?

Em relação a Alesp, eles têm sua autonomia e seu orçamento. Nos últimos anos, eles têm tido um bom comportamento de não pedir valores adicionais e fechado suas contas dentro do orçamento previsto. Neste ano, já demos o sinal de que preferencialmente desejamos não fazer aditivos.

Outro aspecto é dar o exemplo de redução de despesas, no próprio governo estadual. A orientação imediata que passei é a redução de 15% dos gastos do governo de forma linear.

Mas isso é no custeio, não no investimento. Agora devemos avaliar as reduções de despesa no investimento para estabelecer as prioridades do estado, além de acompanhar a receita, com expectativa de melhora. 

Vai ter reforma da Previdência em São Paulo?

Já teve em 2013 e ela foi bem feita, não temos outra em vista. O que poderá acontecer, em função da reforma da Previdência federal, é um impacto no âmbito da Polícia Militar e do Judiciário também. Havendo isso no plano federal certamente vai refletir no estadual, em São Paulo, e no país.

Em relação ao caso do Flávio Bolsonaro e dos membros das assembleias legislativas do país. Como você enxerga essa forma de fazer política?

Deve se fazer a investigação, que precisa ser para todos. Não pode ser seletiva e todos devem ter, obviamente, o direito de defesa.

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