(Orlando Brito/Democratas/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de maio de 2021 às 13h36.
Última atualização em 21 de maio de 2021 às 13h45.
Depois de apoiar candidatos tucanos em todas as disputas presidenciais desde 1994, o DEM vive uma crise de identidade e se afastou do projeto de formar uma frente ampla de centro na eleição presidencial. A legenda agora se divide entre a possibilidade de aderir de vez ao projeto de Jair Bolsonaro ou investir em um nome próprio.
Presidido por ACM Neto, ex-prefeito de Salvador e pré-candidato ao governo da Bahia, o DEM tem sofrido uma debandada de políticos mais alinhados ideologicamente ao centro que à direita. O vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, se filiou ao PSDB na semana passada, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, anunciou sua ida para o PSD, e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ) foi o primeiro a revelar a desfiliação, mas ainda não bateu martelo sobre a nova legenda. Outras saídas ligadas aos três ainda devem ocorrer.
A sigla, que nasceu em 1985 como PFL, fundada por integrantes da Arena, partido que deu apoio ao regime militar, foi rebatizada de Democratas em 2007. Após participar das gestões tucanas e fazer oposição aos governos do PT, a legenda mantém o discurso de independência em relação a Bolsonaro, apesar de ter dois ministros filiados: Teresa Cristina (Agricultura) e Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral).
Na esteira da onda conservadora que ajudou a eleger o presidente o DEM saiu fortalecido das eleições do ano passado: saltou de 268 prefeitos eleitos em 2016 para 464 — alta de 73%.
A cúpula do partido, porém, tenta agora evitar que a legenda migre por gravidade para o palanque governista em 2022. Além de dois ministros, a maior parte de sua bancada no Congresso tem atuado alinhada ao Palácio do Planalto. O senador Marcos Rogério (RO), por exemplo, faz parte da tropa de choque governista na CPI da Covid.
Levantamento do Estadão com os 27 deputados do partido, em fevereiro, mostrou que a maioria é simpática às pautas do governo no Congresso e admite apoiar a reeleição de Bolsonaro.
Para se contrapor a esse movimento, dirigentes da sigla planejam aumentar a exposição do ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta, pré-candidato ao Palácio do Planalto por meio de viagens pelo país e participação em lives e outros eventos. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), também tem sido citado na sigla como presidenciável. Já nos estados, pela contabilidade interna, o DEM considera ter boas chances de reeleger seus dois governadores, Ronaldo Caiado (GO) e Mauro Mendes (MT), além de emplacar ACM Neto (BA), Gean Loureiro (SC) e Marcos Rogério (RO). A força eleitoral de Bolsonaro nestes palanques será essencial para a decisão da sigla, mas, por ora, o discurso é não vincular o apoio local à aliança nacional.
A partir das últimas pesquisas de intenção de voto, que apontam larga vantagem para o ex-presidente Lula e a perda de força de Bolsonaro, integrantes do partido acreditam que é possível abocanhar votos de centro-direita entre eleitores do presidente.
Com nomes de centro patinando abaixo de dois dígitos nas mesmas pesquisas (inclusive o de Mandetta), a chamada frente ampla para enfrentar Lula e Bolsonaro parece menos atrativa. "A ideia de frente ampla perdeu espaço para a estratégia de testar diferentes nomes. Em vez de nos unir na largada, vamos unir na chegada com o nome que tiver mais respaldo. A decisão será mais do eleitor do que dos partidos políticos", disse ao Estadão Efraim Filho (PB), líder do DEM na Câmara. "Mandetta está indo bem nas pesquisas qualitativas. É um liberal democrata e da área da saúde", afirmou o ex-ministro Mendonça Filho, que preside a fundação de estudos do DEM.
No ano passado, com Rodrigo Maia à frente da Câmara e Davi Alcolumbre (AP) do Senado, o DEM montou uma espécie de "consórcio" com PSDB e MDB para construir essa "terceira via" de centro. Mas a disputa pela sucessão na Câmara implodiu essas negociações. Candidato de Maia, Baleia Rossi (MDB) acabou derrotado por Arthur Lira (Progressistas-AL). O MDB abandonou esse plano logo após aquela eleição, e as tratativas com o PSDB azedaram de vez na semana passada, com a migração de Garcia para o ninho tucano. Além de ampliar a exposição de Mandetta, o DEM tem se dedicado também a fortalecer seus palanques regionais com candidatos próprios. Nessa linha, já convidou a se filiarem (por enquanto sem sucesso) o governador do Rio, Cláudio Castro (PSL), e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB).