Marielle Franco: vereadora do PSOL foi assassinada junto com seu motorista em 14 de março (Ricardo Moraes/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 6 de junho de 2018 às 16h39.
Rio de Janeiro - Em uma carta endereçada à vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada juntamente com seu motorista Anderson Gomes em 14 de março, o delegado Brenno Carnevale faz um desabafo sobre as precárias condições de trabalho na Divisão de Homicídios da Capital (DH), onde o crime está sendo investigado.
"Diante do caos programado, sinto muito confessar-lhe que a solução do seu caso pressupõe a paralisação de uma infinidade de investigações de outras mortes, pretas e brancas, ricas e pobres, todas covardes. Escolha de Sofia", escreveu.
Carnevale atualmente trabalha na inteligência da Polícia Civil, mas já foi o titular da DH da Baixada e da Capital, posto que ocupou até o ano passado. "Não precisamos de heróis. Mas escrevo-lhe a verdade, Marielle. Poucos se preocupam com as mortes diárias. São muitas as agruras das investigações policiais em homicídios no Rio de Janeiro", escreveu o policial, discorrendo em seguida sobre problemas da divisão.
"As viaturas, por exemplo, estão sucateadas e sem manutenção. A quantidade de investigadores é pífia diante do volume de vidas humanas ceifadas. As escutas telefônicas, quase uma caixa-preta, muitas vezes inacessíveis a alguns delegados. Algumas armas somem, outras não funcionam. Nunca presenciei deputados ou outros poderosos lutando por equipamentos que permitam encontrar evidências em perícias no Instituto Médico-Legal. Aliás, esse mesmo instituto não tem impressora para permitir que uma testemunha seja ouvida imediatamente quando vai liberar o corpo de seu ente querido. Sim, muitos veículos apreendidos ficam abandonados e sem qualquer vigilância. Ouse chamar atenção para este fato e a resposta será sempre a mesma: 'É assim mesmo'."
A Polícia Civil informou que não vai comentar a carta do delegado, uma vez que se trata de um posicionamento pessoal.