Henrique Meirelles, presidente do Banco Central: é preciso esperar efeito de medidas (Antonio Cruz/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 16 de dezembro de 2010 às 11h59.
Brasília - A ata da reunião de dezembro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reforça o entendimento de que é necessário aguardar os efeitos das medidas macroprudenciais adotadas recentemente. O documento, divulgado hoje pelo Banco Central (BC), afirma que, para o Copom, "a depender das circunstâncias, ações macroprudenciais podem preceder ações convencionais de política monetária".
No parágrafo 27, o documento informa que "há certa equivalência entre ações macroprudenciais e ações convencionais de política monetária". Esse vínculo, segundo BC, tende a crescer no Brasil com o crescimento do mercado de crédito observado nos últimos anos. "Entretanto, não há respaldo para que esses dois conjuntos de instrumentos sejam vistos como substitutos perfeitos, pois divergem, entre outros aspectos, no alcance e nos mecanismos de transmissão."
Nesse trecho do documento, os diretores do BC explicam que as ações macroprudenciais recentes fazem parte de um conjunto mais abrangente de medidas que inclui, entre outros objetivos, a reversão dos estímulos adotados para o enfrentamento da crise de 2008 e de 2009. "Junto a outras, constituem sequência de iniciativas que visa adequar as condições financeiras domésticas ao ambiente pós-crise, caracterizado por intenso contraste entre os cenários prospectivos para os principais blocos econômicos", cita o texto.
No dia 3 de dezembro, o BC e o Conselho Monetário Nacional (CMN) anunciaram uma série de medidas macroprudenciais para reduzir a liquidez na economia. As medidas visam dar continuidade à retirada dos incentivos introduzidos durante a crise de 2008 e 2009.
Entre elas estão o aumento do requerimento de capital para operações de crédito a pessoas físicas com prazos superiores a 24 meses e a elevação do compulsório bancário. Com as medidas, o Copom manteve a Selic (a taxa básica de juros da economia) em 10 75% ao ano em sua última reunião, realizada na semana passada.
Piora no cenário de inflação
O Copom admitiu, na ata da reunião de dezembro, que houve piora no cenário de inflação. No parágrafo 25 do documento, os diretores afirmam que "desde a penúltima reunião, a inflação foi forte e negativamente influenciada pela dinâmica dos preços de alimentos". A reunião anterior havia ocorrido nos dias 19 e 20 de outubro. Para o Copom, parte do aumento observado nos alimentos "repercutiu choques de oferta domésticos e externos".
O texto mantém a avaliação de que os aumentos mais fortes observados nas últimas semanas "tendem a ser transmitidos ao cenário prospectivo, entre outros mecanismos, via inércia, como, de resto, apontam as projeções de inflação com as quais o Banco Central trabalha". Nesse trecho, o BC repete a avaliação de que continua a "persistência do descompasso entre as taxas de crescimento da oferta e da demanda”.
Diante do quadro mais pessimista para a inflação, o BC admite que "identifica riscos à concretização de um cenário em que a inflação convirja tempestivamente para o valor central da meta".
Cenários
Os cenários usados pelo BC para projetar a inflação nos próximos meses passa a levar em conta certa acomodação do mercado de crédito. De acordo com a ata da reunião de dezembro, "o cenário base também incorpora moderação no ritmo de expansão do crédito". "Desde a última reunião, houve substancial aumento na probabilidade de concretização dessa hipótese de trabalho, haja vista a introdução de iniciativas macroprudenciais", cita o parágrafo 26 da ata.
Nesse trecho do documento, os diretores do BC observam, porém, que os aumentos de juro adotados em meados deste ano, até julho, "ainda não foram integralmente transmitidos à dinâmica dos preços". Ou seja, a economia ainda sente o aumento de juro adotado há um semestre. Atualmente, a Selic (a taxa básica de juros da economia) está em 10,75% ao ano.
Telefone e luz
O BC prevê que as tarifas de telefonia fixa aumentem 2,9% no ano que vem. Para este ano, a previsão de reajuste das tarifas caiu de 0,8% para 0,4%. No caso da eletricidade, o BC prevê aumento de 2,8% em 2011. Em 2010, a estimativa de reajuste caiu de 3,6% para 2,8%.
Para o conjunto de tarifas públicas - os chamados preços administrados -, o BC reduziu a previsão de aumento em 2011, de 4,3% para 4%. Para 2012, a instituição prevê que esses preços sejam reajustados em 4,4%. Já para 2010, a instituição reduziu a estimativa de reajuste acumulado de 3,6% para 3,4%.
O BC prevê ainda que os preços da gasolina e do gás de cozinha não terão reajuste em 2011. O cenário previsto pela instituição prevê estabilidade de preços para os dois itens no primeiro ano do governo de Dilma Rousseff. Para 2010, porém, a estimativa de aumento de preço da gasolina - que estava em zero - passou para 1,6%. Para o gás, cuja previsão também era de preço estável, a expectativa de reajuste agora é de 1,7% neste ano.
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