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Em artigos, novo ministro criticou isolamento vertical e elogiou Mandetta

Nelson Teich afirmou que não julgará a atuação nem as medidas adotadas pelo antecessor; Bolsonaro confirmou que haverá trocas na equipe de Mandetta

Nelson Teich: "Respeito o ministro Mandetta. É muito difícil julgar uma pessoa depois que aquilo já passou", disse (Gabriela Biló/Estadão Conteúdo)

Nelson Teich: "Respeito o ministro Mandetta. É muito difícil julgar uma pessoa depois que aquilo já passou", disse (Gabriela Biló/Estadão Conteúdo)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 16 de abril de 2020 às 22h56.

Última atualização em 17 de abril de 2020 às 15h05.

O oncologista que será empossado como novo ministro da Saúde, em substituição a Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich já escreveu artigos em que defende o isolamento horizontal, aponta fragilidades do isolamento vertical - modelo defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e elogiou a atuação do agora antecessor.

Em três artigos publicados na plataforma LinkedIn nos dias 18 de março, 24 de março e um 3 de abril, Teich abordou especificamente a questão da pandemia do coronavírus. No primeiro, o médico faz uma defesa da telemedicina. É nesse artigo inicial em que consta o elogio à atuação do Mandetta frente à crise.

"Impossível falar sobre o problema da covid-19 no Brasil e não comentar a atuação brilhante do Ministro Luiz Henrique Mandetta. Excepcional condução, tranquilidade, equilíbrio, eficiência e enorme capacidade de comunicar de forma clara com a sociedade", escreveu.

No segundo artigo, ele defende a necessidade de se conseguir o máximo de informações possível sobre a doença, para "rever diariamente a realidade, os cenários, as projeções e as ações". Esse segundo texto traz as ideias mais alinhadas às que Bolsonaro têm defendido publicamente, incluindo a necessidade de projeções sobre o coronavírus levarem em consideração "o impacto de uma crise econômica nos níveis de saúde e mortalidade da população".

Sobre a necessidade de se olhar a crise pelo aspecto econômico ou da saúde, ele afirmou: "Não me coloco aqui como alguém que defende um lado ou outro, na verdade é o oposto, não pode existir lado".

Em seu texto mais recente sobre o tema, ele se coloca explicitamente em favor da adoção do isolamento horizontal, "onde toda a população que não executa atividades essenciais precisa seguir medidas de distanciamento social, é a melhor estratégia no momento". O médico ainda aponta fragilidades do isolamento vertical, defendido pelo presidente, em que apenas pessoas de grupos de risco ficam em casa.

"Sendo real a informação que a maioria das transmissões acontecem à partir de pessoas sem sintomas, se deixarmos as pessoas com maior risco de morte pela covid-19 em casa e liberarmos aqueles com menor risco para o trabalho, com o passar do tempo teríamos pessoas assintomáticas transmitindo a doença para as famílias, para as pessoas de alto risco que foram isoladas e ficaram em casa", explicou.

"O ideal seria um isolamento estratégico ou inteligente. Vamos falar sobre isso mais à frente", prometeu.

Não vou julgar o que foi feito por Mandetta

Embora tenha sido escolhido por causa da insatisfação do presidente Jair Bolsonaro com Luiz Henrique Mandetta, o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, afirmou que não julgará a atuação nem as medidas adotadas pelo antecessor. Em entrevista à Record TV na noite desta quinta-feira, 16, disse que agradecerá tudo o que puder aproveitar em sua gestão.

"Não vou comentar sobre o ministro Mandetta. Respeito o ministro Mandetta. É muito difícil julgar uma pessoa depois que aquilo já passou", afirmou. "Uma coisa tem que ficar muito clara: eu não vou julgar o que foi feito antes de eu entrar. Vou julgar o que tenho que fazer daqui para frente. Sou daqui para frente. Vou respeitar o para trás e vou agradecer tudo o que a gente puder aproveitar para o que a gente for fazer daqui pra frente".

Teich também evitou criticar frontalmente a estratégia de isolamento social amplo para conter o avanço da covid-19 no Brasil. Para o médico, qualquer modalidade de isolamento, ainda que apenas de pessoas de grupos de risco, deve levar em conta uma série de questões complementares. Na avaliação do novo ministro, o debate entre uma e outra estava sendo "superficial".

"O que tenho colocado é que discussões genéricas, tipo o vertical, o horizontal, são muito superficiais. O fundamental seria que você tentasse entender, por exemplo, quantos por cento da população estão infectados, quantos estão imunizados, quanto é a transmissibilidade dessa doença. Se não tem isso, a discussão sobre o tipo de isolamento é mais uma discussão emocional, é uma discussão de opiniões", disse.

Questionado sobre o que mudará de imediato ao ser oficializado ministro, respondeu que ainda precisa se ambientar. "Tenho que entender o que está acontecendo, tenho que entender o que foi feito, entender o que já existe hoje tanto na Saúde quanto fora da Saúde, nos ministérios. A partir daí vou fazer um diagnóstico e a partir daí vou definir políticas e ações", frisou.

Perfil

Nelson Luiz Sperle Teich é médico oncologista, formado em Medicina pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e especialista em oncologia pelo Instituto Nacional do Câncer. Fundou e presidiu o Grupo Clínicas Oncológicas Integradas (COI) entre 1990 e 2018.

Na campanha de Bolsonaro à Presidência em 2018, atuou como consultor da área da saúde. Chegou a ser cotado ao Ministério da Saúde à época. Atualmente é sócio da Teich Health Care, uma consultoria de serviços médicos.

Na entrevista que marcou sua despedida da pasta, Mandetta definiu o sucessor como um bom pesquisador, embora não conheça o SUS. Teich tem o apoio da classe médica e mantém boa relação com empresários do setor da saúde.

Bolsonaro avisa que vai indicar nomes na equipe de novo ministro da Saúde

O presidente da República, Jair Bolsonaro, decidiu interferir na composição da nova equipe do Ministério da Saúde. O presidente afirmou nesta quinta-feira, dia 16, que indicará nomes ao novo ministro, nomeado para substituir  Mandetta.

"Ele (Teich) vai nomear boas pessoas, eu vou indicar algumas pessoas também, porque é um ministério muito grande. Foram sugeridos nomes sim, para começar a formar um ministério que siga a orientação do presidente de ver o problema como um todo e não uma questão no particular", afirmou o presidente, na portaria do Palácio da Alvorada.

A interferência direta do presidente é uma mudança em relação à autonomia que Bolsonaro deu a Mandetta. O agora ex-ministro sempre ressaltou que compôs a equipe com nomes majoritariamente técnicos, aos quais deu também protagonismo nas ações de combate à pandemia do novo coronavírus. Havia na equipe também políticos de carreira na assessoria de ministro, como os ex-deputados José Carlos Aleluia e Abelardo Lupion, ambos do Democratas.

Bolsonaro confirmou que haverá trocas de boa parte da equipe montada por Mandetta, mas elogiou os quadros e afirmou que haverá colaboração na transição.

"A gente troca para não continuar a mesma coisa. Foi uma conversa muito saudável com o Mandetta, ele vai colaborar em tudo, tenho só a agradecê-lo", afirmou. "O ministério começa a receber gente nova já amanhã. Não estamos com pressa de demitir, não. O ministério é dele (Teich), nosso, do Brasil, alguns nomes serão trocados com toda certeza. Muita gente vai sair com Mandetta, eles falaram na entrevista 'chegamos juntos e saímos juntos'. Tem gente excepcional naquele ministério".

O presidente não quis dizer quem vai indicar. Ele hesitou, por exemplo, quando foi questionado especificamente sobre o deputado e ex-ministro Osmar Terra (MDB-RS), que foi cotado para o cargo de ministro e faz uma defesa enfática nas redes sociais das opiniões do presidente, contrárias ao que vem sendo recomendado pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

"Gosto muito dele, quase todo dia converso com ele. Opiniões do Osmar Terra são muito parecidas com a minha, se bem que ele é médico. Ele é uma pessoa aí que entende do assunto, espero que ele esteja certo, mas nos traz muita paz e tranquilidade", disse Bolsonaro.

Bolsonaro destacou que o novo ministro está alinhado ao seu pensamento e, segundo ele, também defende a ampliação do uso de medicamentos à base de cloroquina e hidroxicloroquina para tratar pacientes infectados pelo novo coronavírus. Ele disse que Teich estava emocionalmente abalado no primeiro pronunciamento oficial, por estar assumindo o cargo no meio da pandemia. "O novo ministro pensa da mesma maneira que eu em muita coisa", disse Bolsonaro.

Ele afirmou que muitos médicos com quem mantém contato compartilham a opinião favorável a receitar o medicamento e minimizou riscos colaterais. "Pode ser que a cloroquina não dê certo, mas não temos outra alternativa no momento. E outra, não tem esse efeito colateral todo como alguns dizem", disse, com a ressalva de que sua opinião é de leigo."Administrado com receita médica não tem efeito colateral. "Não é uma imposição de minha parte, mas sim um tratamento que pode ser eficaz".

Bolsonaro, sobre Mandetta: Ponto que não afinava era a preocupação com o emprego

Em sua transmissão de vídeo ao vivo no Facebook, Bolsonaro disse que a demissão de Luiz Henrique Mandetta do cargo de ministro da Saúde aconteceu porque o agora ex-ministro não demonstrava suficiente preocupação "com a questão do emprego". Bolsonaro referiu-se a si mesmo na terceira pessoa, como "o presidente".

"Tive uma conversa de quase meia hora com o Dr. Mandetta, conversamos bastante sobre a deixada do ministério da Saúde. Agradeci bastante. O ponto que realmente não afinava com a ideia do presidente era a preocupação com a questão, também, do emprego no Brasil", explicou Bolsonaro, tendo ao seu lado o novo ministro da Saúde, Nelson Teich. Segundo Bolsonaro, o ex-ministro tinha um olhar voltado "quase que exclusivamente para a questão da vida, que nós sabemos que é importante, mas sabemos também que o efeito colateral de uma quarentena muito rígida seria levar a economia a um ponto de não poder se recuperar mais".

Bolsonaro disse que as restrições à mobilidade causadas pela quarentena "também levam à morte. Existe a preocupação com o vírus, mas, por outro lado, devemos cuidar para que o emprego não continue sendo destruído por uma política, no meu entendimento, um tanto quanto rigorosa", argumentou.

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