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Mandetta: se não fizermos nada no sistema de saúde, vamos colher colapso

O ministro disse que pretende atuar para tentar evitar esse provável cenário; número de casos de coronavírus no Brasil segue aumentando

Hospitais: número de casos de coronavírus no Brasil tem aumentado e governo tem receio sobre sistema de saúde do país (NurPhoto/Getty Images)

Hospitais: número de casos de coronavírus no Brasil tem aumentado e governo tem receio sobre sistema de saúde do país (NurPhoto/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 20 de março de 2020 às 18h15.

Última atualização em 20 de março de 2020 às 19h01.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que o Sistema Único de Saúde (SUS) têm tumultos e pontos de problema, mas não está em colapso, e que o governo está atuando de forma a preparar a rede para o crescimento dos casos confirmados da covid-19.

"Nós temos muitas forças. Se nós não fizéssemos nada, se não aumentássemos a nossa capacidade instalada, se nós ficássemos parados, olhando, nós teríamos um mega problema, porque esse sistema, do jeito que ele vem, sem fazer nada, você colhe um colapso", afirmou, em entrevista coletiva concedida no Palácio do Planalto, ao lado do presidente Jair Bolsonaro. "Nosso sistema ainda aguentaria, mesmo com a capacidade instalada normal, por volta de 30 dias."

Mandetta teve que fazer o esclarecimento após ter dito, mais cedo, que o sistema entraria em colapso até o fim de abril em razão da pandemia do novo coronavírus. "Claramente, em final de abril nosso sistema de saúde entra em colapso. Colapso é quando você tem dinheiro, mas não tem onde entrar (nos hospitais)", afirmou.

Na entrevista concedida há pouco, Mandetta disse que problemas nos sistemas de saúde, como emergências superlotadas, existem no mundo todo. Ele afirmou que o SUS é forte, tem capilaridade nacional e conta com 46 mil equipes de saúde de família, que atendem milhões de brasileiros. "Teve gente que falou que o SUS está sempre em colapso, gente que diminui nosso sistema de saúde", disse, em defesa do SUS.

O ministro disse que o governo está trabalhando duro para ampliar leitos e centros de tratamento intensivo em diversas cidades. "A Itália não teve tempo de fazer, mas estamos ampliando semana a semana. O sistema pode inflar, crescer, temos espaço, mas precisamos garantir equipamentos, luvas", disse.

O ministro ressaltou ainda que a Itália, um país de primeiro mundo e que tem um sistema de saúde mais organizado que o brasileiro, suportou a pandemia por um tempo muito baixo devido à grande quantidade de idosos no país.

Nesse sentido, o ministro manifestou preocupação com o Estado do Rio Grande do Sul, que também tem alto índice de população idosa enquanto no Amazonas a população é mais jovem e também tem menos casos. "Somos um continente", disse, ressaltando que as medidas devem ser coordenadas em todo o País.

Cloroquina

O ministro também afirmou que o país "já validou" e está fornecendo a cloroquina, medicamento que mostrou resultados promissores em testes para tratamento contra a covid-19, para pacientes mais graves.

"Já validamos, temos capacidade de produção, já estamos produzindo e está na prateleira dos pacientes graves", disse.

O medicamento é registrado no Brasil para tratamento de artrite, lúpus e malária. Em nota, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que, apesar dos resultados dos testes em relação a nova doença, "não existem estudos conclusivos que comprovam o uso desses medicamentos para o tratamento".

Mandetta explicou ainda que 700 mil médicos devem ser convocados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) pediu que os 2 mil médicos voluntários se apresentem ao aos conselhos regionais para serem convocados.

"Estamos em todos os Estados com crescimento igual (do coronavírus) e isso nos preocupa, porque podemos ter uma epidemia em paralelo."

Com o crescimento de casos de novo coronavírus no Brasil, o governo federal tem discutido os cenários para enfrentar a epidemia com a indústria de produtos para saúde.

Na projeção mais pessimista, com quadro similar ao que ocorre na Itália, a ideia é instalar até 20 mil novos leitos para atender pacientes do vírus. O número foi apresentado em reuniões recentes do Ministério da Saúde e do gabinete de crise instalado no Planalto.

O governo e o setor de saúde têm tentado encontrar soluções para montar estas estruturas. Até agora, o governo só anunciou a contratação de equipamentos para montar 2 mil leitos. Os Estados também têm aberto espaços por conta própria.

Nesta sexta-feira, 20, o ministério publicou portaria para custear -- diária de R$ 800 -- 2.540 leitos, que são a soma do previsto até aqui pelo governo Bolsonaro e o já instalado pelos governadores.

Os leitos de UTI funcionam com cama, monitor multiparamétrico (para medir sinais vitais), bomba de infusão, oxímetro de pulso e respirador, entre outros produtos. Para chegar ao número máximo de leitos, o governo já avalia usar hospitais de campanha e até requisitar espaços da rede privada.

Mais recursos

O presidente Jair Bolsonaro anunciou a liberação imediata de R$ 8 bilhões em emendas parlamentares individuais e de bancada para a área da saúde. A decisão foi tomada em meio à pandemia do novo coronavírus.

"Em comum acordo, os parlamentares abriram mão de R$ 8 bilhões [de emendas] individuais e de bancada. Recurso esse que vai diretamente para o Ministério da Saúde, para que dessa forma medidas sejam tomadas no combate ao vírus", disse o presidente.

Líder do governo no Congresso, o senador Eduardo Gomes (MDB-TO) explicou que os recursos que seriam liberados ao longo do ano serão liberados de uma vez só.

"Ele iria liberar até o fim do ano. A crise é agora. Não adianta ter uma liberação de uma emenda no final do ano para a saúde para comprar um respirador. Você precisa de um respirador agora. O movimento é esse", exemplificou Gomes.

"Os recursos serão priorizados e liberados agora. São recursos de emendas individuais e de bancada", emendou.

Durante o anúncio, Bolsonaro afirmou que os parlamentares estavam, em comum acordo, "abrindo mão" de suas emendas. Mas um deputado aliado explicou que não se trata de abrir mão de emendas, mas de uma antecipação do pagamento de emendas cujos beneficiários, da área da saúde, já foram indicados pelos parlamentares.

Em sua fala, o presidente defendeu que a "economia não pode parar" e voltou a ver exagero em medidas de restrição de circulação de pessoas adotadas por governadores.

"O Brasil precisa continuar se movimentando, mexendo com a sua economia, senão a catástrofe se aproximará de verdade", afirmou.

Bolsonaro lembrou que fechamento de aeroportos, como o anunciado pelo governador fluminense Wilson Witzel, é uma prerrogativa do governo federal.

"Estamos acertando para que um estado não haja diferente dos outros e que não bote em colapso o setor produtivo. Não adianta produzir em um lugar e você não ter onde entregar no outro", disse o presidente.

Economia

Bolsonaro lembrou que o Brasil tem mais de 11 milhões de desempregados e que esse contingente de pessoas sem trabalho aumentará. "Esse número vai crescer, mas se crescer muito, outros problemas colaterais surgirão. E, com toda a certeza, o mal que pode ocasionar esse congestionamento, pode ser até maior do que do vírus", disse.

O ministro da Saúde também destacou a necessidade de avaliar os impactos das medidas de restrição de circulação na economia. Ele defendeu que decisões sobre fechamento de aeroportos ou rodovias sejam tomadas pelo governo federal, de forma "centralizada".

Segundo o ministro, uma reunião ainda nesta sexta dará uma posição a Bolsonaro sobre a possibilidade de decidir centralizar as decisões sobre linhas de transportes.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Paulo Skaf, que participou por vídeo da reunião, afirmou que o Brasil enfrenta duas crises, uma de saúde e outra econômica, e defendeu que a crise de saúde é a prioridade do momento.

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